18 Setembro 2019
Internet e as plataformas digitais estão agora tão difundidas que "é virtualmente impossível imaginar um mundo que não esteja online". O episcopado da Austrália publicou um documento substancial sobre o tema (Making it real. Genuine human encounter in our digital world), onde reflete sobre as relações humanas na era das mídias sociais. Sobre as oportunidades e os riscos da web e sobre a necessidade de construir comunidades vivas, que testemunham concretamente o Evangelho e "pessoalmente" todos os dias.
A reportagem é de Sarah Numico, publicada por Agência SIR, 12-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
É possível criar "encontros autênticos" entre pessoas no mundo digital. Porém é preciso que todos, usuários de mídias sociais, líderes políticos, empresas, responsáveis comunitários "façam mais". Foi o que os bispos australianos que escreveram e acabaram de publicar um documento inteiramente dedicado a refletir sobre como "tornar reais" os encontros humanos que hoje nascem e crescem cada vez mais no mundo virtual (Making it real. Genuine human encounter in our digital world; aqui o texto original em inglês).
Aquela passagem do Evangelho de Lucas, onde Jesus é questionado por um doutor da lei sobre como ter a vida eterna, é reproposta como se Jesus estivesse respondendo às perguntas de um de seus contatos do WhatsApp: ou seja, a mensagem de Jesus permanece válida também na era digital. Da mesma forma que permanece válida sua indicação que o amor ao próximo é a lei fundamental do cristão, onde quer que ele seja encontrado, mesmo nas mídias sociais.
Internet e plataformas digitais são tão difundidos que "é virtualmente impossível imaginar um mundo que não esteja online", escrevem os bispos e listam os "imensos benefícios" que isso acarreta. No entanto, eles também alertam contra "solidão, manipulação, exploração e violência", que naqueles espaços virtuais concretamente encontram abrigo virtuais em detrimento da dignidade humana.
Se a maneira como interagimos em nível pessoal foi transformada, também foi revolucionada a maneira como interagimos com o estado e nos beneficiamos dos serviços. O "e-qualquer coisa" (como e-commerce, e-health, e-service, e-work) abriu novas possibilidades, mas ao mesmo tempo criou espaços para novas exclusões em relação àqueles que não estão "nas condições", não podem se permitir , não estão aptos" a usar as tecnologias digitais (aborígenes, pobres, deficientes ... na lista de bispos australianos).
Justamente aqueles que mais precisam faltam à chamada da conexão digital e "as divisões sociais se replicam online". E como "os serviços essenciais estão cada vez mais on-line, a inclusão digital se torna indispensável para a participação social mais essencial", a tal ponto que "deve ser considerado um direito humano".
"A exclusão digital não é apenas uma questão meramente técnica", mas também "moral e social". Porque "a questão fundamental é se escolhemos usar a tecnologia digital para tornar os seres humanos do outro lado de nossos dispositivos sem rosto, sem nome e sem alma ou se escolhemos autenticamente encontrar e respeitar sua humanidade e a nossa".
No entanto, existe também uma série de problemas relacionados às próprias plataformas e que os bispos levantam: da questão da montanha de dados pessoais oferecidos aos "crocodilos digitais", sua exploração em benefício econômico das grandes plataformas, a questões relacionadas à informação e a divulgação de notícias falsas ou manipuladas.
Então devemos agir. E o documento dos bispos australianos propõe uma série de linhas de ação ou recomendações. Começa-se com o que os usuários individuais podem fazer: tratar os outros com respeito, de acordo com o ditado "coloque nas contas alheias o que você gostaria que outros publicassem nas suas"; estar com os outros e limitar o tempo que se passa conectados sozinhos no celular; agir contra os excessos, os abusos e a violência on-line que se testemunha ou da qual se toma conhecimento.
Quanto às comunidades, a recomendação é que se dediquem à promoção da alfabetização digital ou que se comprometam concreta e "pessoalmente" em batalhas sociais e políticas de sensibilização e ativismo. Em vez disso, solicita-se aos líderes políticos e corporativos que exijam "regras" sobre a coleta e o uso de dados pessoais, transparência e responsabilidade, adesão à verdade e honestidade quando, por exemplo, se trata da divulgação de notícias e informações.
A Igreja também tem tarefas e responsabilidades, como defender "relações autenticamente humanas que reconheçam a dignidade do outro, feito à imagem e semelhança de Deus"; combater a deriva da cidade-comunidade para cidade-coleções de indivíduos; continuar a viver a concretude da encarnação e da experiência de fé que marca o cristianismo, sendo "bons samaritanos" com cada irmão ou irmã ferido, excluído, em dificuldade nas ruas das nossas cidades e do mundo virtual.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
‘Inclusão digital’ como direito humano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU