10 Julho 2018
O presidente reforça o giro para a direita do tribunal superior com a nomeação de Brett Kavanaugh, o segundo em um ano e meio.
A reportagem é de Amanda Mars, publicada por El País, 09-07-2018.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu nomear o juiz Brett Kavanaugh, conselheiro de George W. Bush e membro da equipe que investigou o ex-presidente Bill Clinton, como um candidato para a nova posição da Suprema Corte dos Estados Unidos. A nomeação acontece após a aposentadoria de outro conservador, mas mais moderado, Anthony Kennedy, no final de junho. O presidente anunciou sua escolha nesta segunda-feira, na Casa Branca. O nome de Kavanaugh agora precisa ser aprovado no Senado, onde se inicia a nova luta. Se for bem-sucedido, Trump terá conseguido consolidar a virada à direita do mais alto órgão judicial do país, composto por nove membros, cinco considerados conservadores e quatro progressistas.
A eleição de um juiz da Suprema Corte é uma das decisões mais importantes para um presidente dos Estados Unidos, já que seus ocupantes tomam decisões críticas para a sociedade americana. Foi a alta corte que encerrou a segregação racial das escolas públicas em 1954, que descriminalizou o aborto, em 1973, ou declarou legal o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país, em 2015.
A agenda social tem sido fundamental nesta eleição. O medo dos democratas e dos ativistas pró-escolha ou direitos LGBT, entre outros, é que a virada conservadora da Suprema Corte acabe com os direitos que se acreditava estarem blindados. Algumas decisões recentes, como o apoio ao veto de imigração de Trump ou à decisão de um confeiteiro, que se recusou a fazer um bolo para um casamento entre dois homens, alimentam essas dúvidas.
Kavanaugh, um juiz federal de apelação em Washington DC, é um conservador respeitado por ter sido parte da equipe do promotor independente Kenneth Starr, que acusou Clinton no caso Monica Lewinsky, e por ser assistente de George W. Bush. Seu histórico de serviço também se encaixa com o republicanismo mais religioso. Em outubro passado, por exemplo, ele fez parte do grupos de juízes que vetou o aborto de uma imigrante irregular de 17 anos detida no Texas.
A postura do nomeado sobre o aborto se mostrava fundamental, como demonstraram protestos a favor e contra o direito, que foram realizados fora da sede do Supremo ao mesmo tempo que Trump anunciava o candidato. O juiz conservador aposentado, Kennedy, migrou para posições mais centristas ao longo dos anos e seu voto foi decisivo em questões sociais críticas, como discriminação positiva ou casamento gay. Seu substituto, caso seja aceito pelo Senado, assume uma curva para a direita.
Alguns republicanos como líder no Senado, Mitch McConnell, haviam advertido Trump que ele deveria escolher um nome que tivesse um consenso total entre os membros de seu próprio partido e não desse munição aos democratas para torpedear o processo de confirmação para garantir que ela ocorresse antes das eleições legislativas de novembro, quando a maioria conservadora do Senado está em risco.
Agora, com controle mínimo (51 dos 100 senadores e um dele, John McCain, de licença) será necessário conseguir algum apoio da oposição. Se der certo, Trump terá tido a oportunidade de nomear dois membros em apenas um ano e meio de mandato. A idade dos novos eleitos, os 50 anos de Gorsuch e os 53 do recém-nomeado, favorecem um mandato que durará décadas. Se outros dos membros mais velhos deixam a Corte, como os considerados progressistas, Ruth Bader Ginsburg (85) e Stephen Breyer (79), o presidente republicano poderia indicar ainda novos nomes, para fortalecer a ala conservadora do tribunal superior, o que explica o apelo de grupos progressistas para que esses juízes veteranos não deixem ainda seus cargos.
Leia mais
- Aposentadoria de juiz moderado no Supremo dos EUA abre caminho a nova guinada à direita
- O nacionalismo radical de Donald Trump, 45º presidente dos EUA
- Milhões de americanos acreditam que Deus foi quem elegeu Donald Trump. Um livro surpreendentemente fascinante explica o porquê
- EUA. Depois de uma campanha presidencial virulenta, o que fazer?
- A Casa Branca de Trump tem “ligação direta” com evangélicos, diz ativista que rezou pelo presidente
- Política, cultura ou teologia? Por que os evangélicos apoiam Trump no aquecimento global
- Evangélicos brancos votaram majoritariamente em Trump
- Cuidado com o “evangelho da prosperidade” no governo Trump
- O que escrevem os conselheiros religiosos de Trump ao Papa Francisco (em Civiltà Cattolica e outros)
- Trump e Vaticano, uma relação a ser construída
- Qual é o Deus de Trump? Artigo de Alberto Melloni
- Católicos conservadores idolatram Trump e atacam Francisco abertamente
- Eleição de Trump expressa o ressentimento racializado e de classe nos EUA. Entrevista especial com Idelber Avelar
- As oito promessas de Trump que ameaçam mudar o mundo
- Trump, os bancos e as bombas
- 6 indicadores em que os EUA estão no mesmo nível dos países subdesenvolvidos
- Trump reafirma veto imigratório, apesar do revés judicial e do assombro mundial
- EUA. Vítimas do culto às armas
- O problema não é Trump, e sim seus selvagens eleitores
- América Profunda, explicação para o fenômeno Trump
- “Armas pela vida?” – Então vamos defendê-la com o que a elimina...
- Ódio e armas: combinação letal nos EUA
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Donald Trump consolida guinada conservadora na Suprema Corte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU