17 Setembro 2019
Os viri probati? "Na Amazônia são uma exigência". Para Dom Rafael Cob, bispo do Vicariato de Puyo - um dos oito vicariatos da província amazônica do Equador - as polêmicas na Europa e nos Estados Unidos sobre o Sínodo de 6 a 27 de outubro não passam de conversas. Diante de seus olhos, o pastor espanhol, originário de Burgos, desde 1998 no Equador, tem as problemáticas, muito mais complexas, que vivem as comunidades rurais relegadas a regiões de difícil acesso. Áreas do mundo em que, devido à falta de sacerdotes, os fiéis celebram apenas uma missa por ano (Semana Santa, Páscoa ou Natal) com um padre ou, pior, precisam enfrentar viagens de duas horas e meia, de barco, para receber comunhão.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por La Stampa, 16-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"A ausência de sacerdotes exige repensar o caminho da evangelização na Amazônia", explica Cob ao Vatican Insider e aos outros jornalistas convidados a Quito, Equador, pelo Repam em vista do Sínodo. Sínodo que tem como título "Novos caminhos para a Igreja": "Gostaria de saber se essas novas formas se refletirão sobre toda a Igreja - ele diz. O que está claro é que resultará desse Sínodo uma Igreja mais ministerial e menos clerical. Devemos começar pela vocação cristã do batismo. Leigos, religiosos e sacerdotes formam um só corpo e uma só família".
Em particular, sob a proposta dos "viri probati", ou seja, a ordenação de homens casados já de certa idade e de fé comprovada que possam distribuir os sacramentos, o bispo amazônico tem um ponto de vista claro: "Precisamos pensar em novas maneiras de responder a novos desafios". "Nessas terras - ele explica – falta o recurso humano, faltam padres e é restrito o número de missionários dispostos a se estabilizar nessas áreas tão remotas. Também é difícil que nasçam novas vocações, isso já aconteceu no passado, mas é muito raro. Além disso, nem todos os candidatos ao sacerdócio estão dispostos a aderir à norma do celibato. Não é algo que os povos indígenas entendam”.
Portanto, enfatiza o bispo, "devemos contemplar possibilidades avaliando os elementos presentes, dando respostas criativas". A dos viri probati - uma proposta contida no Instrumentum laboris publicada em junho (onde tal expressão, no entanto, nunca aparece) - não seria, aliás, nem mesmo uma novidade: “O celibato para os sacerdotes do rito latino não era obrigatório antes do Concílio de Niceia do século IV, quando a Igreja decidiu que o celibato "era conveniente" para que os padre pudessem viver melhor sua vocação. Isso não significa, no entanto, que não houvesse outras alternativas", lembra Cob.
Dom Rafael Cob, bispo do Vicariato de Puyo (Foto: La Stampa)
Os possíveis candidatos a tais papéis - explica ele - seriam idosos, casados, respeitados pela comunidade da qual de alguma forma representam "os pais", presidindo as celebrações da Palavra, acompanhando as famílias e os jovens, coordenando a pastoral. Em essência, desempenhando o papel de párocos.
Seria, portanto, uma questão de endossar uma situação já existente. Não está em jogo a abolição do celibato sacerdotal: "Não se trata disso", diz Monsenhor Cob. "É um discurso relativo a uma realidade concreta como a da Amazônia, que tem uma situação geográfica complicada. Depois, é claro, podem surgir respostas para a Igreja em todo o mundo”.
Mas isso poderia ser um pretexto para dar origem a um cisma? O bispo sorri: “O próprio Papa disse que poderia ocorrer um cisma e que isso não o preocupa. O que nos preocupa, de fato, não é que exista um pequeno grupo que não queira o que o Papa quer, mas conseguir fazer da melhor forma o que a Igreja precisa neste momento. Em particular a Igreja da Amazônia”.
Mapa do Equador (Foto: Wikipédia)
E a Igreja da Amazônia hoje precisa de mulheres. Esse é o tema que mais motiva o vigário de Puyo: "Não podemos confiar apenas tarefas e serviços às mulheres, devemos dar-lhes o apoio institucional que elas merecem", observa. Por exemplo? “Uma mulher como administradora da paróquia ... No Chile, isso já aconteceu. Ministérios como a Eucaristia ou a palavra são vistos como exclusivos. Canonicamente, apenas os ministérios masculinos poderiam ser conferidos, mas há mulheres que são ministras extraordinárias da Eucaristia. Por que não tornar isso comum?"
"O papel da mulher é muito importante - o bispo insiste - e será um tema fundamental durante o Sínodo. As mulheres têm estado na linha de frente da evangelização. Portanto, como somos uma Igreja sinodal, devemos caminhar juntos, precisamos saber ouvir e construir juntos".
Por fim, Monsenhor Rafael Cob expressa sua gratidão ao Papa Francisco pelo "espírito profético" com o qual lançou esse Sínodo Amazônico, que será "um encontro histórico na Igreja". "O Papa dá impulso à Igreja, ele não apenas diz o que pensa, mas pede que seja feito". E o que importa ao Pontífice é aquela "ecologia integral", que "é parte importante da missão da Igreja", afirma o vigário de Puyo. O que conclui com a esperança de que, primeiro e sobretudo depois do Sínodo, "possamos ter uma tripla conversão: ecológica, pessoal e pastoral".
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Viri probati, o bispo amazônico Cob: uma exigência nestas terras onde os fiéis celebram uma missa por ano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU