"Um pastor que é culpado de encobrimento de abusos não é digno de sê-lo"

Fachada da Catedral Metropolitana em Santiago, Chile | Foto: GameOfLight - Wikimedia Commons

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Abril 2019

"Tenho que dizer que um pastor que é culpado de encobrimento não é digno de ser pastor", afirmou o secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé e arcebispo de Malta, Charles Scicluna

A reportagem é de Pablo Santos, publicada por Religión Digital, 07-04-19. A tradução é de Graziela Wolfart.

O prelado concedeu uma entrevista ao jornal Encuentro, do Arcebispado de Santiago do Chile, onde refletiu sobre a relação do Vaticano com a justiça civil, seu diagnóstico sobre a Igreja no Chile, o estudo de novas reformas para a proteção de menores, entre outros temas.

Scicluna, de 59 anos, se converteu em uma figura chave no processo conduzido pela Igreja no Chile para acabar com os abusos.

Depois de visitar o país duas vezes em 2018, o prelado entregou ao Papa Francisco um extenso relatório que reúne premissas e testemunhos de situações de abusos sexuais, de autoridade e de poder.

Algumas conclusões do chamado "Relatório Scicluna" foram incluídas no documento de trabalho que o pontífice entregou aos bispos do Chile em maio de 2018 e que também o levaram a reconhecer seus "graves equívocos de avaliação e percepção da situação".

Em sua entrevista, Scicluna assinalou que "nos últimos meses, que foram bastante difíceis, vi acontecimentos positivos na Conferência Episcopal do Chile, o que, para mim, é um sinal de grande abertura para que se faça justiça às vítimas".

Consultado sobre a possibilidade de que o Vaticano possa entregar o "Relatório Scicluna" à justiça e torná-lo público, o prelado respondeu que não, já que a documentação recebida "pedia que a informação fosse dirigida diretamente ao Santo Padre".

"Esta era a intenção e o desejo das pessoas com as quais nós nos encontramos no Chile. Eu entreguei toda a informação ao Papa e estou convencido de que ele respeitará a vontade destas pessoas, que tiveram fé nele. Sem prejuízo do que já ocorreu, animo a todas as pessoas que assim desejarem que entreguem seus relatos à justiça chilena", disse.

Sobre a opção que alguns suscitam de que os sacerdotes possam se casar como uma resposta para acabar com os abusos, Scicluna indicou que "infelizmente, no mundo, a maior parte dos abusos foi cometida por pessoas que estão casadas, fato pelo qual o matrimônio (dos sacerdotes) não é a resposta".

"A resposta se encontra em todos os métodos de prevenção e na formação dos futuros sacerdotes, sob uma sadia paternidade e fraternidade espiritual, na qual não se entenda o sacerdócio como um privilégio, mas como um serviço", alegou.

No que se refere à negligência do encobrimento por parte de bispos e outros membros da Igreja, o arcebispo de Malta reiterou a condenação do Papa Francisco que sustenta que "o encobrimento é um delito grave, tão grave como é o abuso sexual".

"Um pastor que é culpado de encobrimento não é digno de ser pastor. Este é o ponto que diferencia o pastor que atua como uma mãe amorosa (carta apostólica do Papa Francisco de 2016), que não trabalha na maldade do encobrimento, mas que toma consciência do dano que se faz ao Povo de Deus. O encobrimento não pode ser aceito", afirmou.

Consultado sobre a possibilidade de levantar o "Segredo Pontifício" sobre a proteção de menores, o prelado expressou que "isto está sendo debatido em vários níveis. É algo que é preciso discutir na Congregação da Doutrina da Fé, também com a Secretaria de Estado".

Acrescentou que "existem diferentes opiniões sobre o que o Papa deveria decidir. Existe um movimento em evolução que recomenda tirar a confidencialidade máxima nestes casos, protegendo a boa fama e a liberdade, que vem garantida, em todo caso. Para mim isto bastaria".

Em sua mensagem ao povo chileno, Scicluna agradeceu "pela acolhida que me deu" e pediu para "que orem muito pelo Santo Padre, para que continue tomando todas as decisões necessárias, para que exista uma nova primavera na Igreja no Chile".

Leia mais