O testamento espiritual do cardeal Lehmann

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26 Março 2018

No dia 21 de março, a 10 dias de sua morte, ocorrida no dia 11, o cardeal Karl Lehmannn foi sepultado em sua catedral de Mainz, na Alemanha.

A reportagem é de Antonio Dall’Osto, publicada por Settimana News, 22-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O rito fúnebre foi presidido pelo seu sucessor, Dom Peter Kohlgraf, com a participação, de acordo com os dados da diocese, de mais de 30 bispos e cardeais, incluindo o núncio apostólico na Alemanha, o arcebispo Nikola Eterovic, os cardeais Reinhard Marx, Walter Kasper, Rainer Woelki e Gerhard Ludwig Müller.

Também estavam presentes o metropolita greco-ortodoxo da Alemanha, Augoustinos, e o presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD), Heinrich Bedford-Strohm.

Representando o governo, estavam o presidente federal, Frank-Walter Steinmeier, e a ministra federal da Agricultura, Julia Klöckner (CDU), além dos ministros presidentes das regiões da Renânia-Palatinado, Hesse e Baden-Württemberg, Malu Dreyer (SPD), Violker Bouffier (CDU) e Winfried Kretschmann (Verde).

Na homilia, Dom Kohlgraf comentou longamente o “Testamento espiritual” que Lehmann havia escrito em 15 de março de 2009 e afirmou ter ficado muito impressionado com o modo como as pessoas reagiram à morte de Lehmann. Como apenas alguns outros, disse, no seu serviço pastoral, ele soubera harmonizar a teologia científica com o ministério sacerdotal e episcopal e a atenção ao próximo. Um fato que as pessoas tinham sentido fortemente. O seu apego à pátria também não foi para ele uma simples fórmula verbal.

“Sua mãe era livreira, e seu pai, professor, de modo que ele herdou o amor pelos livros e pelo pensamento desde o berço, por assim dizer.”

Lehmann insistiu para que a teologia e a fé permanecessem em diálogo com as outras ciências e com o mundo, para não se tornarem sectárias. Ele considerava que “um sólido fundamento da fé precisa de abertura e de amplitude espiritual”. Por isso, teve que enfrentar também a crítica e os ventos contrários, como, por exemplo, no conflito sobre a consultoria sobre a gravidez e a admissão dos divorciados em segunda união à eucaristia.

Lehmann – disse ainda Kohlgraf – “aceitou o ensinamento do papa, embolsando uma derrota pessoal, sem qualquer amargura”.

“Testamento espiritual” do cardeal Lehmann

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Meu testamento como bispo.

Agradeço a Deus por todos os dons, especialmente pelas pessoas que ele me deu, em particular meus pais, professores e minha pátria. Devo um grande obrigado aos inúmeros irmãos e irmãs, em tempo integral e voluntários, com quem trabalhei e que me apoiaram.

A teologia e a Igreja foram o interesse de toda a minha vida. É algo que eu escolheria de novo. Todos nós, também a Igreja, especialmente na época posterior a 1945, mergulhamos no mundo e sepultamos e ocultamos o além. Isso também vale para mim. Peço perdão a Deus e ao povo. A renovação deve vir profundamente da fé, da esperança e da caridade. Por isso, lembro a todos as palavras do meu lema episcopal, que derivam de São Paulo e que se tornaram cada vez mais importantes para mim: “Permaneçam firmes na fé!”.

Saúdo com gratidão o Santo Padre, os bispos, sacerdotes e diáconos, e todas as colaboradoras e os colaboradores, assim como as irmãs e os irmãos da diocese de Mainz, e da minha arquidiocese casa de Friburgo, bem como os amigos na nossa Igreja e no ecumenismo e os católicos do nosso país, pelos quais, por mais de 20 anos, de bom grado, fui presidente da Conferência Episcopal, e peço que rezem por mim. Sempre guardei no coração a unidade da fé na multiplicidade da nossa vida, sem tapa-olhos e uniformidade.

Ao Capítulo da catedral e aos bispos auxiliares, deixo a organização do funeral e da sepultura. Temos muitos bons costumes!

Por duas coisas eu sofri continuamente e sempre: a nossa terra e, em sentido amplo, a nossa vida são, em muitos aspectos, maravilhosas, belas e fascinantes, mas também são profundamente ambivalentes, destrutivas e assustadoras. Por último, a cobiça pelo poder e o modo inquietante com que o ser humano lida com elas aumentara, cada vez mais. O pensamento brutal e a avidez desconsiderada de poder constituem para mim as expressões mais agudas da incredulidade e do pecado. Resistam aos inícios! Eu sempre trago as palavras de Jesus nos meus ouvidos, relatadas por Lucas: “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará (ainda) fé sobre a terra?”.

Escolham um bom sucessor! Rezem por ele e por mim.

Adeus!

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