22 Outubro 2016
De 15 a 22 de setembro de 2016, foi realizada em Chieti, a convite do arcebispo Dom Bruno Forte e com o apoio da Conferência Episcopal Italiana, a 14ª sessão plenária da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
A reportagem é de Gianfranco Brunelli, publicada no sítio da revista Il Regno, 21-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A comissão, instituída por João Paulo II e pelo Patriarca Ecumênico Dimitrios I, por ocasião da visita do papa ao Fanar, no dia 30 de novembro de 1979, reuniu-se periodicamente. Nos últimos anos, depois do encontro de Ravenna em 2007, que produziu o importante documento sobre "As consequências eclesiológicas e canônicas da natureza sacramental da Igreja. Comunhão eclesial, conciliaridade e autoridade", houve outras plenárias em Chipre (2009), Viena (2010) e Amã (2014).
No encontro de Chieti, foi alcançado um significativo acordo sobre a relação entre o primado do bispo de Roma e a sinodalidade da Igreja inteira, e foi aprovado um documento, votado por todos os participantes, apenas com a exceção da Igreja da Geórgia, intitulado "Sinodalidade e primado no primeiro milênio: rumo a uma compreensão comum a serviço da unidade da Igreja".
Pedimos a Dom Bruno Forte, que faz parte da comissão e participou dos (além de ter hospedado os) trabalhos, uma reflexão sobre o encontro.
Dom Forte, conhecemos as dificuldades e as divisões externas e internas que atravessam as Igrejas, incluindo as ortodoxas. No encontro de Chieti, estavam presentes todas as Igrejas ortodoxas?
Todas, exceto a Igreja búlgara. E gostaria de observar que essa participação, depois da celebração do Santo e Grande Concílio pan-ortodoxo de Creta, de junho passado, é ainda mais importante, dadas as dificuldades intraortodoxas que tinham surgido lá. Também deve ser lembrado que, em Ravenna, em 2007, a Igreja Ortodoxa Russa retirou em um certo ponto a sua delegação. O fato de que em Chieti, no dia 21 de setembro, tenha se chegado a um acordo sobre um documento conjunto é de grande importância. Agora, deu-se um passo decisivo, apesar da distinção da Igreja Ortodoxa da Geórgia. A primeira razão do valor do consenso alcançado consiste precisamente no próprio fato de ter aprovado e publicado um documento comum sobre os temas fundamentais da sinodalidade e do primado do bispo de Roma. Agora, ele será debatido nas respectivas comunidades eclesiais.
Falemos do documento. Sobre o que se alcançou o consenso?
O texto parte do reconhecimento comum da relevância fundamental da Igreja local, presidida pelo bispo, que nela é sinal de Cristo pastor, especialmente na presidência da assembleia eucarística celebrada com os presbíteros e o povo de Deus. Essa relevância, sempre enfatizada pela Ortodoxia, foi trazida novamente à tona pelo Concílio Vaticano II e estimulou uma renovada vitalidade pastoral das Igrejas presentes nos diversos lugares do planeta. Desde as origens, no entanto, o destaque dado às Igrejas locais foi conjugado com a necessidade de uma comunhão regional, expressada por sínodos e concílios dos quais as Igrejas locais participavam através dos seus respectivos bispos. Essa comunhão episcopal deu origem às metropolias e aos patriarcados, em que a variedade das Igrejas locais reconhecia uma manifestação e um instrumento significativo da única fé professada por todas.
O que Chieti acrescentou?
O passo importante dado em Chieti foi o de atestar juntos a necessidade e o fundamento de uma expressão da comunhão em nível universal. Nesse contexto, reafirmando a importância da comunhão sinodal de todos os bispos reunidos pela sucessão apostólica, ortodoxos e católicos confessaram unanimemente o papel único do bispo de Roma, isto é, da Igreja que preside na caridade, à qual sempre foi reconhecido o primeiro lugar na ordem ("taxis") das sedes patriarcais. Concretamente, esse primado foi entendido no Oriente como um "primado de honra", enquanto, no Ocidente, particularmente a partir do século IV, foi referido ao papel de Pedro entre os apóstolos, interpretando o primado do bispo de Roma entre todos os bispos como uma prerrogativa ligada ao fato de ser o sucessor de Pedro, o primeiro entre os Doze.
A "sinergia" do bispo de Roma foi definida pelo Concílio de Niceia II de 787 como uma das condições necessárias para reconhecer a ecumenicidade de um concílio. A referência ou o apelo à Sé Romana e ao seu bispo e o acordo com ele, em suma, foram cada vez mais percebidos como sinal e garantia da unidade da Igreja universal. Afirmou-se a necessidade de um primeiro e de uma cabeça (para usar a linguagem do n. 34 dos Cânones dos Apóstolos, muito importante para os ortodoxos) não só na Igreja local (o bispo) e em nível regional (o patriarca), mas também em nível universal, e se reconheceu que, na comunhão universal das Igrejas, esse papel cabe ao bispo de Roma, que era a primeira das Igrejas patriarcais do primeiro milênio, quando Oriente e Ocidente estavam unidos.
O modelo do primeiro milênio poderá voltar à tona para uma comunhão das Igrejas no terceiro milênio?
A resposta a essa pergunta vai marcar as próximas etapas do diálogo católico-ortodoxo, marcado, em todo o caso, de maneira relevante, por aquilo que aconteceu em Chieti: uma aceleração no diálogo, uma retomada significativa depois de quase uma década de impasse.
Que problemas permanecem?
É um processo em curso. Entre as dificuldades, como também foi reiterado em Chieti, certamente, continua irresolvida a questão uniata, isto é, das Igrejas de tradição oriental que entraram, ao longo do tempo, em plena comunhão com Roma e que, naturalmente, têm direito, por parte de todos, ao maior respeito pela sua dignidade. Como afirmava o Metropolita de Pérgamo, Zizioulas, em Viena, em 2010, "veremos o modelo de união no futuro. Não funcionamos com um modelo fixado antecipadamente. O que os ortodoxos devem reforçar é a sua unidade universal e também a sua concepção do primado. E a parte católica, sem dúvida, deve reforçar a dimensão sinodal". Como católicos, com o Papa Francisco, decisivamente iniciamos esse percurso.
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Primado e sinodalidade. Entrevista com Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU