31 Janeiro 2018
“Parecia factível que seria possível “trazer o céu à terra” e assim torná-la habitável. A realidade mostrou com insistência que temos os pés sobre o chão do insustentável e que será necessário saltar o impossível. Algo do espírito de 1968 está fazendo falta para superar essa contradição”, escreve Saturnino Rodríguez, em artigo publicado por Religión Digital, 28-01-2017. A tradução é do Cepat.
1968 foi um ano bissexto, iniciado numa segunda-feira, segundo o calendário gregoriano, que precisamente a Organização das Nações Unidas (ONU), através da UNESCO, havia declarado o Ano Internacional dos Direitos Humanos, já que no dia 10 de dezembro se celebrava o 20º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Popularmente, todos o conhecem como Maio francês, que não foi o único e nem tampouco o principal.
Ao estudar os caminhos seguidos pelos sujeitos coletivos no século XX, o cientista político e historiador estadunidense Charles Tilly, em seu livro de 2010: Los movimientos sociales - 1768-2008, destaca como nessa voragem sociopolítica os anos de 1968 e 1989 representam uma onda mobilizadora medular na histórica contemporânea.
Por uma parte, em 1968, nascem os chamados “novos movimentos sociais”, ao passo que 1989 constitui a participação política pela abertura democrática nos regimes socialistas da Europa do Leste. O desenvolvimento dos meios de comunicação seriam chaves no desdobramento dessas campanhas.
Para o jornalista e economista Joaquim Estefanía foi uma rebelião contra o autoritarismo e o imperialismo. Manuel Leguineche, em seu livro Aquel año 68, en Protagonistas del siglo XX, cita o que foi o “maio francês” de 1968 para alguns dos mais famosos franceses.
Para o filósofo francês Jacques Derrida foi “um acontecimento que não sabemos denominar de outra forma a não ser por sua data, 1968”.
Para o sociólogo e filósofo Raymond Aron era uma “revolução 'introuvable'” (“revolução inencontrável”).
Para o advogado e presidente francês François Mitterrand, líder da oposição socialista francesa naquele momento, era “a revolução dos zangãos”.
Para o general e presidente francês Charles De Gaulle, líder da oposição naquele momento, “era a revolução dos filhinhos de papai”.
1968 é hoje mais um símbolo que o começo de uma mudança. Uma explosão de efervescência contestatória que para alguns simplesmente não mudou nada e para outros mudou tudo.
Às vezes, fala-se dela como um ciclo revolucionário (como o da revolução de 1848 ou a revolução de 1989), pela coincidência temporal, no ano de 1968, do “maio francês – que se costuma considerar o epicentro do movimento – com fatos e processos similares.
Fonte: Religión Digital
O “maio francês” se tornou quase o símbolo do restante dos movimentos em outros países. Os estudantes universitários de Paris e outras cidades francesas colocaram em xeque o governo direitista do general De Gaulle. A revolta que começou nas salas se transferiu às ruas, levantou barricadas e isolou do restante da cidade o central Bairro Latino, habitado majoritariamente por estudantes e estrangeiros. O movimento tinha mais sinais de um mal-estar geracional que de uma revolução no sentido marxista ou classista do termo, mas se estendeu por outros países.
O líder franco-alemão Daniel Cohn-Bendit, hoje eurodeputado desde 1994, publicou um livro com um título revelador: Esquerdismo, remédio da doença senil do comunismo que invertia o sentido de uma famosa obra de Lênin: Esquerdismo, doença infantil do comunismo.
Fonte: Religión Digital
Paralelamente aos acontecimentos do maio francês, na “Cortina de ferro”, como chamava Churchill aos países da Europa do Leste, seguindo o lema do sociólogo Radovan Richte em se gerar “um socialismo com rosto humano”, o próprio Secretário Geral do Partido Comunista e chefe do governo checo Alexander Dubcek lançava um audaz plano de reformas para democratizar o sistema.
A sociedade estava influenciada pelo trabalho crítico de cineastas como Milos Forman e Jiri Menzel, por escritores de envergadura como o checo Milan Kundera ou por importantes filósofos do marxismo heterodoxo como o húngaro Georg Lukács. [Leonid Ilítch] Brejnev decidiu acabar com a situação e, entre os dias 20 e 21 de agosto, meio milhão de soldados e 7.000 tanques do Pacto de Varsóvia invadiram a Checoslováquia para derrotar o governo e prender os principais dirigentes.
Os partidos comunistas da Europa ocidental reagiram com grande descontentamento à intervenção militar soviética e três dos mais importantes, os da Itália, França e Espanha, a criticaram abertamente, distanciaram-se de Moscou e renovaram seu pensamento e propostas: nascia o chamado “eurocomunismo”. Nesta excisão, destaca-se a figura de Enver Hoxha, chefe de Estado e ditador comunista albanês.
O eurocomunismo foi desenvolvido pelos dois principais partidos ocidentais da época: o Partido Comunista Italiano (PCI) e o Partido Comunista Francês (PCF) e também pelo Partido Comunista da Espanha (PCE). Historicamente, os partidos comunistas que renunciaram ao leninismo em favor do eurocomunismo, e até a atualidade, costumam ser denominados marxistas revolucionários em contraposição aos marxista-leninistas.
Fonte: Religión Digital
O ano de 1968 foi decisivo para o futuro da China: por um lado, Lin Biao afirmava que “a revolução cultural triunfou”, ao passo que, por outro, sua derrota foi destacada pelo extermínio ou absorção no exército da maioria dos “guardas vermelhos” que foram seu motor.
Era outro movimento de massas, composto em sua maioria por estudantes universitários mobilizados por Mao Tsé-Tung, entre 1966 e 1967, durante a Revolução Cultural, contra os elementos elitistas da sociedade e que, depois, desencantados, seriam os primeiros dissidentes chineses.
A China virava a página de um complicado período de sua história contemporânea, de extremismo ideológico que levava à revolução permanente e à guerra civil, mas também de retificação para a estabilidade, a moderação e a modernização, como demonstrou no seguinte quarto de século.
Fonte: Religión Digital
1968 significou um “antes e um depois” na guerra do Vietnã, que atingia a marca de 536.000 soldados. No entanto, a ofensiva guerrilheira do mês de janeiro, coincidindo com as festividades do Tet (novo ano lunar) e o início da época chuvosa no trópico vietnamita, mudou a tendência à escalada militar e a partir desse momento os Estados Unidos buscaram uma forma de se retirar. Tornava-se patente e insustentável o fracasso do intervencionismo imperial.
O envolvimento estadunidense no conflito vietnamita havia começado em 1961 com Kennedy, que invocou a “teoria do dominó” (ao parecer de Einsenhower) segundo a qual se todo Vietnã caísse nas mãos comunistas, cairia toda a Indochina e poderia ser seguido pelo restante da Ásia. Com isso, o comunismo se tornaria imparável.
O otimismo oficial norte-americano de vitória, baseado nos “3 M” do general Maxwell Taylor (Men, Money, Material, ou seja, homens, dinheiro, material de guerra) se desmoronava pressionado pela opinião de seus aliados e a do público. Em 1975, cairia Saigon, que era rebatizada com o nome de “cidade Ho Chi Minh”. O país era reunificado, todo ele sob o regime socialista e com sua capital na nortenha Hanói. O imperialismo havia sido derrotado.
Fonte: Religión Digital
As manifestações contra a guerra do Vietnã foram numerosas nos Estados Unidos. Uma das principais partia do monumento a Lincoln, em Washington, até chegar ao Pentágono. A derrota dos Estados Unidos foi obra do povo vietnamita, que passou de um milhão de mortos. Contudo, foi determinante a reviravolta da opinião pública estadunidense contra a guerra, que cobrou 58.000 vidas de jovens estadunidenses e destroçou o futuro de 300.000 que foram feridos ou mutilados.
Em 1968, após oito anos de intervenção, os Estados Unidos tinham perdido sua imagem de potência anticolonialista e pacifista para surgir como uma potência imperialista e agressiva. O impacto popular de fotos como a do Massacre de My Lai, causando 500 mortes de crianças, mulheres e anciãos e a da jovem manifestante oferecendo uma flor à Guarda Nacional frente ao Pentágono confirmavam o “Não à guerra” que havia se internacionalizado.
O Festival de Woodstock foi uma festa de rock e movimento hippie, no White Lake de Nova York, que durante três dias do mês de agosto agrupou cerca de 500.000 jovens. Woodstock se tornou o ícone de uma geração cansada das guerras, que pregava a paz e o amor como forma de vida e demonstravam sua rejeição ao sistema, portanto, grande parte das pessoas que compareceram a tal festival era hippie.
Daniel Berrigan foi um sacerdote jesuíta ativista pela paz estadunidense e poeta que, assim como seu irmão Philip Berrigan, também sacerdote, esteve na lista dos 10 fugitivos mais procurados pelo FBI, por sua participação nos protestos civis contra a guerra do Vietnã. Junto ao monge trapista Thomas Merton, famoso escritor e poeta, fundaram uma coalizão intereclesial contra a Guerra do Vietnã e escreveram conjuntamente cartas aos principais jornais argumentando a necessidade de lhe colocar fim. Encarcerado em várias ocasiões, Berrigan continuou como ativista contra a guerra e participou dos protestos contra a intervenção estadunidense na América Central, contra a Guerra do Golfo, a Guerra do Kosovo, a Guerra do Afeganistão e a Invasão do Iraque, em 2003.
O padre Berrigan foi um dos principais organizadores de Catonsville Nine (os nove de Catonsville) que, no dia 17 de maio de 1968, foram à junta de recrutamento militar em Catonsville (estado de Maryland), pegaram 378 recipientes de arquivos, levaram ao estacionamento e lançaram sobre eles napalm, feito em casa, que era o incendiário usado pelos militares dos Estados Unidos no Vietnã e colocaram fogo. Esse grupo de católicos emitiu um comunicado confrontando “a Igreja Católica, a outros coletivos cristãos e às sinagogas dos Estados Unidos, por seu silêncio e covardia frente aos crimes de nosso país”.
Fonte: Religión Digital
O Free Speech Movement (FSM) (ou Movimento Liberdade de Expressão) foi um protesto estudantil que começou no campus da Universidade da Califórnia, Berkeley, sob a liderança do estudante Mario Savio e outros. Nos protestos, sem precedentes até essa data, os estudantes reivindicavam que a administração universitária não proibisse a realização de atividades políticas dentro do campus e reconhecesse seu direito à liberdade de expressão e liberdade acadêmica. O movimento Liberdade de Expressão é citado frequentemente como um ponto de começo para muitos movimentos estudantis de protesto dos anos ao redor de 1968.
Nos laboratórios da Universidade de Berkeley, em San Francisco, havia nascido o LSD, droga sintética alucinógena que inspirou a nova corrente da arte psicodélica que entrou na moda entre a juventude. Tudo isso fazia parte da “contracultura” ou “underground” que contradizia os valores e a hipocrisia imperantes na sociedade. Do mesmo modo com o tema da sexualidade. Neste ambiente, surgiu a convocação para três dias de festival musical em Woodstock, na costa leste. “Contracultura” foi o termo alcunhado pelo historiador estadunidense Theodore Roszak, professor da Universidade Estatal da Califórnia, em seu livro precisamente desse ano de 1968: “O nascimento de uma contracultura”. E era a base dos “beatniks” (derrotado) e, depois, do movimento “hippie” e até da música pop.
Fonte: Religión Digital
Os acontecimentos de 1968 na capital mexicana demonstrariam o dramatismo que as lutas sociais podiam alcançar nos países periféricos, sendo protagonistas os estudantes universitários. Apesar de o México ser um país excepcionalmente democrático na América Latina, junto ao Chile e Costa Rica, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) demonstrou tendência ao autoritarismo na conjuntura de 1968.
Os estudantes da grande Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) realizaram uma série de assembleias para demandar uma reforma universitária, semanas antes da realização dos Jogos Olímpicos, em setembro, tomando a Praça das Três Culturas (ou Tlatelolco). Tropas combinadas de polícia e exército irromperam provocando o cerco a mais de 4.000 manifestantes, ocorrendo a matança de 200 pessoas, presos e “desaparecidos” executados depois, em uma verdadeira manobra de conspiração governamental para acabar com o movimento opositor, em sua face mais visível que era o movimento estudantil, segundo a doutrina dos Estados Unidos de “segurança nacional” e terrorismo de Estado, semelhante a seguida pelas ditaduras militares no continente.
Fonte: Religión Digital
Martin Luther King foi um pastor estadunidense da Igreja Batista e ativista em prol dos direitos dos negros, razão pela qual recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1964, e que morreu assassinado no dia 4 de abril de 1968, em Memphis, Tennessee. O assassinato de Martin Luther King provocou uma onda de violência e protestos por todo o país. Na imagem, Washington D. C após os distúrbios de abril de 1968.
Fonte: Religión Digital
Os movimentos de 1968 compartilharam de um modo muito impreciso a mesma dimensão cultural e política, com grande presença estudantil, de natureza colegiada (mais ou menos manipulada ou espontânea), mas sempre ultrapassando os canais de participação cidadã convencional, sindicais ou políticos.
Diferente do Maio Francês, da Primavera de Praga e de outras repercussões da denominada revolução de 1968 em outros países, na Espanha não passaram de greves e manifestações reprimidas pelo governo de Franco, que grupos de esquerda buscaram conectar com as mobilizações universitárias e que, em alguns casos, mantinham algum tipo de contato internacional com jovens espanhóis presentes em Paris, Londres, Estados Unidos e Checoslováquia. Curiosamente, é nesse ano de 1968 que se aprova a criação das Universidades “Autonómas” em Madri, Barcelona e Bilbao.
Respondendo às manifestações universitárias, no mês de janeiro, o governo fecha a Faculdade de Política e Economia de Madri e, no mês de maio, é fechada a Faculdade de Filosofia de Madri, após a tentativa de se proclamar uma “Comuna estudantil”. No mês de março, é fechada a Universidade de Sevilha e ocorrem manifestações nas universidades de Zaragoza, Bilbao, Granada, Pamplona, Santiago e Barcelona com atuações policiais. Alcançaram maior impacto como atos culturais solidários com as mobilizações operárias, como os concertos de Raimon (o com maior presença no dia 18 de maio) nos recintos universitários de várias Faculdades da Universidade Complutense de Madri, cuja condição jurídica e tolerância das autoridades acadêmicas tornava a convocação possível.
Como fatos vinculados a 1968, mas conectados pela sensibilidade propensa à luta armada, ao anticapitalismo e ao terceiro-mundismo, é significativo que em 1968 se produziram os primeiros atentados do ETA, que conduziram ao Processo de Burgos. Destacou-se que a relação existente entre esse primeiro grupo do ETA e o Partido Nacionalista Basco tinha muito a ver com uma ruptura geracional entre pais e filhos, similar à existente entre os franceses que viveram a Segunda Guerra Mundial e a resistência e os jovens das barricadas de maio. O assassinato, anos depois, em um hipermercado em Barcelona e o assassinato do jovem vereador basco M. Ángel Blanco desataram o clamor popular em manifestações multitudinárias.
Fonte: Religión Digital
Os historiadores destacaram 1968 como o ano em que começou a operar a interconexão de computadores colocados em rede, que inicialmente era um projeto secreto do Pentágono, já que no caso de um ataque teriam capacidade de coordenação e de resposta, mesmo se a sede do alto comando fosse destruída no primeiro golpe. Um tempo depois, o Pentágono transferia para um grupo de universidades essa tecnologia com a qual, em pouco tempo, seria possível o desenho da linguagem “html” e o surgimento da rede mundial de redes ou “www”, mais conhecida como a internet. Toda uma revolução para a comunicação entre pessoas e também as empresas.
A tecnologia da internet está muito ligada a outro avanço tecnológico: ao dos satélites e a exploração do espaço, com a competição das superpotências dos Estados Unidos e a URSS, que seria a primeira a colocar um satélite em órbita terrestre (o Sputnik), também a enviar um ser vivo ao espaço e fazê-lo regressar (a cachorrinha Laika), bem como ao primeiro ser humano, de ida e regresso (o astronauta Gagarin). Os Estados Unidos compensavam o atraso colocando um homem na lua e situando uma estação permanente no espaço. Os Estados Unidos foram se impondo sobre a URSS que caiu na ruina financeira.
1968 tornava os Estados Unidos a única e indiscutível hiperpotência militar do planeta, tal como se tornou hoje em dia, conseguindo o desaparecimento do império soviético. No dia 11 de outubro de 1968, os Estados Unidos realizaram a primeira missão tripulada e levaram à órbita terrestre o Apolo-7. No dia 8 de dezembro de 1968, a URSS decidiu lançar uma nave tripulada à órbita lunar, mas o lançamento foi adiado devido às falhas no foguete portador Protón. No dia 21 de dezembro de 1968, os astronautas estadunidenses Frank Borman, Jim Lovell e Bill Anders realizaram o primeiro voo tripulado ao redor da Lua, no Apolo-8.
Fonte: Religión Digital
Também a Igreja (e outras confissões) recebia o impacto de 1968. O Concílio Vaticano II, entre 1963 e 1965, impulsionado pelo Papa João XXIII e continuado por seu sucessor Paulo VI, marcou uma importante renovação da Igreja Católica, indo ao encontro das mudanças próprias do mundo moderno e da aproximação com o sentir e o sofrer dos fiéis. Destacou que o pecado é, antes de tudo, a injustiça que há e que a paz deve se basear na justiça. Mensagem reiterada e apontada na encíclica papal Populorum Progressio, em 1967. No mesmo ano, isto foi repetido em um Encontro dos Bispos do Terceiro Mundo, no qual se refletia a nova consciência eclesial, encabeçado pelo brasileiro Hélder Câmara. Se a Igreja se voltava ao mundo, sua postura se radicalizava ali onde o mundo era pobre e oprimido. Não podia ser de outra forma.
Este espírito era levado em conta para América Latina por seus bispos, reunidos entre agosto e setembro de 1968, na II Conferência do Episcopado Latino-Americano, em Medellín, Colômbia. Os bispos ali reunidos constatavam que o continente latino-americano vivia um momento histórico, no qual se fazia necessário estar atento aos “sinais dos tempos”. Estava em jogo a emancipação da América Latina, a libertação de seus povos. A miséria, concluíam, “é uma injustiça que clama ao céu”. Paulo VI, na primeira viagem que era realizada por um Papa à América, dizia na abertura de Medellín que “nossa força está no amor”... “nem o ódio e nem a violência são a força de nossa caridade. Entre os diversos caminhos para uma justa regeneração social, nós não podemos escolher nem o do marxismo ateu, nem o da rebeldia sistemática, muito menos o do derramamento do sangue e o da anarquia”.
“Comunidades eclesiais de Base” e “Teologia da Libertação”
Como resposta eclesial latino-americana ao Concílio e à Conferência de Medellín, em 1968, surgiam no Brasil e em toda a América as Comunidades Eclesiais de Base (CEB), animadas pelo franciscano Leonardo Boff . O teólogo e professor peruano Gustavo Gutiérrez publicava Teologia da Libertação, que seria como o nascimento de uma forte corrente e compromisso da Igreja, compreendendo que o Evangelho exige “a opção preferencial pelos pobres” e, daí, recorrer às ciências humanas e sociais para definir as formas em que deve se realizar aquela opção. Todo um movimento que se estenderia como ação e pensamento em outros teólogos por toda a Igreja, com preocupação dos hierarcas mais intolerantes.
Fonte: Religión Digital
Concluímos com uma citação do famoso historiador e agudo analista Eric John Ernest Hobsbawm: “Em 1968-1969, uma onda de rebelião sacudiu aos três mundos ou grande parte deles, encabeçada essencialmente pela nova força social dos estudantes, cujo número se contava, agora, por centenas de milhares, inclusive nos países ocidentais de tamanho médio, e que logo se converteriam em milhões”. Eric Hobsbawm utiliza a palavra “rebelião”, considerando que na ordem do dia não figurava a “revolução mundial” como a entendeu a geração de 1917, porque “ninguém esperava já uma revolução social no mundo ocidental”.
Hoje, aqueles sonhos de 1968 entre a realidade e a utopia temos desejado reviver com aquilo de que em nossa época “outro mundo é possível”. É a necessidade de reviver esses tempos anteriores, quando se pensou com ilusão, mas ilusoriamente, que tudo seria possível.
Parecia factível que seria possível “trazer o céu à terra” e assim torná-la habitável. A realidade mostrou com insistência que temos os pés sobre o chão do insustentável e que será necessário saltar o impossível. Algo do espírito de 1968 está fazendo falta para superar essa contradição.
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