20 Julho 2018
Tudo surpreende nesse livro, começando pelo título, onde o Aleluia lembra uma tragédia como a morte da jovem Susana depois da Jornada da juventude de Cracóvia.
O artigo é de Lucetta Scaraffia, historiadora italiana,membro do Comitê Italiano de Bioética e professora da Universidade de Roma La Sapienza, publicado por L'Osservatore Romano, 18/19-07-2018 . A tradução é de Luisa Rabolini.
Surpreende o título alegre, especialmente porque o autor do livro L’Alleluja di Susanna. L’eredità di lei che non tornò dalla GMG di Cracovia (O aleluia de Susana. O legado da garota que não retornou da JMJ de Cracóvia, Roma, San Paolo, 2018, 144 páginas, € 14,50), é Enrico Rufi, o pai de Susana, que se refere com grande delicadeza à terrível dor da família.
(Foto: Vatican News)
Muitos de nós - especialmente os pais – lembramos do aperto no coração quando lemos a notícia da morte da garota de dezenove anos acontecida de repente em Viena durante a viagem de retorno. Todos já tivemos a experiência de esperar ansiosamente o retorno dos filhos de viagens, férias, peregrinações ... e nós sabemos o que significa quando uma ansiedade difusa pode se tornar uma terrível certeza.
Mas o livro é outra coisa: é a história serena de uma família incrível. E isso porque os pais de Susanna não se casaram na igreja, mas mesmo assim criaram uma família sólida e unida pelo amor: entre eles, em primeiro lugar, e com as duas filhas que – fato não tão frequentes entre irmãs - são muito ligadas e acostumadas a compartilhar juntas todas as experiências.
O pai é um amigo de Marco Pannella, trabalha na Rádio Radical, mas isso não o impede de participar da vida da paróquia onde as garotas encontraram um ambiente que as agradou, um clima que não contradiz aquele aberto e generoso que elas conheceram em casa. A mãe, cientista, lia a Bíblia para suas filhas desde pequenas, férias sempre juntas ao redor do mundo, perseguindo a memória daqueles personagens históricos abertos e tolerantes que seu pai apontava como seus predecessores. Nesse clima, tinham conhecido a filha de Albert Camus, ouvido todas as músicas de Fabrizio De André, visitado a casa de Montaigne. O pai, que na católica Itália sentia-se protestante, na protestante América sentia-se católico.
Uma proximidade com a comunidade paroquial de São Policarpo, onde participava de muitas atividades conjuntas com alegria e generosidade, não impedia a Susanna de conservar certa inquietação diante do catecismo, inquietação que traz um forte sinal do quanto tinha aprendido na família, "Susanna não tinha uma relação serena com a confissão, também porque no catecismo teve que fazê-la contra sua vontade. E com que convicção teria podido ensinar que só amando a Deus é possível amar o próximo? Seria possível que meus avós me tenham amado com um amor não pleno só porque não eram crentes, ela se perguntava?".
A vocação católica das garotas tinha recebido uma forte confirmação do que o Papa ensina: "O caminho de sua maturidade - escreve o pai - foi acompanhado pelo papa Francisco. Na igreja doméstica, o magistério do papa foi acolhido com disposição imediatamente. Quando ouviu que a misericórdia vem em primeiro lugar, ela já estava pronta para receber um ensinamento que para muitos era e continua a ser inquietante, e para outros até mesmo indigesto." As palavras de Francisco, de fato, haviam encontrado na família de Susanna "terreno fértil em um "húmus’ mais ‘ humanista’ que ‘religioso’”, mas principalmente uma família laica aberta à espiritualidade.
Justamente por isso o livro, tocante e muito bonito, oferece uma leitura que indica a possibilidade de novos caminhos, convida a uma abertura mais ampla da evangelização e a entender que somente na verdadeira prática de uma vida cristã é possível atrair pessoas que a abandonaram ou nunca a conheceram.
Esse livro é um presente que Susanna nos deixou.
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Uma história surpreendente. O pai recorda Susanna, que morreu enquanto retornava da Jornada da Juventude de Cracóvia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU