04 Julho 2019
Na segunda-feira, um grupo de congressistas da oposição democrata visitou dois centros de detenção de mulheres imigrantes no Texas, perto da fronteira mexicana. O que encontraram gerou outro escândalo por causa da crueldade com que o governo Donald Trump trata os imigrantes detidos. Nestes centros, não há camas, apenas sacos de dormir que precisam ser colocados no chão de cimento. As presas raramente podem tomar banho e quando necessitam beber água nas celas quentes, têm que tomar de um vaso sanitário, porque não há torneiras e não as deixam sair.
A reportagem é publicada por Página|12, 03-07-2019. A tradução é do Cepat.
A visita foi muito difícil, não só pelo que os deputados descobriram, mas pela hostilidade evidente dos guardas da Patrulha de Fronteiras, encarregados dos centros de detenção. Segundo a deputada de Nova York, Alexandria Ocasio-Cortez, e a do Texas, Veronica Escobar, os guardas presentes riam, provocavam e tiravam fotos. Os deputados notaram que em uma suposta instalação de segurança, onde foram obrigados a deixar os celulares ao entrar, os guardas usavam os seus abertamente para tirar fotos deles.
Soube-se no mesmo dia para que queriam as fotos, já que o site de jornalismo investigativo ProPublica revelou que muitos guardas de fronteira compartilhavam uma conta no Facebook dedicada a zombar de imigrantes e daqueles que os apoiam. Havia fotos de Escobar e Ocasio-Cortez nos centros de detenção, adaptadas a GIFs burlescas. A natureza do humor predominante pode ser apreciada por um comentário feito por um dos agentes, encorajando seus colegas a "meter o burrito" nas deputadas hispânicas.
Ocasio-Cortez respondeu esses comentários no Twitter, contando a atitude autoritária dos guardas nos centros de detenção. A deputada explicou que os centros visitados, em El Paso e em Clint, eram nojentos, embora tivessem limpado muito porque sabiam que os congressistas estavam chegando. Contou o caso de presas que não puderam tomar banho por quinze dias porque não permitiram e que chegaram ao chuveiro no último fim de semana passado, para não sentirem mais o cheiro. Ocasio-Cortez fez o agora famoso comentário de que as presas estavam bebendo água dos vasos sanitários nos mesmos tuítes.
A diretora da Patrulha de Fronteiras, Carla Provost, disse que a conta do Facebook de seus agentes era "completamente inaceitável" e que qualquer agente que violasse os padrões de comportamento da instituição seria punido. Ontem, havia uma investigação em andamento.
As deputadas tentaram realizar uma coletiva de imprensa quando deixaram os centros de detenção, mas foram atacadas aos gritos por um grupo de manifestantes com bandeiras de Trump 2020. O grupo levou cartazes pedindo mais deportações e um muro mais alto, e gritavam provocando os congressistas. A mais atacada foi Rashida Tlaib, de Michigan, a quem gritavam que partisse por ser muçulmana. Uma manifestação pró-imigrantes gritava palavras contrárias, dessa maneira ninguém podia ouvir os deputados.
A visita foi organizada pelo bloco hispânico do Congresso dos Estados Unidos, após ter sido denunciado nos meios de comunicação o abuso de crianças no centro de detenção de Clint. O que os visitantes viram foi pior do que o esperado, situações realmente sujas e superlotadas, onde haviam cubanas, hondurenhas e guatemaltecas, incluindo avós e uma gestante. Muitas mulheres choravam de medo ao contar aos deputados o que estava acontecendo.
As prisioneiras descreveram um regime carcerário severo, falta de remédios e ordens arbitrárias, como a de que os guardas não respondem as internas quando falam. Os deputados, de fato, disseram que, ao entrar, os guardas haviam instruído a não falar com os prisioneiros, particularmente com as crianças. Os congressistas simplesmente ignoraram os guardas e conversaram com quem quiseram. Uma deputada recebeu uma bronca por abraçar um bebê.
A reação do presidente Donald Trump a essa situação foi típica. "A Guarda de Fronteiras não está contente com os democratas no Congresso ..." E encolheu os ombros. Talvez tenha sido um consolo por ter que anunciar, por meio de funcionários do Ministério do Comércio, que não iriam incluir no censo 2020 a pergunta sobre a cidadania. A Suprema Corte disse que não era uma questão judicial, mas política, o que deixou o debate em aberto. Mas, o Executivo teve que deixar a artimanha de lado, caso contrário, não daria tempo de imprimir os formulários, que chegam a 900 milhões de cópias.
Uma vitória para aqueles que pensam que incluir essa pergunta era outra maneira de assustar os migrantes e deixar de contá-los na base orçamentária dos estados.
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Estados Unidos. Outro escândalo com imigrantes detidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU