30 Novembro 2017
O Papa Francisco cercado por monges vestidos de vermelho escuro no Kaba Aye Center de Rangum. Neste terceiro dia em Mianmar, pretende lançar um sinal claro e forte em um país no qual os budistas são a maioria e onde os que sofrem as discriminações são as minorias étnicas e religiosas, muçulmanas e cristãs. “Que nós, budistas e católicos, caminhemos juntos ao longo deste caminho de cura, e trabalhemos lado a lado pelo bem de cada um dos habitantes desta terra”, disse Bergoglio, pedindo a superação de “todas as formas de incompreensão, de intolerância, de preconceito e de ódio”.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 29-11-2017. A tradução é do Cepat.
O encontro ocorre à tarde (hora local), no lugar simbólico do budismo Theravada: o Kaba Aye Center, dominado pela homônima “Pagoda da paz mundial”, que é um dos templos budistas mais venerados no sudeste asiático. O edifício, construído em 1952, tem uma importante cúpula de ouro sustentada por seis colunas, que simbolizam os seis Conselhos do budismo, e o último deles foi realizado justamente neste lugar, de 1954 a 1956.
Francisco é recebido e saudado pelo venerável Bhaddanta Kumarabhivamsa, presidente do Comitê estatal Shanga Maha Nayaka. Também está presente Thura Aung Ko, ministro de Assuntos religiosos e culturais de Mianmar. Na entrada, Bergoglio retira os sapatos, como todos, antes de adentrar no recinto. Os monges estão sentados em cadeiras de madeira em um dos lados da sala, ao passo que diante deles se sentam o Pontífice e sua comitiva.
O presidente dos monges afirma em seu discurso: “Neste nosso mundo atual, é deplorável ver ‘terrorismo e extremismo’ em ato, em nome dos credos religiosos. Posto que todas as doutrinas religiosas ensinam só o bem da humanidade, não podemos aceitar que o terrorismo e o extremismo nasçam de interpretações erradas dos ensinamentos originais das respectivas religiões, porque alguns seguidores introduzem emendas aos ensinamentos originais, sob o impulso dos próprios desejos, instintos, medos e desilusões, os quatro obstáculos para o reto pensamento”.
O encontro, explica o Papa ao tomar a palavra, é “também uma oportunidade para reafirmar nosso compromisso pela paz, o respeito à dignidade humana e a justiça para todos os homens e mulheres. Não só em Mianmar, mas também em todo o mundo, as pessoas necessitam que os líderes religiosos deem este testemunho comum. Porque quando nós falamos com uma só voz - acrescenta Bergoglio -, afirmando o valor perene da justiça, da paz e da dignidade fundamental de todo ser humano, oferecemos uma palavra de esperança. Ajudemos aos budistas, aos católicos e a todos a lutar para alcançar uma maior harmonia em suas comunidades”.
Francisco recorda as injustiças e os conflitos que nesta época “parecem ser particularmente graves”, e pede para não se resignar, mas seguir “a via que leva à cura, à mútua compreensão e ao respeito. Uma via baseada na compaixão e no amor”. Francisco expressa “meu apreço a todos os que em Mianmar vivem segundo as tradições religiosas do Budismo. Através dos ensinamentos de Buda, e o testemunho eloquente de muitos monges e monjas, as pessoas desta terra foram formadas nos valores da paciência, da tolerância e do respeito à vida, assim como em uma espiritualidade atenta e profundamente respeitosa ao nosso meio ambiente. Como sabemos, estes valores são essenciais para um desenvolvimento integral da sociedade”.
O grande desafio de nosso tempo, continua, “é o de ajudar as pessoas para que se abram à transcendência”, mas nos dando conta de que “não podemos permanecer isolados uns dos outros”. Bergoglio cita Buda e São Francisco: “Se devemos estar unidos, como é nosso propósito, é necessário superar todas as formas de incompreensão, de intolerância, de preconceito e de ódio. Como podemos fazer isto? As palavras de Buda oferecem a todos nós uma direção: “Conquista ao homem irado mediante o amor; conquista ao homem de má vontade mediante a bondade; conquista ao avarento mediante a generosidade; conquista ao mentiroso mediante a verdade”. São sentimentos parecidos aos que são expressados na oração atribuída a São Francisco de Assis: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão [...] Onde há trevas, que eu leve a luz. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria”.
Francisco espera que “esta sabedoria” possa continuar “animando todos os esforços que são realizados para promover a paciência e a compreensão, e para curar as feridas dos conflitos que ao longo dos anos dividiram pessoas de diferentes culturas, etnias e convicções religiosas. Estes esforços não são apenas prerrogativas dos líderes religiosos, nem competência exclusiva do Estado. Ao contrário, a sociedade em seu conjunto, todos aqueles que vivem na comunidade, são os que devem compartilhar a tarefa de superar o conflito e a injustiça. No entanto, os líderes civis e religiosos têm a responsabilidade própria de garantir que cada voz seja escutada”.
Para fazer isto, é preciso uma “maior cooperação entre os líderes religiosos”. E o Papa afirma: “desejo que vocês saibam que a Igreja Católica é uma interlocutora disponível”. “Que nós, budistas e católicos – conclui –, caminhemos juntos ao longo deste caminho de cura, e trabalhemos lado a lado pelo bem de cada um dos habitantes desta terra”.
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“Católicos e budistas juntos para curar as feridas do povo birmanês”. O desejo do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU