24 Julho 2019
"A independência e excelência técnica do Inpe são um patrimônio da sociedade brasileira, o qual vem sendo resguardado de interferências políticas ao longo de diferentes governos", afirma a entidade ambientalista WWF-Brasil, em nota pública em seu portal, 23-07-2019.
O WWF-Brasil vem a público prestar sua solidariedade e manifestar seu respeito ao Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a seus pesquisadores, após ataque perpetrado pelo Presidente Jair Bolsonaro durante café da manhã com jornalistas estrangeiros na última sexta-feira (19/07). Na ocasião, o presidente questionou a veracidade dos dados sobre desmatamento na Amazônia publicados periodicamente pelo instituto de pesquisa.
O INPE é uma das organizações de pesquisa mais respeitadas do país, com reconhecimento internacional. Foi uma das pioneiras, em todo o mundo, a usar imagens de satélite para monitorar o desmatamento, ainda em 1974. Com a expertise adquirida, passou a publicar anualmente, a partir de 1988, dados acumulados sobre o desmatamento na Amazônia, através do Projeto Desflorestamento da Amazônia Legal (Prodes). Em 1989 passou a monitorar também o desmatamento na Mata Atlântica, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, e a partir de 2016 também para o Cerrado. Desde 2004 passou a fornecer dados em tempo real sobre o desmatamento, através do Deter, os quais foram fundamentais para a estruturação de ações de fiscalização por parte do Ibama, as quais resultaram na queda acentuada no desmatamento no país durante o período de 2008 a 2012.
A independência e excelência técnica do Inpe são um patrimônio da sociedade brasileira, o qual vem sendo resguardado de interferências políticas ao longo de diferentes governos. Reforçamos nossa solidariedade ao seu Diretor, Ricardo Galvão, que corretamente contestou a infundada e leviana afirmação de que os dados “não correspondem à verdade”.
O Palácio do Planalto adota uma atitude equivocada ao querer esconder os dados sobre o aumento no desmatamento na Amazônia, acreditando que com isso a imagem do país não seria prejudicada. Se os dados deixarem de ser públicos, o Brasil passará a integrar o seleto grupo de países que, ao sufocarem a ciência e a pesquisa independente por motivos ideológicos, passaram a ser reconhecidos como párias internacionais. É o caso da Venezuela, que há anos deixou de ter estatísticas oficiais sobre desemprego, inflação, pobreza, mortalidade infantil, dentre outros, por entender que a existência e a publicidade desses dados prejudicariam seu governo. Preocupa-nos sobremaneira que o Brasil também comece a trilhar esse caminho, no qual a motivação ideológica e a política prevaleçam sobre a verdade.
A sociedade civil brasileira, incluindo o WWF-Brasil, não tolerará que os dados de desmatamento passem a ser censurados pelo Palácio do Planalto, como anunciou Bolsonaro na data de ontem (22/07).
A publicidade e independência técnica do trabalho desenvolvido pelo Inpe são conquistas da sociedade brasileira que não podem ser destruídas. Seria um retrocesso civilizatório enfraquecer o Inpe, seja por meio de redução de suas verbas de funcionamento, seja por meio do silenciamento das informações que produz.
Neste momento, o Palácio do Planalto e o Ministério do Meio Ambiente deveriam se preocupar em efetivamente combater o desmatamento descontrolado, uma chaga que aflige a sociedade brasileira e vem causando imensos prejuízos a todos, inclusive para a agricultura de regiões do centro-sul do país, que depende diretamente das chuvas produzidas pela floresta para poder existir. Todos os dados produzidos pela ciência brasileira demonstram que não precisamos desmatar mais nenhum hectare de vegetação nativa para continuar aumentando a produção de alimentos. Dizer o contrário e inviabilizar o monitoramento do desmatamento, isso, sim, é atentar contra o interesse nacional.
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Em defesa de dados públicos e independentes sobre desmatamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU