28 Junho 2017
O diretor de cinema Martin Scorsese foi premiado por sua carreira artística durante a Catholic Media Convention, evento realizado em Quebec, no Canadá. O cineasta aproveitou a oportunidade para falar da sua relação na infância com a Igreja e dizer que o seu filme de 2016, “Silêncio”, é um “filme de um crente”.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por Catholic News Service, 23-06-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Para o diretor Martin Scorsese, fé e filmes são obsessões de longa data, obsessões que, segundo disse, lhe trouxeram momentos de paz em meio a turbulências, mas também desafios e frustrações que, em retrospectiva, ele toma como lições de humildade.
“Para mim, as histórias sempre tiveram a ver com a maneira como devemos viver quem somos. As histórias têm muito a ver com o amor, confiança e traição”, disse, explicando que esses temas o acompanham desde a infância passada em Nova York e na Catedral de São Patrício desta cidade, onde foi coroinha.
Scorsese discursou no dia 21 de junho em Quebec, em sessão conjunta da Catholic Media Convention (convenção da Associação de Imprensa Católica), e do congresso mundial da Signis, associação internacional dos profissionais de imprensa católica. Na ocasião, ambos os grupos presentearam o cineasta com um prêmio por excelência em cinema.
Antes de Scorsese responder a perguntas formuladas pelo escritor Paul Elie, os participantes assistiram ao filme “Silêncio” baseado no romance de Shusaku Endo. O livro e o filme são um relato ficcional da perseguição aos cristãos no Japão ocorrida no século XVII; os personagens centrais são os missionários jesuítas, que recebem ordens para negar a fé ou encarar a morte, após testemunharem o assassinato de seus paroquianos.
Muito embora “Silêncio” não seja tão polêmico quanto o seu filme de 1988, “A Última Tentação de Cristo”, Scorsese falou que as duas produções estão relacionadas e não apenas porque um bispo episcopaliano lhe deu o livro de Endo depois de ver o filme de 1988.
Mesmo antes de começar as filmagens de “A Última Tentação de Cristo”, baseado em um romance de Nikos Kazantzakis e que explora o lado humano de Jesus, as pessoas escreveram cartas ao estúdio e aos produtores se queixando dos planos de levar a história para as telas de cinema.
Ao recordar o episódio, Scorsese disse que um produtor executivo lhe perguntou por que queria tanto fazer este filme.
“Para conhecer melhor Jesus”, respondeu Scorsese. “Essa foi resposta que me veio à mente”.
Se afirmarmos que Jesus é plenamente divino e plenamente humano, disse o cineasta, as pessoas poderão olhar para a sua humanidade.
Mas Scorsese contou ao público em Quebec que as explorações que fez sobre quem é Jesus e o que a fé de fato significa não se esgotaram, de forma alguma, no filme.
“A caminhada é muito mais ampla”, disse. “Ela não acabou”.
Ao ler o romance de Endo, e ao trabalhar por duas décadas para fazer o filme e, finalmente, concluí-lo, Scorsese disse que estava “em busca do cerne da fé”.
O ponto alto do filme é quando um dos jesuítas cede e, para salvar os fiéis que estão sendo torturados, pisoteia uma imagem religiosa. No entanto, o personagem acredita que aquele ato de apostasia oficial é, na realidade, uma forma mais elevada de fé, pois, ao sacrificar a sua própria alma, ele está salvando a vida dos demais.
“É quase como um dom especial ser chamado para encarar um desafio como este, porque se tem a oportunidade de, de fato, ir além e, realmente, chegar ao cerne da fé e do cristianismo”, disse Scorsese.
No fim, o padre “nada tem para se orgulhar” – nem sua fé, nem sua coragem – e “é apenas um egoísmo puro”, explicou o diretor. “É como um presente para ele”.
“Acho que não há dúvidas de que é um filme de um crente”, disse. “Pelo menos, para mim”.
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Scorsese diz que uma infância religiosa e de filmes continua a inspirá-lo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU