14 Agosto 2018
Francesco Sisci é um grande sinólogo, autor e especialista em questões sobre a China, professor da universidade de Renmin, em Beijing, na China. A entrevista realizada por Matteo Damiani foi publicada na China Today e foi traduzida para o inglês pelo prof. Gregor Benton.
A entrevista é de Matteo Damiani, reproduzida por Settimana News, 10-08-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Eis a entrevista.
Em 23 de abril, o presidente Xi Jinping fez um importante discurso sobre religião. O que mudou em relação ao passado?
Xi Jinping apresentou um novo método, pelo menos em teoria, para modular as relações entre partido e religião. A questão é complicada, porque, claro, tudo deve ser coordenado pelo partido. Portanto, como gerenciar as religiões que não podem, sob circunstância alguma, ser coordenadas por ele, considerando que o partido é materialista e as religiões têm uma origem independente: como um partido materialista pode coordenar religiões espirituais? Durante a Revolução Cultural, essa contradição entre religião e partido chegou ao ponto de professar que uma religião era proibida. Depois, o partido recuou um pouco, mas o problema continuou sem uma resolução até agora, quando começou, por meio de uma espécie de invenção linguística, a dizer que precisa guiar (yindao) as religiões, ou seja, responder ao que a constitui. Em mandarim, há várias formas de dizer "guiar". Portanto, essa forma de guiar, a palavra que tem sido utilizada, corresponde às características específicas de cada religião, já que existe também outra questão: o modo como os protestantes são guiados é diferente dos muçulmanos ou católicos. Assim, graças a esta evolução linguística, foi possível entrar em acordo – pelo menos em teoria – de que as religiões são as religiões, e o partido mantém seu papel de liderança, mas há espaço para o trabalho em conjunto, sem que um nem o outro esteja necessariamente em contradição.
A diferença linguística entre yindao e zhidao é muito sutil. Estas diferenças são óbvias para os cidadãos chineses comuns?
Infelizmente, ou talvez felizmente, este discurso não aborda o cidadão chinês comum, pois não é guiado pela religião. Na verdade, aborda os quadros do partido em geral, que devem compreender a sua própria relação com as organizações religiosas.
Na sua opinião, é possível falar de uma reabertura do governo chinês para as religiões?
Sem dúvida. O problema é o ritmo dessa abertura, e, claro, há quem culpe o governo chinês por não se abrir com rapidez, mas certamente o governo chinês não continuou fechado. Se a abertura é ampla e rápida o suficiente é outra questão. Mas que há esta abertura é um fato.
Na sua opinião, a religião pode ser um instrumento útil para construir a sociedade harmoniosa que Hu Jintao quer?
Isso foi dito oficialmente no final do XVII Congresso do Partido. Não é uma questão de interpretação, afirmou-se especificamente que não as religiões em si, pois o partido não se preocupa com o mérito das religiões, mas as organizações religiosas e personalidades. Fazer uma distinção cuidadosa entre a religião no âmbito metafísico e a organização religiosa que constitui o âmbito físico pode contribuir positivamente para criar uma sociedade harmoniosa.
A organização da Igreja Católica Chinesa ainda dependente de Beijing ou é moldada pela influência do Vaticano?
Esta é uma pergunta que deve ser feita ao Vaticano. Os católicos chineses reconhecem o Papa. Existe grande comunicação entre a Igreja chinesa e o Vaticano. No Congresso da Juventude em Cracóvia, havia muitos cartazes chineses, então esta ideia da Igreja chinesa separada da Igreja Católica não faz sentido para mim. Portanto, acredito que do ponto de vista religioso não há nenhuma cesura.
Qual é a imagem do Papa Bergoglio na China?
Seus tweets e homilias são traduzidos para o mandarim e são amplamente disponibilizados. Ele é o primeiro papa cujas homilias são sistematicamente disseminadas. Isso é um bom sinal.
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O papel de liderança do Partido da China sobre as religiões. Entrevista com Francesco Sisci - Instituto Humanitas Unisinos - IHU