29 Mai 2019
Nenhum partido político pode encarnar os valores cristãos por conta própria, diz uma autoridade vaticana, em meio a uma forte demonstração dos extremos da direita e da esquerda.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por La Croix International, 28-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto o Vaticano dá as boas-vindas a um grande número de eleitores e ao sucesso dos candidatos que fazem campanha pela proteção do ambiente nas eleições deste mês para o Parlamento Europeu, ele também está preocupado com a crescente polarização política.
Por não ser membro da União Europeia, o Vaticano não adotou uma posição oficial sobre o resultado da eleição.
No entanto, a Santa Sé está acompanhando de perto os desdobramentos políticos em relação ao Parlamento Europeu, no qual muitos cristãos estão envolvidos, incluindo os resultados e o alto nível de participação na eleição entre os dias 23 e 26 de maio.
“Essa é uma razão para a esperança”, disse uma importante autoridade vaticana, que também observou os impressionantes sucessos dos candidatos ambientalistas em vários países europeus.
“Isso mostra que a questão ambiental é uma preocupação, e isso é encorajador”, afirmou.
A autoridade lembrou como a encíclica Laudato si’ do Papa Francisco, de 2015 - ao lidar com o aquecimento global e outras formas de degradação ambiental –, ajudou a aumentar a conscientização sobre essas questões.
Mas a mesma autoridade citou um “terremoto” de extremismo político e enfatizou a necessidade de reconhecer que havia uma crescente desconfiança de muitas pessoas nas políticas tradicionais que equivalia a uma “crise” na democracia.
“Devemos ouvir isso como um chamado a renovar o projeto europeu”, acrescentou, depois das vitórias de candidatos de extrema esquerda e de extrema direita.
O fato é que alguns políticos “levantaram a bandeira dos valores cristãos” de uma forma que não está de acordo com a “abertura” do Papa Francisco e que causou embaraço no Vaticano.
“Os políticos têm o direito de manifestar a sua fé, desde que seja de boa-fé”, disse a autoridade vaticana, referindo-se ao político italiano de direita Matteo Salvini, que havia sido retratado com um ícone visível da Virgem Maria, celebrando uma grande vitória nas eleições do Parlamento Europeu pelo seu partido, Liga Norte.
“É mais duvidoso quando os políticos tentam se justificar com base nos valores cristãos”, disse a autoridade.
Ele acrescentou que precisaria haver cristãos em todos os partidos, tanto os da direita quanto os da esquerda.
“Mesmo que isso possa ter sido justificado em um momento, nenhum partido político pode encarnar os valores cristãos por conta própria”, disse.
No entanto, o Vaticano continua preocupado com a crescente polarização da vida política europeia, com um balanço pendular de um extremo ao outro.
Ele vê a diferença entre políticos que lutam pelas suas próprias ideias e demonizam as visões dos outros e aqueles que apoiam aquilo que o Vaticano considera como uma busca necessária pelo consenso.
“O objetivo da vida política certamente é alcançar resultados”, disse a autoridade vaticana.
“Mas, acima de tudo, é uma questão de encontrar um consenso entre todos os componentes da sociedade”, enfatizou.
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''Nenhum partido pode encarnar os valores cristãos'': Vaticano avalia as eleições europeias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU