19 Outubro 2018
"A sinodalidade, da mesma forma que o Evangelho, é "perigosa", e essa característica necessariamente se repercute sobre o ministério de quem foi chamado a presidir a comunidade cristã. Isso é demonstrado pelo fato de que qualquer reforma significativa da Igreja sempre provocou pequenos ou grandes cismas, análogos à forte reação de uma parte do mundo católico a algumas decisões do Papa Francisco".
O artigo é de Massimo Nardello, teólogo italiano, com doutorado em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, membro da direção da Associação Italiana Teológica e senior fellow da Martin Marty Center da Divinity School da Università di Chicago, publicado por Settimana News, 14-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quando você tem nas costas vários anos de serviço nos organismos eclesiais paroquiais, diocesanos ou associativos, existem algumas palavras que podem despertar instantaneamente uma sensação de desconforto. Uma delas é sinodalidade.
Como afirmado no recente documento da Comissão Teológica Internacional A sinodalidade na vida da Igreja, esse termo "no grego eclesiástico expressa o ato de ser convocados à assembleia dos discípulos de Jesus e, em alguns casos, é sinônimo da comunidade eclesial. [...] Com um significado específico, desde os primeiros séculos, são designadas com a palavra "sínodo" as assembleias eclesiais convocadas em vários níveis (diocesano, provincial ou regional, patriarcal, universal) para discernir, à luz da palavra de Deus e na escuta do Espírito Santo, as questões doutrinais, litúrgicas, canônicas e pastorais que gradualmente se apresentam”(n. 3-4).
O documento continua afirmando que hoje o substantivo sinodalidade se refere ao envolvimento e à participação de todo o povo de Deus nesse discernimento da voz do Espírito relativo à vida e à missão da Igreja (cf. n. 7).
A razão da emoção nem sempre positiva que esse termo pode suscitar, juntamente com outros de significado semelhante, deriva do fato de que ele evoca incontáveis e cansativas reuniões, comissões e grupos de trabalho com os quais temos tentado realizar um discernimento eclesial, e que, no entanto, não raramente deixaram de alcançar resultados significativos, ou cujos resultados não foram aceitos pela base eclesial.
Uma das razões para essas dificuldades em viver os processos sinodais poderia ser uma compreensão inadequada de suas características teológicas, o que gera equívocos perigosos sobre seu funcionamento. Eu gostaria de propor três exemplificações.
O equívoco mais grave que pode resultar em um percurso sinodal é considerar que ele possa produzir um consenso tão amplo a ponto de consentir decisões compartilhadas, a ponto de elas não gerarem qualquer tipo de conflito. Além disso, o sonho de todo pastor é poder desempenhar o próprio ministério em paz e sem ter que se impor dolorosamente a uma parte de sua comunidade. Então, a sinodalidade, às vezes, é colocada em campo com o desejo secreto de que consiga colocar todos de acordo. Na realidade, isso quase nunca acontece. Mesmo que aquilo que o Espírito sugere aos crentes siga na mesma direção, não todos são realmente capazes de ouvir sua voz e distingui-la das próprias opiniões não evangélicas.
A sinodalidade, portanto, entrega sempre a uma comunidade cristã uma série de soluções contrastantes, projetos audaciosos de reformas misturados com medo e com o desejo de não mudar nada por temor de fortes lacerações na comunidade eclesial. Por essa razão, os caminhos sinodais podem acabar produzindo decisões irrisórias, ou terminar com a simples passagem para outro tópico, sem qualquer conclusão. Em alguns casos, são mantidos em stand by por muitos anos, até que se tenha esquecido o caminho feito de modo a poder iniciá-lo novamente.
No entanto, quando nos colocamos na escuta do Espírito de modo sinodal, depois não é mais possível retroceder no momento da decisão, porque isso significaria ignorar a sua voz e pecar muito gravemente. Em vez disso, é necessário aceitar que, no término de um percurso de discernimento comunitário, o pastor deva tomar decisões que são necessariamente discutíveis, e que, infelizmente, torna-se inevitável que alguém considere oportuno "ficar de fora" ou até mesmo retirar-se.
A sinodalidade, da mesma forma que o Evangelho, é "perigosa", e essa característica necessariamente se repercute sobre o ministério de quem foi chamado a presidir a comunidade cristã. Isso é demonstrado pelo fato de que qualquer reforma significativa da Igreja sempre provocou pequenos ou grandes cismas, análogos à forte reação de uma parte do mundo católico a algumas decisões do Papa Francisco.
Um segundo possível equívoco do percurso sinodal é o que se preocupa em elaborar decisões programáticas sem verificar a sua aplicação na vida das comunidades cristãs.
Não devemos esquecer que a palavra humana dos documentos eclesiais, à diferença daquela divina, não é criativa, ou seja, não realiza imediatamente o que diz, mas necessita tanto de uma ampla divulgação e explicação como de uma verificação da sua aceitação.
O último momento da aceitação representa o início de um novo caminho sinodal, em que as decisões tomadas são recebidas de forma criativa pelas várias comunidades, e, portanto, não deve ser confundido com um processo de imposição. Não é possível tolerar, no entanto, um fechamento preconceituoso ou ideológico em relação ao que foi estabelecido no término de um percurso sinodal real, pois isso representaria um fechamento à voz do Espírito.
Outro mal-entendido da sinodalidade é o de fixar-se nos problemas iniciais. Na realidade, quando nos colocamos à escuta do Espírito, é preciso reconhecer a ele a possibilidade de mudar as perguntas com as quais havia sido começada a reflexão. Assim, por exemplo, pode-se começar um percurso sinodal sobre o problema da reestruturação da diocese, e descobrir ao longo do caminho que para prosseguir é preciso compreender novamente o que seja o Evangelho e de que forma as comunidades podem renascer a partir dele. Naquele ponto, se nos encastelarmos sobre as questões de partida, impedindo a quem percebe a necessidade de uma mudança de perspectiva inclusive a mera possibilidade de propô-la, mais uma vez estaríamos nos fechando à voz do Espírito.
A lógica da sinodalidade exige renunciar a prever o desenvolvimento do percurso de reflexão eclesial e estar prontos para mudar as perguntas iniciais ou encontrar respostas inesperadas.
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O esforço da sinodalidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU