24 Julho 2017
Cristãos evangélicos têm acesso sem precedentes à Casa Branca no e estão em “ligação direta” com o governo do presidente Donald Trump, de acordo com um ativista que orou pelo presidente no Salão Oval.
A comunidade evangélica apoiou os Republicanos de forma contundente nas eleições de novembro e Trump retribuiu rapidamente.
O presidente assinou um decreto sobre liberdade religiosa e cortou os fundos a clínicas de aborto fora do país.
A reportagem é de Conor Gaffey, publicada por Newsweek, 22-07-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Agora, parece que o presidente está recompensando uma de suas mais importantes bases aliadas com uma ligação direta à Casa Branca e a algumas das principais autoridades do governo.
Na semana passada, surgiu uma foto de uma reunião entre Trump e mais de 20 líderes evangélicos, juntamente com o vice-presidente Mike Pence, no Salão Oval. Na foto, Trump aparece com a cabeça baixa, em reverência, e várias pessoas orando com a mão sobre sua cabeça. Pence aparece de olhos fechados e parece estar rezando.
Johnnie Moore, um empresário e ativista cristão que mora na Califórnia, tirou a foto. Ele disse à Newsweek que foi um “encontro” espontâneo “entre amigos” e que os evangélicos sentem que podem levar suas preocupações a níveis superiores desse governo – ao contrário do governo anterior, do Presidente Barack Obama.
“O governo Obama não fazia nada por mim. Eles negaram o visto a uma irmã do Iraque que havia aceitado testemunhar perante o nosso Congresso e eu levei a questão ao topo do Departamento de Estado. O processo todo foi muito batalhado e a Casa Branca estava tentando impedi-lo. Foi uma loucura”, disse Moore, ex-vice-presidente de comunicação da Liberty University, a maior faculdade cristã evangélica dos EUA, onde o Presidente Trump proferiu um discurso de formatura em maio.
(A freira em questão era Diana Momeka, cujo visto para depor em uma audiência no congresso sobre a perseguição de minorias religiosas pelo grupo militante do Estado Islâmico (ISIS) foi inicialmente negado pelo Departamento de Estado e concedido em um segundo momento.)
Mas as coisas mudaram no governo Trump, diz ele. “É uma época totalmente diferente. Não somente nós temos ligação direta com eles, mas eles também têm ligação direta conosco. Na minha opinião, isso é bom para os Estados Unidos”, disse Moore.
Moore foi um dos primeiros conselheiros evangélicos – além do grupo de conselheiros católicos de Trump – a ser convocado durante a campanha presidencial em junho de 2016. Ele diz que os membros do conselho têm uma relação bastante íntima com várias pessoas do círculo mais próximo de Trump, como Jared Kushner, genro do presidente.
“Vários de nós… comunicam-se com Jared Kushner frequentemente. Ainda durante a campanha, ele era nosso principal ponto de contato, e em vários aspectos ainda é”, declarou.
Com Trump no Salão Oval, os evangélicos têm uma linha de comunicação direta para expressar suas preocupações sobre políticas, segundo Moore. “Temos uma relação aberta com a Casa Branca, podemos e de fato expressamos nossas reservas. Houve determinados momentos em que as coisas foram modificadas. Não dá para ganhar sempre, mas fazemos parte do diálogo.”
Os protestantes evangélicos formam o maior grupo demográfico de religião única nos Estados Unidos e nas eleições de 2016 foram os maiores apoiadores de Trump dentre os grupos religiosos. Oitenta e oito por cento dos evangélicos brancos ou cristãos (“nascidos de novo”) votaram em Trump, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center divulgada no dia seguinte à eleição. (A pesquisa não explicitou os votos dos evangélicos de acordo com raça e 24% dos evangélicos dos EUA não são brancos.)
O apoio continuou ao longo dos primeiros seis meses de mandato do governo Trump, de acordo com Paul Djupe, professor da Denison University e especialista em religião e política. Segundo ele, dados coletados nos últimos meses demonstram que além das questões polêmicas para os evangélicos, como o aborto e a liberdade religiosa, a comunidade apoiou Trump nos escândalos que vieram à tona em seu governo. Por exemplo, em grande parte, eles apoiaram a decisão de Trump de demitir o ex-diretor do FBI, James Comey, e não acreditam que as várias investigações sobre a associação da campanha de Trump e a Rússia vão revelar qualquer transgressão, disse ele.
“Desde o início da campanha de Trump, os evangélicos têm trabalhado em conjunto com o governo. É claro que têm seus interesses pessoais, mas estão todos no barco com Trump”, disse Paul Djupe.
Apesar de a constituição dos EUA endossar a separação entre Igreja e Estado, a religião tem tido um papel crucial na vida política do país. Isso incluiu o fato de vários religiosos terem ganhado acesso à Casa Branca e ao presidente, mais especificamente. Billy Graham, famoso televangelista da Convenção Batista Sulista, chama a atenção por seus encontros pessoais com 12 presidentes consecutivos, desde Harry Truman até Barack Obama. (Seu filho, Franklin Graham, fez a leitura da Bíblia na posse de Trump.)
Outros presidentes apoiaram abertamente a chamada direita cristã. Em um discurso famoso a evangélicos em Dallas em 1980, o então candidato republicado Ronald Reagan disse: “Sei que vocês não podem me apoiar. Mas digo isso para que vocês saibam que eu apoio vocês e o que vocês estão fazendo.” (O comentário de Reagan provavelmente fazia referência à Emenda Johnson, uma disposição fiscal de 1954 proibindo organizações sem fins lucrativos, inclusive Igrejas, de apoiar ou se opor a candidatos políticos. O decreto de Trump sobre liberdade religiosa também visava, em partes, flexibilizar as restrições impostas pela emenda.)
Considerando seu apoio constante a Trump, não é de se surpreender que os evangélicos tenham recebido maior acesso ao presidente do que outros grupos religiosos em seus primeiros meses de mandato, segundo Jacob Neiheisel, cientista político da Universidade de Buffalo.
“Porém, ter acesso nem sempre significa vitórias em políticas públicas, e fica a dúvida se as oportunidades concedidas por Trump aos líderes evangélicos vão ajudá-los a recobrar o espaço perdido nas questões morais que são importantes para eles”, afirmou.
Se a primeira metade do ano no mandato de Trump for como imagino, os evangélicos podem esperar um status privilegiado durante a declarada vez dos presbiterianos no mandato. A nomeação de Neil Gorsuch – um jurista ultraconservador celebrado pela direita cristã – foi o ápice até agora, mas Trump também demonstrou seu apreço pelo grupo de maneira mais sutis, como ao conceder duas entrevistas ao Christian Broadcasting Network desde o início de seu mandato em janeiro.
E, de acordo com Moore, isso significa que as prioridades evangélicas devem estar ainda mais conectadas e mais próximas das prioridades do governo, em detrimento dos oponentes da direita religiosa conservadora. “Entendo o porquê de a esquerda estar ficando tão nervosa. Eles deveriam estar nervosos mesmo, honestamente.”
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A Casa Branca de Trump tem “ligação direta” com evangélicos, diz ativista que rezou pelo presidente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU