31 Janeiro 2018
Há alguns dias, no Chile, o Papa Francisco disse que sobre o bispo de Osorno e sobre seus supostos acobertamentos de abusos de seu mentor, o padre Fernando Karadima, não havia “provas” ou “evidências”. Mas também disse que estava disposto a receber mais testemunhos sobre o caso. O Papa transforma em atos essas palavras e enviará ao Chile um dos maiores especialistas no assunto, o arcebispo Charles J. Scicluna.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 30-01-2018. A tradução é de André Langer.
“Após algumas informações recebidas recentemente sobre o caso de S.E. dom Juan de la Cruz Madrid, bispo de Osorno, no Chile, o Papa Francisco decidiu enviar a Santiago, o arcebispo de Malta, S.E. dom Charles J. Scicluna, presidente do Colégio para o Exame de Recursos (em matéria de delicta graviora) da Seção Ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, para ouvir as pessoas que manifestaram o desejo de submeter elementos em sua posse”.
A nota diz apenas isso. Mas com estas poucas linhas fica claro que, finalmente, chegaram às mãos do Pontífice “algumas informações” sobre o caso, e que Francisco decidiu fazer uma investigação minuciosa para verificar sua consistência e o grau de envolvimento e responsabilidade do bispo chileno. Como é do conhecimento de todos, dom Barros (que foi secretário de Karadima) foi acusado por uma das vítimas deste último: a vítima disse que testemunhou gestos inadequados do próprio Karadima em relação a um menino. De acordo com outros testemunhos, Barros (que mais tarde se tornaria o secretário particular do arcebispo de Santiago, Juan Francisco Fresno Larraín), teria impedido que as denúncias dos abusos cometidos por Karadima chegassem ao cardeal.
A Santa Sé, seguindo a sugestão de alguns membros da Conferência Episcopal do Chile, levou em consideração a possibilidade de que Barros, ao concluir o seu mandato como Ordinário Militar, fizesse um ano sabático, para que, durante esse tempo, as coisas fossem esclarecidas. Mas, ao final, o Papa decidiu nomeá-lo para a diocese de Osorno, distante da capital chilena. Mas ali, a presença do bispo Barros desencadeou críticas e manifestações constantes por parte de grupos de fiéis convencidos de que deveria renunciar.
Bergoglio, até agora, defendeu o bispo, e durante o encontro com jornalistas, ao retornar do Peru para Roma, confirmou que Barros havia enviado duas vezes sua renúncia. Foi o próprio Pontífice, em ambos os casos, que se recusou a aceitá-las, porque, explicou, teria sido um reconhecimento preventivo da culpa.
Depois dessas palavras, as controvérsias não diminuíram e mais de um analista chegou a propor a hipótese de que a defesa do bispo acusado não teria deixado espaço para eventuais averiguações. No entanto, depois de retornar ao dia a dia romano após a viagem, Francisco colocou em movimento a máquina para chegar à verdade e, acima de tudo, para ouvir o que as vítimas têm a dizer.
Dom Scicluna é quem no ex-Santo Ofício (ainda nos tempos do prefeito Joseph Ratzinger) se ocupava dos casos de abusos. E também foi ele quem se ocupou da investigação sobre o fundador dos Legionários de Cristo, o padre Marcial Maciel Degollado. É uma autoridade para investigar a possível responsabilidade de Barros.
Scicluna, de acordo com o que conseguiu constatar Vatican Insider, pretende viajar o quanto antes para o Chile. E, como fez em outras ocasiões, pretende ouvir (como sempre) com atenção e disponibilidade todos aqueles que querem dizer algo sobre o caso.
"Após algumas informações recebidas recentemente sobre o caso de S.E. dom Juan de la Cruz Madrid, bispo de Osorno, no Chile, o Papa Francisco decidiu enviar a Santiago, o arcebispo de Malta, S.E. dom Charles J. Scicluna, presidente do Colégio para o Exame de Recursos (em matéria de delicta graviora) da Seção Ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, para ouvir as pessoas que manifestaram o desejo de submeter elementos em sua posse."
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Caso Barros. O Papa envia Scicluna ao Chile para averiguações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU