31 Janeiro 2017
Como São João Bosco fez há mais de um século, o Papa Francisco contou com um “sim” retumbante à possibilidade de transformação, repetidamente convidando os jovens a liderarem uma “revolução da ternura” no nosso mundo de hoje. O pontífice convocou-os a trabalhar contra a “globalização da indiferença” e a buscar formas de ser irmãos e irmãs entre si e com os que os circundam.
Nesta terça-feira, a Igreja Católica celebra o dia de São João Bosco, um dos evangelistas mais importantes para a juventude.
A reportagem é de Father Jeffrey F. Kirby, publicada por Crux, 28-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
João Bosco viveu dias difíceis. A Igreja de seu tempo era ameaçada de perseguição externa e de desunião interna. Os padres da época bem poderiam voltar suas atenções aos problemas em torno dessas questões. O trabalho social e o ministério seriam facilmente eclipsados e esquecidos.
E, no entanto, João Bosco ignorou tais distrações e, diferentemente, enxergou as maiores necessidades da humanidade, especialmente situação das crianças de rua na região em que vivia.
A história conta que o jovem Pe. João Bosco se preparava para a missa quando uma criança veio à sacristia implorar por comida. O padre a convidou que ficasse para a celebração e disse que, depois, ela ganharia algo para comer. No dia seguinte, mais crianças se aproximaram. Em breve, João Bosco percebeu tanto a necessidade dessas crianças quanto o seu chamado ao serviço.
Passou então a se encontrar em grupo com crianças de rua, e essa iniciativa levou à organização de pequenos oratórios onde elas seriam alimentadas e abrigadas, aprenderiam virtudes e orações; João Bosco orientou um ofício que as manteria fora das ruas.
Os esforços de João Bosco lhe renderam a estima de muitos, e o ódio de alguns. Os chefões viram o declínio de jovens de rua em suas iniciativas criminosas, e o ameaçaram. João Bosco continuou inabalável, entretanto, dando seguimento ao seu trabalho social.
Para o santo, a sua iniciativa nunca teve a ver com uma aceitação ou rejeição pública; não teve a ver com ameaças externas, nem com o caos interno da Igreja; tinha a ver com cumprir a vocação recebida por Deus, de ajudar os esquecidos e empoderar os jovens para terem uma vida boa e virtuosa.
No fim da vida de João Bosco, o Senhor mostrou-lhe uma imagem de uma longa fila de jovens em vestes brancas. Quando perguntou quem eram, o Senhor respondeu: “Estes foram os que consegui salvar porque você confiou em mim”. O santo viu outras figuras. Eram seres humanoides semelhantes a monstros. Quando perguntou quem eram, o Senhor respondeu: “Estes são os que não consegui salvar porque você não confiou mais em mim”.
E assim a vida de São João Bosco lembra a necessidade da clareza e da confiança espirituais. O testemunho do santo apresenta-se como um espelho para nós na Igreja de hoje: Como estamos servindo os esquecidos? Como estamos recebendo os jovens?
Verdadeiro à narrativa sagrada da história da salvação, um outro fiel foi criado com uma vocação semelhante à dada a São João Bosco. Mais uma vez, encontramos a fé cristã sob perseguição externa e a Igreja sendo enfraquecida por contendas internas. Muito facilmente a loucura e a mania da época poderiam atrapalhar ou desviar um fiel daquele chamado feito por Deus.
E, no entanto, o Papa Francisco recolheu o manto de João Bosco e, apesar das disputas dentro da Igreja, ele tem dado atencioso aos jovens e o convocado-os ao trabalho em nossos dias. Indo além dos debates, o papa volta-se aos esquecidos e busca encontrar e servir os jovens do século XXI.
Em sua abordagem, o papa nota o paradoxo de uma cultura que idolatra a juventude – todo mundo parece querer ser jovem, especialmente no Ocidente –, mas, ao mesmo tempo, uma tal cultura não tem dado voz nem vez a esta parcela da sociedade, especialmente no tocante ao desemprego e nos ambientes decisórios.
Ao se inspirar nos esforços do século XIX de João Bosco, o papa vem convidando o mundo, especialmente a Igreja, a orientar os jovens para o encontro do propósito e lugar deles no mundo contemporâneo.
No início da última edição da Jornada Mundial da Juventude, ocorrida em Cracóvia, na Polônia, o papa desafiou os jovens perguntando com ousadia: “É possível transformarmos as coisas?” E, desejosos, os jovens responderam: “Sim!”
Francisco está contando com esse “sim” quando repetidas vezes convida a juventude a liderar uma “revolução da ternura” em nosso mundo atual. Ele convocou os jovens a trabalhar contra a “globalização da indiferença” e a buscar formas de ser irmãos e irmãs entre si e com os que os circundam.
O papa não só voltou o seu próprio coração aos jovens, mas, ao escolher o tema do próximo Sínodo dos Bispos, também fez voltar a eles tantas outras lideranças eclesiásticas. Intitulada “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, a próxima assembleia sinodal irá se debruçar sobre esta parcela da população.
Na carta em que anuncia o Sínodo, o papa escreve aos jovens e às jovens: “Constrói-se um mundo melhor também graças a vocês, ao seu desejo de mudança e generosidade. (…) Também a Igreja deseja colocar-se à escuta de sua voz, de sua sensibilidade, de sua fé; até de suas dúvidas e suas críticas. Façam ouvir o seu grito”.
E, assim, o próximo Sínodo dos Bispos acontecerá no espírito de São João Bosco. Mais uma vez, uma pessoa sagrada vai trabalhar apesar das tensões, responderá um chamado de Deus e voltar-se-á aos jovens ofertando ajuda, diálogo, orientação bondosa e uam grande esperança.
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Como São João Bosco, Francisco convida os jovens para uma “revolução da ternura” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU