13 Fevereiro 2017
A um ano do discurso que o Papa Francisco fez na Catedral Metropolitana da Cidade do México e que foi interpretado como uma “bronca” pela hierarquia católica, os bispos se omitiram e não foram vistas mudanças que se refletiram em ações concretas que vão além dos pronunciamentos, concordaram especialistas.
A reportagem é de Astrid Rivera e publicada por El Universal, 12-02-2017. A tradução é de André Langer.
Para Bernardo Barranco, analista de temas religiosos, o discurso que o Papa Francisco fez na Catedral Metropolitana “entrou por um ouvido e saiu pelo outro”, uma vez que, pelo que tudo indica, os bispos não entenderam bem essa bronca, que, ao invés de um “puxão de orelha”, poderia ter representado uma proposição para um programa de trabalho baseado na unidade e na pastoralidade, o que até este momento “não souberam ou não quiseram acatar”.
“Parece que os bispos não entenderam a bronca. Os bispos seguem em sua zona de conforto com o governo que, às vezes, o mima e outras vezes o confronta, tornaram-se como que a virgem lhes fala, estão desperdiçando a oportunidade de mudar. A um ano quiseram sepultar este discurso tem atitude típica de políticos tradicionais”, disse.
Ele indicou que a passividade e a omissão com que os bispos receberam a mensagem de Francisco são “uma demonstração de rebeldia ao não acatar uma indicação da cabeça da Igreja. [O discurso pronunciado na Catedral Metropolitana] não foi discurso qualquer; é um programa de governo proposto pela cabeça da Igreja e ao qual os bispos estão resistindo, sendo omissos, guardando silêncio, com uma atitude de frieza”.
Destacou que houve, sim, algumas mudanças, como a nomeação de Carlos Garfias Merlos para a Arquidiocese de Morelia ou a chegada do núncio apostólico Franco Coppola.
Elio Masferrer Kan, pesquisador da Escola Nacional de Antropologia e História, concordou em que após o “puxão de orelhas” de Jorge Mario Bergoglio aos cardeais, estes “não ouviram nada, não fizeram nada e não se percebe nenhuma mudança significativa. A Igreja católica necessita de um terremoto para mudar e Francisco deu apenas uma sacudida”.
Kan comentou que, após a visita do Papa argentino, ganharam legitimidade algumas correntes, como a Teologia da Libertação, mas que “a maioria do episcopado não fez nada” e continua prevalecendo uma agenda moral em temas como o aborto e os casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Para Jorge Traslosheros Hernández, pesquisador do Instituto de Pesquisas Históricas da UNAM, a visita do hierarca católico fez com que os bispos que têm uma linha pastoral de maior proximidade com as pessoas ganhassem um impulso, ao passo que o cardeal Norberto Rivera Carrera ficou muito isolado, depois que se chegou a interpretar que a mensagem do Papa na Catedral Metropolitana se dirigia a ele.
Ele considerou que Rivera Carrera é um dos últimos bispos “principescos” que ainda restam na Igreja católica.
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México. Bispos ignoram apelo do Papa, dizem especialistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU