26 Outubro 2016
A aproximação, negociada pelo núncio Tscherrig e pelos enviados da Unasul, acontece em meio a um plano de luta anunciado pela Mesa da Unidade Democrática, de oposição, que convocou a organização de protestos e a “tomada da Venezuela”.
A reportagem é publicada por Página/12, 25-10-2016. A tradução é de André Langer.
Jorge Bergoglio renovou, na segunda-feira, suas credenciais de mediador após ter exercido um papel destacado na aproximação entre Cuba e Estados Unidos, no final de 2014. Com o apoio do Papa, o governo e a oposição venezuelana abriram um canal formal de conversas para abrir uma brecha na crise política e institucional que o país caribenho atravessa. A primeira reunião do chamado “diálogo nacional” já tem data e lugar: acontecerá no próximo domingo na Isla Margarita. Foi o que anunciou, em uma coletiva de imprensa em Caracas, o enviado de Francisco, o arcebispo Emil Paul Tscherrig, minutos depois que, no Vaticano, Bergoglio recebera a inesperada visita do Presidente Nicolás Maduro.
A aproximação acontece em meio a um plano de luta anunciado pela oposição, que convocou manifestações de rua diárias e a tomada da Venezuela nesta quarta-feira. “Este processo tem como objetivo a superação a situação econômica, política e social”, assinalou Tscherrig, núncio apostólico na Argentina. O religioso falou à imprensa acompanhado pelos ex-presidentes José Luis Rodríguez Zapatero, da Espanha, e Martín Torrijos, do Panamá, que intervêm em uma missão de bons ofícios, promovida pela União de Nações Sul-Americana (Unasul) para contribuir para um diálogo entre os venezuelanos, iniciativa da qual também participa o ex-presidente dominicano Leonel Fernández.
A abertura das conversas foi anunciada depois que, em Roma, o Papa recebera Maduro, em uma audiência que não foi comunicada com antecedência. A reunião entre ambos, de caráter privado, “deu-se no marco da preocupante situação de crise política, social e econômica que o país está atravessando e que repercute pesadamente sobre a vida cotidiana de toda a população”, confirmou o Vaticano em um comunicado divulgado após o encerramento do encontro.
“O Papa, que tem no coração o bem de todos os venezuelanos, desejou continuar oferecendo sua contribuição a favor da institucionalidade do país e de cada passo que contribua para resolver as questões abertas e criar maior confiança entre as partes”, acrescentou a Santa Sé.
Nessa linha, o chefe da Igreja católica convidou o presidente para “empreender com coragem a via do diálogo sincero e construtivo, para aliviar o sofrimento das pessoas, dos pobres em primeiro lugar, e promover um clima de renovada coesão social, que permita ver com esperança o futuro da Nação”.
O Presidente da Venezuela, por sua vez, pediu à oposição para que abandone o “caminho do golpismo” e priorize as soluções para a crise econômica, no marco do diálogo que ambas as partes empreenderão no próximo domingo. “Espero que se coloque o tema econômico da recuperação da Venezuela como ponto central. Espero que se imponha o respeito à Constituição e se abandone o caminho do golpismo”, manifestou Maduro, de Roma, após a audiência privada com Francisco.
“Já se vinha trabalhando com contatos com todos os grupos e líderes da oposição e felizmente o processo foi bem coroado”, disse o chefe de Estado venezuelano em entrevista à televisão estatal. Acompanhado pela chanceler, Delcy Rodríguez, o presidente agradeceu o empenho de Francisco a favor do diálogo na Venezuela. “Agradeci-lhe em nome da Venezuela por todo o apoio para que, finalmente e definitivamente, se instale uma mesa de diálogo na Venezuela entre os diversos fatores da oposição e do governo legítimo e bolivariano que eu presido”, disse. E acrescentou: “O Sumo Pontífice me disse, em várias oportunidades: estou rezando pela Venezuela, por sua paz e por sua tranquilidade”.
Ao tomar conhecimento da passagem de Maduro pelo Vaticano, o ex-candidato presidencial da oposição, Henrique Capriles, escreveu no seu Twitter: “Tomara que folgado de visita em Roma não queira zombar do Papa Francisco e o escute bem. Que acabe com o golpe que deram”. Pela mesma via, Maduro respondeu: “Celebro a instalação oficial em Caracas do diálogo nacional pela paz e pela soberania”.
De Caracas, o enviado do Vaticano, Tscherrig, disse que o objetivo do diálogo é “a busca da criação de um clima de confiança, superação da discórdia e promoção de um mecanismo que garanta a convivência pacífica”, segundo informou Globovisión. O presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup, confirmou que líderes antichavistas se reuniram no domingo com Paul para explorar as possibilidades de um eventual diálogo. E assinalou que a Mesa da Unidade Democrática (MUD), de oposição, exigirá o respeito à Constituição, devido ao fato de que o governo deve compreender que não pode persistir neste caminho de violação sistemática das leis.
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Francisco abriu um canal de diálogo com a Venezuela - Instituto Humanitas Unisinos - IHU