11 Janeiro 2017
Segundo Yago de la Cierva, leigo, membro espanhol do Opus Dei que ajudou a organizar várias edições da Jornada Mundial da Juventude – JMJ, a edição de 2016 ocorrida em Cracóvia, na Polônia, foi a menos cara de todos os tempos terminando com um saldo positivo.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 10-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Quando o recém-nomeado cardeal americano Kevin Farrell assumiu o recém-criado Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, ele herdou alguns megaprojetos, entre eles o Encontro Mundial das Famílias e a Jornada Mundial da Juventude, eventos de grande escala realizados em diferentes cidades do mundo a cada dois ou três anos.
O mais recente Encontro Mundial das Famílias aconteceu na Filadélfia, e foi a força motriz da primeira visita do Papa Francisco aos EUA em setembro de 2015. O próximo será realizado em Dublin, em 2018, onde o pontífice também deverá participar.
A primeira viagem ao exterior do papa foi ao Brasil, para liderar mais de três milhões de jovens reunidos na Jornada Mundial da Juventude; a edição mais recente deste encontro aconteceu em Cracóvia em julho de 2016. A próxima edição acontecerá no Panamá em 2019, e com menos de três meses no novo cargo, Farrell já está supervisionando os planos iniciais.
Ambos os eventos são relativamente complicados de se organizar, visto que envolvem a abertura das portas da diocese local para centenas de milhares de peregrinos do mundo inteiro, a maioria dos quais com orçamentos reduzidos, e onde a comissão organizadora precisa arranjar alojamentos, refeições e transporte aos participantes.
Concebidos no pontificado de São João Paulo II, estes eventos contam com admiradores e detratores, com primeiros definindo-os como experiências inesquecíveis de fé e uma maneira única de vivenciar a universalidade da Igreja. E aqueles que se opõem veem estes encontros como um desperdício de tempo e dinheiro, bem como uma oportunidade disponível apenas aqueles que podem se dar ao luxo de pagá-los.
Poucos conhecem tão bem as especificidades destes encontros quanto Yago de la Cierva, membro espanhol do Opus Dei.
De la Cierva coordenou a Jornada Mundial da Juventude de Madri, em 2011, e ajudou a organizar todas as demais edições desde então.
“Se não houver uma avaliação, não haverá como melhorar no futuro”, disse de la Cierva a jornalistas em Roma nesta terça-feira, 10 de janeiro. “Há três questões principais que precisam ser abordadas no futuro: dinheiro, frutos espirituais (não necessariamente nesta ordem) e os meios de comunicação. Se a JMJ fracassar junto aos meios de comunicação, não seremos capazes de comunicar a mensagem”.
Em Cracóvia, de la Cierva fez parte da equipe de comunicação e esteve em Roma antes de partir em viagem para o Panamá, onde foi chamado para prestar assessoria.
Um dos maiores desafios destes eventos é a gestão do dinheiro e das despesas. No dia 22 de dezembro passado, a comissão organizadora da JMJ Cracóvia 2016 concedeu uma coletiva de imprensa onde foram apresentados os números finais do encontro. Estimou-se que o número de peregrinos ficou na casa dos dois milhões, tendo gerado um impacto local acima dos U$ 100 milhões.
O financiamento do evento veio de fontes primárias: taxas de registros e participação (os eventos papais eram gratuitos), contratos de patrocínio e doações monetárias, doações feitas por paroquianos e contribuições advindas do fundo geral da Jornada Mundial da Juventude.
A verba arrecadada, U$ 48.7 milhões, ficou ligeiramente acima dos U$ 48.5 milhões gastos em todo o processo preparatório de três anos. Isso inclui tudo, desde os salários aos que trabalhavam em tempo integral para a organização do evento – embora a maioria das pessoas fossem voluntárias – até a preparação dos locais das apresentações, oficinas e outras atividades.
De acordo com as informações fornecidas por de la Cierva na terça-feira, esta edição foi a mais barata, com a JMJ do Rio de Janeiro, ocorrida em 2013, tendo sido pelo menos duas vezes mais cara do que as quatro últimas edições. A arquidiocese do Rio de Janeiro teve aproximadamente U$ 46 milhões em déficit, enquanto a de Toronto, em 2002, finalizou com U$ 22 milhões no vermelho.
De la Cierva analisou os rendimentos com os participantes pagando a maioria das despesas, tendo ficado próximos dos U$ 34 milhões. As paróquias, as doações e o apoio do poder público contribuíram com pouco mais de U$ 4 milhões cada, com a maior parte do financiamento público indo para os gastos com segurança.
Em sua maior parte, o dinheiro foi gasto com os peregrinos e voluntários (cerca de U$ 25 milhões), sendo as refeições a despesa mais significativa (acima dos U$ 13 milhões).
O Campus Misericordiae, cenário para a vigília e missa de encerramento nos arredores de Cracóvia, teve um custo estimado de U$ 9 milhões. Alguns analistas, inclusive de la Cierva, consideram que esta tendo sido uma despesa desnecessária recorrente nas edições da JMJ e que pode ser evitada tendo-se apenas um palco, em vez de dois como é geralmente, para todos os “eventos principais”, como são chamados os encontros entre os peregrinos e o papa.
Farrell esteve no país caribenho no começo de dezembro. Durante uma coletiva de imprensa no dia 8 daquele mês, ele afirmou que o encontro de 2019 será um “momento histórico para a Igreja e o país”.
O cardeal elogiou os panamenhos dizendo que eles possuem um “coração muito grande” e que são “abertos a todo mundo”, e que possuem também “a capacidade” de acolher o encontro, o qual, segundo o governo nacional panamenho, irá atrair algo em torno de meio milhão de peregrinos de todo o mundo.
A JMJ Panamá 2019, acrescentou o prelado, poderá trazer “um pouco de paz e estabilidade a toda a comunidade da América Central”.
“É importante levarmos em consideração o papel que esta grande nação pode ter na unificação histórica dos países do norte e do sul”, disse Farrell. “Neste momento da história, mais do que nunca precisamos de um intermediário para trazer paz e unidade a todos”.
Segundo de la Cierva, o evento acontecerá ou no final de janeiro ou no começo de fevereiro, o que tornará mais difícil a participação de quem vive na América do Norte e na Europa, pois estes estarão em época de aulas. A data foi escolhida a fim de evitar a época de chuvas.
O organizador espanhol também destacou o comprometimento do governo em fazer do evento um sucesso, como parte de uma campanha que visa transformar o Panamá em um reduto para conectar as Américas.
Um outro segredo que ele apresentou é que a semana anterior à Jornada Mundial da Juventude, conhecida por “Dias nas Dioceses”, vai ocorrer não só nas cidades panamenhas como também em outros países da América Central, tais como Costa Rica e El Salvador.
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JMJ Cracóvia 2016 foi a mais barata das últimas quatro edições - Instituto Humanitas Unisinos - IHU