29 Agosto 2016
Em sua nova carta, os padres católicos voltam a reclamar a libertação de Milagro Sala, denunciam as políticas “regressivas e ameaçadoras” do governo de Macri e advertem sobre o silêncio dos grandes meios de comunicação sobre as revelações dos Panama Papers.
A reportagem é de Washington Uranga e publicada por Página/12, 27-08-2016. A tradução é de André Langer.
Prosseguindo com a tarefa de publicar cartas quinzenais dirigidas às comunidades e à sociedade em geral, o Grupo de Padres na Opção pelos Pobres (COPP) divulgou um novo documento no qual reiteram sua demanda de liberdade para a dirigente social de Jujuy, Milagro Sala, “e de todos os presos políticos”, denunciam as “políticas de direitos humanos regressivas e ameaçadoras” postas em prática pelo governo da Aliança Mudemos e advertem sobre a repressão dos protestos sociais e o “silêncio” dos meios de comunicação sobre os chamados “papéis do Panamá” que envolvem o presidente Mauricio Macri e funcionários de seu governo.
Após manifestar sua preocupação com o “agravamento progressivo e preocupante da situação social e econômica” os Padres defendem que “são chamativas as supostas ameaças recebidas por funcionários, o que parece desculpa para reforçar a repressão”. Os sacerdotes expressam, uma vez mais, sua convicção de que “este modelo não fecha sem repressão”.
“O fato de o presidente afirmar que Hebe (de Bonafini) é ‘uma desequilibrada’ (uma ofensa de quem se arroga contraditoriamente a missão de unir o país), após manifestar seu desinteresse pelo número de desaparecidos e falar em ‘guerra suja’, não faz outra coisa senão somar um novo repúdio aos já muitos que nos vemos obrigados a repudiar”, dizem os Padres em outra parte do seu documento.
Eles defendem que a diferença entre o governo anterior e o atual “em um tema tão sensível, sua colaboração ativa na justiça ou seu desinteresse em relação a ela nos parece muito grave, embora o atual Presidente afirme que não quer ‘ter ingerência no Poder Judiciário, como fez o governo anterior’”. E os padres católicos destacam que “lamentamos que se procure conceder prisão domiciliar a genocidas condenados por crimes de lesa humanidade, como no caso emblemático de Etchecolatz”, manifestando ao mesmo tempo “nosso mais firme repúdio, unindo-nos ao reclamo que sobre a questão formularam organismos de direitos humanos”.
Após denunciar que no caso dos “papéis do Panamá” existe um “silêncio cúmplice” dos meios de comunicação, nos perguntamos, dizem os Padres, “quanto tempo mais o Poder Legislativo deve esperar para interpelar a todos os implicados na ‘estrada da corrupção M’”. E assinalam que “o que o material apresentado revela são pistas de possíveis manobras de lavagem de dinheiro, o crime que aparece na máscara da causa”. Expressam, não obstante, que, “felizmente, a investigação avança e compromete cada vez mais o presidente Macri, o que constitui uma situação de considerável gravidade institucional que a população deve conhecer”.
Outro capítulo do texto divulgado pelos Padres é dedicado à denúncia de fatos de repressão. Assinalam que “Jorge Peña, da Renatea Jujuy, foi interceptado em seu carro em que viajava com suas três filhas”; lembram a “grave repressão em Puente Pueyrredón com caminhões hidrantes e da polícia de aposentados e outros manifestantes”; a “repressão a colonos no Parque Pereyra Iraola (Buenos Aires) com 48 presos (7 menores) um dos quais, Lautaro Leverato, foi alvejado com 13 balas de borracha”; que em Ramos Mejía “balearam a fachada da unidade básica Los Mismos de Siempre, situada na intersecção das ruas Colón e Bulnes, na localidade de Ramos Mejía”.
As denúncias prosseguem: que a Gendarmeria e a Polícia bonaerense reprimiram com balas de borracha na Autoestrada Buenos Aires-La Plata “companheiros da Coordenação de Trabalhadores Desempregados (CTD) Anibal Verón e outras organizações sociais aplicando o infame protocolo elaborado e defendido pela ministra Patricia Bullrich”. A isso se soma a “repressão a trabalhadores da cana de açúcar que estão defendendo os empregos, já que enfrentam o lock out da empresa Seabord Corporation, à qual pertence a Tabacal Agroindustria, que paralisou a planta de El Tabacal, Salta, repressão que inclui desde balas de chumbo a gás lacrimogêneo”.
Os padres católicos que trabalham nos lugares pobres ecoam também às denúncias do Mocase (Movimento Camponês de Santiago del Estero) sobre ameaças a dirigentes camponeses e o ataque de pistoleiros do “agro-narcoempresário Orlando Canido” contra famílias da comunidade de Iaku Cachi.
No mesmo texto, denuncia-se “uma brutal transferência de renda com uma inversão da equação distributiva da renda nacional” e “um modelo econômico que concentra a riqueza nas mãos de poucos atores e generaliza o desemprego com salários em franca queda”, “um endividamento externo usurário e descontrolado”, “uma violenta quebra dos protestos e das organizações sociais de base, como mostra a experiência de Jujuy”, e “uma destruição do aparelho produtivo, da indústria nacional e das economias regionais”. Por tudo isso, manifestam sua adesão à “marcha nacional, no dia 31 de agosto e 1 e 2 de setembro contra o ajuste, os tarifaços, as demissões e exigindo a libertação dos presos políticos”.
No plano teórico, o documento dos Padres na Opção pelos Pobres critica “uma democracia de baixa intensidade” que contradiz os interesses dos trabalhadores e dos setores populares.
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Argentina. “Este modelo não fecha sem repressão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU