29 Agosto 2019
Enquanto as chamas continuam devorando a floresta (a fumaça chegou ao Uruguai e à Argentina), os bispos brasileiros da Amazônia decidiram se reunir de hoje até 30 de agosto em Belém, capital do estado do Pará, tanto para responder à emergência de incêndios quanto para preparar o sínodo para a Amazônia, que se realizará em outubro no Vaticano. A assembleia é promovida pela Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da Igreja brasileira, em conjunto com a Rede Eclesial Pan-Amazônica do Brasil e a Região Norte 2 da Conferência Episcopal. Participam os bispos dos 56 distritos eclesiásticos do território amazônico brasileiro.
A reportagem é publicada por L'Osservatore Romano, 28 e 29-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos últimos dias o episcopado já havia se manifestado através de uma mensagem em que foi considerado "urgente que os governos dos países amazônicos, especialmente o Brasil, tomem medidas sérias para salvar uma região chave no equilíbrio ecológico do planeta". Após uma série de "mal-entendidos e escolhas erradas", afirmam os prelados, é necessária uma grande sensibilização diante da "gravidade da tragédia e de outras situações irracionais e gananciosas, com grandes impactos locais e planetários". Somente no último sábado foi iniciado o plano do governo para apagar os incêndios com a mobilização de mais de 44.000 soldados auxiliados por meios aéreos, fluviais e terrestres. E no contexto das 72.000 queimadas deste ano (+84% em relação a 2018) continua premente a ameaça do desmatamento, usada para conseguir novas terras cultiváveis. O Mato Grosso, onde mais de 45.000 focos de incêndio foram registrados, é a região mais afetada. "Se esse compromisso não for assumido - é o aviso - todos sofrerão perdas irreparáveis". O povo brasileiro, os seus representantes e os seus servidores, afirma a presidência do episcopado, são "os primeiros responsáveis pela tutela e a proteção de toda a região amazônica".
Mas todos os bispos sul-americanos levantam suas vozes: A nossa casa comum está em chamas é o título do documento publicado pela Igreja boliviana na conclusão da recente assembleia pré-sinodal dedicada à Amazônia. No texto, os bispos dizem que estão "consternados, indignados e quase impotentes" diante dos incêndios no país, especialmente nas áreas orientais da Chiquitanía e de Chaco. "Cerca de um milhão de hectares da nossa floresta amazônica é consumida pelas chamas dos incêndios; os danos são enormes, ainda incalculáveis e afetam a saúde humana, as formas de vida das comunidades indígenas, a biodiversidade, os recursos ambientais", ressaltam acusando que "essa catástrofe é o resultado da ação humana".
A declaração menciona, entre outras coisas, o recente decreto 3973 do governo de Evo Morales, que em julho passado autorizou "incêndios controlados" de terras, para favorecer o avanço dos espaços de criação, dando mais impulso aos incêndios ilegais. Apesar da orientação do governo, os participantes da assembleia afirmam que mesmo em seu país a "lógica dominante" do "capitalismo tecnocrático e agressivo com sua irmã mãe terra e de um modelo de desenvolvimento consumista e saqueador da natureza, que se manifesta em grandes projetos hidrelétricos e de exploração de hidrocarbonetos, na expansão de áreas agrícolas, na construção de estradas com forte impacto ambiental e na antiga lógica extrativista”. Escolhas que "atentam contra os direitos dos povos indígenas". O documento do episcopado boliviano conclui anunciando que a Igreja pretende "unir-se em solidariedade", também com ajudas materiais e doações às populações envolvidas nos incêndios, enquanto é solicitado que o governo aloque recursos para extinguir os incêndios e evitar que as chamas se propaguem.
Nesse contexto, o papel do próximo Sínodo dos Bispos na Amazônia, programado para outubro, representa "um sinal de esperança e uma fonte de importantes indicações quanto ao dever de preservar a vida, começando pelo respeito à criação. Juntos construímos - concluem - uma nova ordem social e política, à luz dos valores do Evangelho de Jesus, para o bem da humanidade, da Pan-amazônia, da sociedade brasileira, em particular dos pobres desta terra”.
O apelo pela proteção da floresta também foi lançado pelos bispos peruanos em reunião plenária até ontem: "Estamos preocupados com a Amazônia, fonte de vida que inclui dois terços do território nacional", dizem os prelados, esperando que o sínodo de outubro no Vaticano "dê importantes contribuições para descobrir novos caminhos para uma ecologia integral".
Também os bispos argentinos e paraguaios intervieram no debate, apoiando as posições recentemente adotadas pelo Conselho Episcopal da América Latina e expressando proximidade às populações atingidas pelas devastações dos incêndios que, segundo os bispos, estão causando danos de dimensões planetárias. Em particular, os bispos do Paraguai lembram o peso que a cultura do lixo tem em nosso planeta: "Acreditamos - concluem em uma nota - como as autoridades do Celam, que a unidade e a solidariedade dos governos dos países amazônicos, especialmente do Brasil e da Bolívia, das Nações Unidas e da comunidade internacional devem tomar medidas urgentes para salvar o pulmão do mundo".
Por fim, do México, a Comissão para a pastoral social da Conferência episcopal pede "para unir os esforços" e destaca como o desastre na Amazônia nos lembra "que nosso território está em perigo, porque em nossa casa comum tudo está interconectado". Disso resulta um apelo sincero ao mundo inteiro para "corrigir atitudes egoístas e destrutivas" ligadas ao modelo tecnocrático.
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O episcopado brasileiro reunido em Belém. Alarme para a Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU