16 Mai 2019
“Sabe por que viemos a estes protestos? Porque queremos que nossos filhos vivam como os de vocês”, responde contundente Nawal Salama, junto a um grupo de amigas e vizinhas do bairro de Shayahia, da cidade de Gaza. Estão sentadas em círculo, se protegendo de um sol que cai sobre as lonas instaladas em uma esplanada da zona de Malaka, junto à fronteira que separa a faixa de Israel, onde ocorrem protestos no marco da Grande Marcha pelo Retorno, desde fins de março de 2018.
A reportagem é de Ana Alba, publicada por El Periódico, 15-05-2019. A tradução é do Cepat.
Hoje é o dia da Nakba (catástrofe em árabe), o dia em que se recorda a expulsão e fuga forçada de mais de 700.000 palestinas, entre finais de 1947 e 1949, após a divisão da Palestina, ao se proclamar o Estado de Israel e durante a guerra posterior que os israelenses travaram com uma coalizão de países árabes.
Mapa da Faixa de Gaza. Fonte: Wikicommons
O comitê organizador destas marchas havia chamado os palestinos para participar das manifestações de hoje e compareceram umas 10.000 pessoas. Mas, chamou à contenção para tentar evitar vítimas. A cúpula militar israelense havia ordenado aos soldados que só abrissem fogo caso recebessem permissão específica do Comando Sul ou se estivessem realmente em perigo mortal.
O resultado destas medidas é que ninguém morreu e o número de feridos foi muito menor que em outras ocasiões. O Exército israelense feriu ao menos 65 palestinos, 19 deles com fogo real. Entre eles, há 22 menores de idade.
Yáser Abú Ramadán, de 17 anos, não esteve hoje na primeira fila dos protestos, diferente do último dia 3 de maio, quando ficou “quase em frente aos soldados israelenses”, na manifestação daquele. Dispararam em sua perna esquerda e agora participa com muletas. Também está sem dois dedos de uma mão, que precisaram ser amputados há dois anos, após receber o impacto de uma munição com gás lacrimogêneo.
Disse que não teme a morte e que procura “acabar com o bloqueio” que Israel mantém sobre Gaza, desde 2007, quando o movimento islamista Hamas tomou o poder na faixa. “Seguiremos até que acabe o bloqueio. Queremos ter nosso país, viver como as pessoas normais e voltar aos povoados dos quais fomos retirados há 70 anos”, destaca Abú Ramadán, junto a um amigo de sua idade também ferido.
Canções reivindicativas soam a todo volume e, sobre um cenário, um grupo de homens dança ‘dabke’, que é popular no Oriente Médio.
Debaixo das lonas azuis, Salama, de 44 anos e mãe de dez filhos, reivindica seu direito ao retorno. A grande maioria dos que estão em Gaza são refugiados. Suas famílias foram expulsas em 1948 de povoados e cidades que ficaram em território israelense.
“Roubaram nossas terras, nossas casas. Queremos recuperá-las, queremos voltar, queremos que o bloqueio de Gaza acabe, queremos liberdade”, disse Salama, abanando-se. Está sem comer desde a madrugada, pois há alguns dias começou o mês de jejum muçulmano do Ramadã.
A pequena faixa costeira palestina se afoga lentamente. Cada vez mais insalubre, mais degradada. A pobreza é visível nos rostos de centenas de manifestantes.
Mapa demonstra o "afogamento" do Estado da Palestina por Israel. Fonte: Democracia & Política
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Palestina. “Protestamos para que os nossos filhos vivam como os de vocês” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU