13 Setembro 2019
Jean-Claude Hollerich, 59, arcebispo do Luxemburgo, é o novo presidente da Comissão Episcopal da União Europeia, COMECE. Os bispos o elegeram em 8 de setembro em sua assembleia plenária da primavera, pelos próximos cinco anos. Sucede ao cardeal de Munique, Reinhard Marx (64), que não pode mais ser reeleito após dois mandatos.
A entrevista é de Antonio Dall'Osto (editor), publicada por Settimana News, 12-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Hollerich nasceu em 9 de agosto de 1958 em Differdange, Luxemburgo. Ele estudou teologia em Roma e ingressou na Companhia de Jesus em 1981. Após o noviciado na Bélgica, em Namur, e dois anos de atividade pastoral, continuou seus estudos teológicos de 1985 a 1989 em Tóquio e Frankfurt. Em 1994, tornou-se professor de estudos alemães, franceses e europeus na Universidade Sophia dos Jesuítas, em Tóquio, onde também atuou como pároco na paróquia alemã local. Em 2011, sucedeu a Mons. Fernand Franck, como arcebispo do Luxemburgo. No consistório de 5 de outubro, ele receberá o barrete cardinalício do papa Francisco.
Sua nomeação como presidente da Comissão Episcopal da COMECE coincide com a eleição da nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que começará oficialmente seu serviço em 1º de novembro. A agência alemã da KNA aproveitou a ocasião para encaminhar algumas perguntas, através de Franziska Broich, sobre tópicos que, na sua opinião, deveriam estar no topo da agenda da nova Comissão Europeia.
Senhor arcebispo, a futura presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem potencial para restaurar a ordem na UE?
Acredito que ela seja a pessoa certa, porque pode contar com as maiorias. Em sua eleição, vimos que votaram nela alguns políticos que não são necessariamente cem por cento da sua mesma linha. Isso é positivo. É realmente necessário alguém que consiga estabelecer compromissos.
Quais seus votos para ela?
Que ela tenha muita paciência. Provavelmente precisará entender como os governos se movem. Nesse âmbito, os interesses nacionais são muito fortes e muitas vezes não são considerados na dimensão europeia.
O que espera da nova Comissão Europeia?
Eu ficaria muito feliz se a senhora von der Leyen conseguisse montar uma Comissão realmente composta meio a meio por mulheres (algo que ocorreu, ndt). Poderia, assim, provar que a UE não é um clube onde as pessoas apenas falam muito, mas também onde agem. A nova Comissão deve trabalhar para o bem dos povos. As pessoas devem perceber que a UE existe para isso - para que não haja mais espaço para o populismo.
Quais os temas que deveriam, portanto, ser priorizados na agenda da nova Comissão?
A justiça social, a luta contra o desemprego e a pobreza, bem como proteção ambiental. A mudança climática é um dos nossos maiores problemas. Acho maravilhoso que os jovens participem dos eventos "Friday for Future" (sextas-feiras para o futuro o grande movimento estudantil, nascido em resposta ao ativismo de Greta, ndt). Se a política não responde adequadamente, temos essa força explosiva em nossas democracias e a indignação dos jovens!
Como vê a situação no Mediterrâneo? Alguns navios de resgate com refugiados a bordo devem esperar muitos dias antes de poder atracar.
Nos últimos dias, recebi muitas notícias e inúmeras fotos do navio de resgate "Mare Jonio". Podem ser vistas pessoas que na Líbia foram espancadas e torturadas. Isso é claramente anticristão e até desumano. Aqui a Europa perde sua alma. Os centros na Líbia não devem mais existir dessa maneira. Não podemos aceitar que pessoas sejam escravizadas. Evidentemente, será difícil alcançar uma distribuição de refugiados entre todos os estados da UE. Mas se pode formar "uma coalizão dos que estão disponíveis". De qualquer forma, devemos pôr um fim ao que está acontecendo na Itália.
Como a Igreja pode reforçar seus interesses na UE de maneira mais decisiva?
Deve conversar com os políticos dos diferentes partidos e construir alianças em vários temas. Às vezes eu sou apresentado como o principal lobista da Igreja Católica - mas nós falamos em nome dos fracos, daqueles que não têm voz. Não somos lobistas, mas advogados. E como cristãos, agimos juntos.
Representamos não apenas posições da Igreja Católica, mas trabalhamos em estreita colaboração com nosso parceiro evangélico da Conferência das Igrejas Europeias (CEC). Nosso objetivo como cristãos é fazer com que os cidadãos da Europa e os pobres deste mundo se tornem vencedores.
O Tratado de Lisboa de 2009 previa um intercâmbio regular entre as Igrejas e as instituições da UE. Essa troca, depois de dez anos, deveria ser revista?
Não seria algo ruim - mas deveria acontecer com diálogo. Neste momento, certamente seria equivocado apresentar grandes demandas à Comissão Europeia. O diálogo com a Comissão Junker funcionou muito bem - em todos os níveis. Gostaria no futuro de enfrentar esse diálogo de uma maneira um pouco mais ecumênica.
A nomeação como cardeal mudará o seu trabalho?
Eu continuo a ser o mesmo de antes. Espero continuar a converter-me ao Evangelho. O título certamente confere mais peso aos encontros com os políticos e com as conferências episcopais. Agradeço calorosamente ao Papa, que considera tão importante a COMECE a ponto de nomear cardeal o seu presidente.
A COMECE foi criada em 1990, um ano após as primeiras eleições diretas para o Parlamento Europeu. Representa as conferências episcopais dos 28 estados da União Europeia. A abreviação, do latim, representa Commissio Episcopatum Communitatis Europensis. Possui um secretariado permanente com sede em Bruxelas. O atual secretário geral é, desde 2016, o francês Olivier Poquillon, 51 anos. A Comissão, que será presidida agora pelo novo cardeal Jean-Claude Hollerich, é assistida por quatro vice-presidentes: Franz-Josef Overbeck (alemão), Noel Treanor (irlandês), Mariano Crociata (italiano) e Jan Vokal (tcheco).
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"Os centros na Líbia não devem mais existir dessa maneira. Não podemos aceitar que pessoas sejam escravizadas", defende Hollerich, novo presidente da Comissão Episcopal da União Europeia - COMECE e cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU