Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 01 Junho 2019
A instabilidade política e econômica de Honduras não cessa. Nos últimos anos, a polêmica em torno da mudança constitucional para a reeleição, a contestação dos organismos internacionais sobre as eleições de 2017, o assassinato da ativista Berta Cáceres e os escândalos de corrupção envolvendo Juan Orlando Hernández são acúmulos dos quais a sociedade hondurenha se revolta.
Desde o mês de abril, os trabalhadores da saúde e da educação se insurgiram com um decreto presidencial que cria o Plano Nacional de Transformação aos setores da Saúde e Educação. As entidades sindicais apontam que os decretos abrem brechas para a demissão de funcionários e a privatização dos serviços. Nessa semana, na quinta-feira, 30-05, de acordo com dados da Radio Progreso, de Tegucigalpa, mais de 20 mil pessoas foram às ruas da capital e outras dezenas de milhares se espalharam pelo país. A convocação de uma greve geral pela Plataforma de Lucha para la defensa de la Salud y la Educación de Honduras no país bloqueou rodovias, paralisou o transporte coletivo e, inclusive, aeroportos foram fechados ao longo do dia. Na sexta-feira, 31-05, as manifestações seguiram, com trocas de pedras e bombas entre os grevistas e a polícia.
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A mobilização dos trabalhadores da saúde e educação se iniciou no final de abril, depois da anuência do Congresso com os decretos presidenciais. O primeiro grande conflito nas ruas de Honduras ocorreu em 30-04, resultando em quatro edifícios incendiados, e dezenas de edificações depredadas, manifestantes feridos e presos. Mesmo com a violência, os decretos seguiram vigentes, sem recuo da presidência.
Hernández, ao contrário, insistia na contestação e repressão às manifestações. De acordo com o presidente, seu programa “corrige irregularidades e corrupção”, e é isso “que os protestos querem esconder”. No entanto, devido à convocação das manifestações dessa semana, o presidente emitiu um novo decreto, proibindo as demissões em massa e a privatização dos serviços de saúde e educação.
O recuo do governo não foi suficiente para segurar a greve. Os manifestantes realizaram marchas em todo o país, com destaque à capital Tegucigalpa, onde o aeroporto de Toncontin ficou fechado por algumas horas devido às manifestações nas redondezas, impedindo a realização de voos que já estavam na pista.
Mapa de Honduras. Fonte: America-Mapas
Diversas estradas do país foram bloqueadas, e o conflito entre manifestantes e policiais se deu entre pedras de um lado, e bombas de gás lacrimogêneo do outro.
De acordo com La Tribuna e Radio Progreso, na cidade de Villanueva, um caminhão foi incendiado para bloqueio da estrada, em Trujillo houve o relato de duas pessoas baleadas, em Siguatepeque um professor foi baleado pela polícia e perdeu um dos rins, e em Orica, médicos acusam que o ex-prefeito José Angel Hernandez e seu filho enfrentaram a marcha apontando armas. As manifestações de quinta ocorreram também nas cidades de San Pedro Sula, Santa Cruz, Santa Bárbara, El Progreso, Choluteca, Tocoa, La Ceiba, Danlí e La Lima.
Na sexta-feira, 31-05, houve uma nova greve de professores e médicos. Em Tegucigalpa foi registrado outro enfrentamento com as forças policiais e estradas ao sul da capital foram bloqueadas. Ao final da tarde, manifestantes colocaram fogo na entrada principal da embaixada estadunidense.
A Plataforma de Lucha para la defensa de la Salud y la Educación de Honduras exige que todo o Plano do governo seja revogado, e destacam que "essa luta é uma ponte para recuperar toda a institucionalidade do país".
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Honduras. Protestos por todo o país garantem vitória parcial contra as privatizações da saúde e educação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU