13 Dezembro 2017
O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé disse que este círculo argentino, próximo ao papa, está "prejudicando Roma".
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 08-12-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O Cardeal Gerhard Müller culpabilizou um grupo de clérigos anti-romanos da Argentina por terem convencido o Papa Francisco a demiti-lo, em junho deste ano, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF).
"Desde o início, algumas forças que estavam nos bastidores sugeriram que eu estava no caminho do papa e no caminho de suas noções de pontificado e da Igreja, divulgando suas opiniões", disse o ex-prefeito da CDF, no dia 5 de dezembro.
Falando ao programa "Report München", na mais emblemática rede de televisão alemã, o cardeal disse que este círculo argentino estava convencido de que seria melhor para a Igreja se alguém "com um foco diferente" fosse o prefeito da CDF. Ele disse que essa era a "única e exclusiva" razão pela qual o papa o demitiu do posto.
Müller disse que este círculo argentino próximo ao papa está "prejudicando Roma" e está convencido de que é preciso haver uma limpeza na Cúria Romana. Mas ele disse também que outros acreditam que essa força nos bastidores tenha feito um desserviço à Igreja.
"Não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos. E nem sempre tivemos experiências positivas neste campo", lembrou ele.
O cardeal disse que o Arcebispo Luis Ladaria, o jesuíta espanhol que tinha sido seu secretário na CDF e que assumiu o cargo, "está na mesma sintonia que eu e, portanto, [a demissão do ex-prefeito] é difícil de entender".
Müller, que até agora vinha geralmente defendendo o Amoris Laetitia, a exortação pós-sinodal do Papa Francisco, criticou largamente o documento na entrevista do dia 5 de dezembro.
Ele disse que a famosa nota de rodapé - que abre caminhos para que divorciados ou pessoas que casaram mais de uma vez recebam os sacramentos, desde que sob algumas circunstâncias e, em casos especiais -, era "teologicamente fraca".
Embora isso se trate de uma preocupação legítima, o cardeal disse que esta temática não foi suficientemente trabalhada teologicamente. "Acondicionar a mensagem em uma mera nota de rodapé, considerando o peso que o assunto carrega, simplesmente não é o suficiente para resolver a situação", disse ele.
O cardeal Müller disse que confessar não significa que a absolvição é dada e que tudo está bem novamente. Ele disse que isso pressupõe uma conversão, um novo começo e a prontidão para viver de acordo com os mandamentos de Deus. Por esse motivo, ele também disse que teria sido melhor se a Congregação para a Doutrina da Fé tivesse feito a edição final desta passagem na Amoris Laetitia.
O cardeal também criticou o entusiasmo da mídia pelo Papa Francisco, dizendo que seria melhor se as pessoas ouvissem as principais palavras de fé do papa e as colocassem em prática, em vez de procurarem por sensações.
"É preciso perguntar-se por que causa tão boa impressão ao papa lavar os pés das pessoas. Afinal, todo bispo faz isso", disse ele.
Müller também expressou irritação para aqueles que prestam atenção em detalhes secundários, como o fato de que, ao contrário de seu antecessor, Francisco use sapatos pretos, ao invés de vermelhos, e opte por viver na residência de Santa Marta em vez do palácio papal.
Ele disse que fazer de Francisco um popstar é uma "agressão" à figura papal e uma tentativa de forçá-la a um papel que não é, "de maneira alguma", parte de seu ministério. O cardeal disse que a função do papa é "ainda" determinada por Cristo e não pelos vários meios de comunicação ou sua audiência.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Müller atribui sua expulsão a anti-romanos, círculo argentino próximo ao papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU