Por: João Vitor Santos | Edição Leslie Chaves | 22 Agosto 2016
A partir da ideia de populismo, frequentemente a trajetória de Getúlio Vargas é recuperada para fazer referência a Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, de acordo com a historiadora, doutora em Ciência Política, professora e pesquisadora da área, Maria Izabel Noll, “o conceito de populismo perdeu muito de sua capacidade explicativa ao ser utilizado para personagens e momentos muito diferentes entre si”. Considerando essa questão, todavia, a pesquisadora percebe esse traço e também a preocupação com a promoção de direitos sociais em ambos os líderes políticos. Por outro lado, ela entende que “as duas figuras — Getúlio e Lula — representam modelos bem diferentes de ‘cultura política’. Apesar de pernambucano, Lula é essencialmente paulista. E Getúlio era um gaúcho da fronteira que sabia perfeitamente o que isso significava. O RS é brasileiro por opção”, ressalta.
Ao longo da entrevista, concedida por e-mail à IHU On-Line, Maria Izabel Noll faz uma reflexão a respeito das Eras Vargas e Lula, tendo em perspectiva o momento político que o Brasil está vivendo ao interpretar os discursos que emergem em momentos de crise como o atual. “Há no Brasil uma diferenciação entre dois discursos, dois grupos políticos, duas maneiras de pensar a própria sociedade. A Era Vargas (ou as associações que a ela são feitas) é criticada por gastos sociais excessivos, direitos trabalhistas, maior protagonismo estatal e acesso mais democrático às instâncias de poder. Há problemas com esse modelo? Claro que há, mas não existem modelos perfeitos. Quando há uma redução nos recursos disponíveis pelo Estado, esses gastos passam a ser vistos como comprometedores do desenvolvimento e o outro grupo se legitima com propostas de ‘colocar a casa em ordem’. Leia-se: reduzir os gastos sociais”, conclui.
No dia 25-08-2016, a professora participará do debate “Getúlio Vargas e o positivismo”, das 17h30min às 19h, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU, campus São Leopoldo da Unisinos. Mais informações sobre o evento e inscrições estão disponíveis aqui.
Maria Izabel Noll é graduada em História e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e doutora em Ciência Política pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, França. Também foi professora visitante no Center for Latin American Studies na Universidade de Stanford, Estados Unidos, e na École des Hautes Études en Sciences Sociales, França. É professora no Departamento de Ciência Política e no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFRGS e atualmente está na vice-direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - IFCH da UFRGS e na direção do Núcleo de Pesquisa e Documentação da Política Rio-Grandense - Nupergs.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como compreende o positivismo? Como ele se faz presente na política de Getúlio Vargas?
Maria Izabel Noll - O positivismo no Rio Grande do Sul veio, principalmente, através dos alunos que frequentaram a Faculdade de Direito de São Paulo. Falo de Júlio de Castilhos [1] e Assis Brasil [2], entre outros. Eram leitores de Comte [3] e, no caso de Castilhos, uma leitura particular de Comte que repassou para a versão de republicanismo que vigorou dali para a frente no RS. A esse conjunto de ideias chamou-se “castilhismo” [4]. Getúlio, como membro do Partido Republicano Rio-Grandense, bebeu nessas ideias e defendeu o castilhismo. Mas, ao que indica sua biblioteca e citações em trabalhos e discursos, ele não era um admirador de Comte. Aproximava-se mais de Spencer [5] e até de Saint-Simon [6], onde teria buscado sua visão evolucionista da História e a importância do proletariado e dos industriais na sociedade moderna.
IHU On-Line - Quais os contextos políticos em que emergem os governos de Getúlio Vargas? Como entender os movimentos de Vargas em cada uma das fases?
Maria Izabel Noll - Joseph Love [7] diz em seu livro O regionalismo gaúcho (São Paulo: Perspectiva, 1975) que a maior capacidade de Getúlio era observar para que lado iam os acontecimentos e, se colocando à frente, liderá-los. Creio que é uma verdade. Pelo menos a partir de 1930, isso é muito claro. Daí ser acusado, muitas vezes, de esconder o jogo, demorar a se definir ou fazer duplo papel — caso da II Guerra. Podemos ver três contextos diferenciados na sua trajetória política. O primeiro contexto importante, ainda no RS, é aquele que permite sua eleição para o governo do estado em 1928. Ele emerge como pacificador, coisa que Borges de Medeiros [8] não conseguiu realizar, e permite voz à oposição, mostrando uma nova capacidade negociadora ao grupo republicano.
O segundo contexto é decorrência do primeiro. Pela primeira vez com um Estado unificado, o RS pode indicar um candidato à Presidência da República. Não apenas o rompimento entre Minas e São Paulo permite essa decisão, mas a apresentação de uma candidatura viável e apoiada por todos (ou grande maioria) leva Getúlio à liderança da Aliança Liberal [9] .
Finalmente, o terceiro e mais diferenciado contexto é o da volta ao poder “nos braços do povo”. Levado ao governo devido ao capital político acumulado nos anos 1930 e 1940, este momento apresentará desafios imensos cujo desfecho será o suicídio em 1954.
IHU On-Line - Como compreender os movimentos políticos internacionais de Vargas?
Maria Izabel Noll - Os movimentos internacionais só podem ser compreendidos se nos reportarmos a um período marcado por grandes mudanças: Crise de 1929 [10], ascensão do nazi-fascismo [11], crescimento da influência comunista, Segunda Guerra Mundial [12] , dominação americana no hemisfério ocidental e guerra fria [13]. Tudo isso impactou internamente. Getúlio foi um governante que praticamente não viajou para o exterior. Recebeu muitos chefes de Estado, mas não viajou. Não por restrições idiomáticas. Falava correntemente espanhol e francês. Para o inglês tinha uma tradutora de toda confiança: sua filha Alzira.
Com relação a Mussolini [14], creio que além da admiração que na época o fascismo italiano despertou em muita gente (caso de João Neves da Fontoura [15] e Lindolfo Collor [16], por exemplo) pode lhe ter interessado mais a organização do corporativismo do que a figura do “duce”. Já no que diz respeito aos Aliados [17], fica muito patente em seu diário a simpatia por Roosevelt [18] em sua visita ao Brasil e, mesmo nos momentos dos discursos mais “autoritários” ou quase-fascistas, ele está mais afirmando que o momento é para “governos fortes” ou os “limites do liberalismo” para sanar a crise, do que um posicionamento antiamericano e pró-Eixo [169]. Com Perón [20], já nos anos 1950, foi construída uma associação com base na vinculação dos sindicatos ao Estado, orquestrada pela UDN [21], que via comunismo em tudo. Claro que os governos de Brasil e Argentina traziam uma base popular que permitia a associação.
Vargas (à esq.) e Lula. (Foto: diariodopresal.wordpress.com)
IHU On-Line - Faz sentido associar a Era Vargas ao Lulismo? Por quê?
Maria Izabel Noll - Sim e não. Sim porque em seus governos o país passou por grandes mudanças no que se refere a processos de inclusão social e incorporação ao mercado de camadas antes não participantes. No caso de Vargas, a urbanização e industrialização, juntamente com a legislação trabalhista (salário mínimo, férias, aposentadoria...) mudaram as bases das relações de trabalho e criaram um processo de expansão que durou até o final dos anos 1970. A Era Lula resgatou a chamada “dívida social histórica” do Brasil ao instituir políticas de distribuição de renda e de combate à fome que acabaram por incluir no mercado milhões de consumidores, o que garantiu, também, crescimento econômico. São, portanto, processos similares no sentido de que incluíram parcelas relevantes da população ao mercado de bens de consumo, mas principalmente ao mercado de direitos sociais.
Não, porque são processos diferentes em sua dimensão e durabilidade. O período que vai de 1935 a 1960 é de expansão constante em todos os sentidos. Em 25 anos o país muda radicalmente. É difícil de comparar, pois, nesse lapso de tempo, temos vários regimes políticos, vamos da ditadura à democracia; num quadro econômico internacional altamente promissor, tanto na Europa como nos Estados Unidos. A chamada Era Lula, já sabemos agora, está situada entre os anos de 2004 e 2010, um pouco mais, provocou mudanças radicais, mas mostrou limites. Apesar de suas marcas serem evidentes e algumas delas muito difíceis de serem revertidas por uma eventual oposição ao modelo.
Além do mais, as duas figuras — Getúlio e Lula — representam modelos bem diferentes de “cultura política”. Apesar de pernambucano, Lula é essencialmente paulista. E Getúlio era um gaúcho da fronteira que sabia perfeitamente o que isso significava. O Rio Grande do Sul é brasileiro por opção.
IHU On-Line - Que associações são possíveis de se fazer entre o populismo e a emergência das figuras de Getúlio Vargas e Lula?
Maria Izabel Noll - O conceito de populismo perdeu muito de sua capacidade explicativa ao ser utilizado para personagens e momentos muito diferentes entre si. Getúlio se tornou, ao longo do tempo, um líder popular, de massas. Lula tem essa dimensão e seu discurso, assim como o era o de Brizola [22], pode articular movimentos políticos e massas com muito êxito.
IHU On-Line - Quais as semelhanças e distinções entre o nacional-desenvolvimentismo, presente na Era Vargas, e o neodesenvolvimentismo, marca dos governos petistas?
Maria Izabel Noll - O nacional-desenvolvimentismo que caracterizou o pós-guerra e os anos 1950 e 1960 estava atrelado a uma teoria, o modelo cepalino [23], que se dispunha a pensar projetos centrados no desenvolvimento industrial para os países latino-americanos com alta participação do Estado como agente indutor. Foi fundamental para a transformação do Brasil em uma grande economia. O chamado neodesenvolvimentismo da Era Lula ainda está em teste. Foi uma resposta às políticas neoliberais implementadas nos anos 1990 pelo PSDB, principalmente, e mostrou que em economias como a brasileira o Estado ainda é um ator fundamental e que apenas o mercado não alavanca os processos de desenvolvimento econômico.
IHU On-Line - Como compreender o que está por trás da fala do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994, quando disse que “a Era Vargas acabou”? E o que está por trás dessa mesma frase repetida agora, no governo de Michel Temer, pelo ministro da Casa Civil Eliseu Padilha?
Maria Izabel Noll - A preocupação em acabar com a Era Vargas me parece uma coisa tipicamente paulista. No fundo há uma incongruência, pois a região que mais se beneficiou com o modelo desenvolvido durante a Era Vargas foi São Paulo. No fundo eles querem dizer que São Paulo é moderno, se regra pela lógica do mercado e que o setor privado é o grande motor do desenvolvimento. Até acho que São Paulo é o que de mais moderno nós produzimos, mas as evidências de que não precisam do Estado (governo federal) não se sustentam quando olhamos a realidade.
O capitalismo brasileiro vive dos recursos do Estado, todos os escândalos que temos presenciado ultimamente não evidenciam outra coisa. Não interessa qual partido está no poder. O empresariado negocia e corrompe para praticamente zerar a competição. Então, o discurso fica bastante hipócrita, pois dizer que vai acabar com a Era Vargas insinua que esse modelo de fazer política é intrinsecamente corrupto e que um novo modelo será “limpo”, isento e o mercado regulará tudo. Só que quando os portadores desse discurso chegam ao poder, a mesma coisa acontece, veja-se o numero de escândalos no governo estadual de São Paulo.
Há no Brasil uma diferenciação entre dois discursos, dois grupos políticos, duas maneiras de pensar a própria sociedade. A Era Vargas (ou as associações que a ela são feitas) é criticada por gastos sociais excessivos, direitos trabalhistas, maior protagonismo estatal e acesso mais democrático às instâncias de poder. Há problemas com esse modelo? Claro que há, mas não existem modelos perfeitos. Quando há uma redução nos recursos disponíveis pelo Estado, esses gastos passam a ser vistos como comprometedores do desenvolvimento e o outro grupo se legitima com propostas de “colocar a casa em ordem”. Leia-se: reduzir os gastos sociais. Lembra um pouco a velha história do Delfim Netto [24] durante a ditadura: primeiro tem que fazer o bolo para depois repartir. Só que o bolo nunca era repartido. Ou era repartido entre alguns escolhidos.
IHU On-Line - Existem, de fato, herdeiros do projeto político de Getúlio Vargas?
Maria Izabel Noll - Não. A política mudou muito.
IHU On-Line - As travas que impediram as profundas mudanças sociais no Brasil de Vargas são as mesmas que impediram a continuidade do governo petista, dito como progressista? E que travas são essas?
Maria Izabel Noll - As travas que em geral têm impedido mudanças no Brasil dizem respeito aos limites que a sociedade possui de aceitar mudanças ou perda de privilégios. Se pensarmos que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão e, quando o fez, abandonou a população negra à sua sorte, dá para entender. Não adianta um governo ser progressista se a sociedade não o é. Numa democracia fica mais difícil acusar. Os deputados e senadores que votaram o afastamento da presidente Dilma foram eleitos, não chegaram lá sozinhos. Podemos questionar as regras eleitorais, mas isso explica detalhes e não a totalidade.
IHU On-Line - Como a senhora lê a esquerda no Brasil de hoje? Qual a identidade partidária que melhor compreende movimentos sociais, como junho de 2013 e mesmo a ocupação de escolas por estudantes secundaristas?
Maria Izabel Noll - Qualquer leitura sobre as últimas mudanças, seja sobre junho de 2013 [25] ou sobre a ocupação das escolas, ainda é prematura e carece de dados. Há fatores de comunicação entre esses grupos que envolvem novas mídias, interesses imediatos e visão da política fora da mediação dos partidos que torna difícil uma analise mais séria. Há uma mudança em processo. Até agora os partidos, o governo — o que saiu e o que aí está — não entenderam nada. O que sairá de tudo isso só o futuro nos dirá.
Notas:
[1] Júlio de Castilhos (1860-1903): político gaúcho. Em 15 de julho de 1891, foi eleito presidente do Estado do Rio Grande do Sul. Com a queda de Deodoro da Fonseca, foi deposto em 3 de novembro do mesmo ano. Pouco mais de um ano depois, Júlio de Castilhos disputou uma eleição (sem concorrentes) e voltou a ocupar o antigo posto. Empossado em 1893, contém a Revolução Federalista, de tendência parlamentarista e liderada por Gaspar Silveira Martins. Sobre Júlio de Castilhos, confira a edição 14 dos Cadernos IHU ideias, intitulado Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política no RS, de Gunter Axt, ano 2003, e a IHU On-Line número 78, de 06-10-2003. (Nota da IHU On-Line)
[2] Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938): foi um advogado, político, orador, escritor, poeta, prosador, diplomata e estadista brasileiro; propagandista da República. Foi fundador do Partido Libertador, deputado e governador do Rio Grande do Sul quando integrou a junta governativa gaúcha entre 12 de novembro de 1891 e 8 de junho de 1892. Introduziu no Brasil o gado Jersey, o gado Devon e a ovelha Karakul, tendo participação importante na introdução do cavalo árabe e no melhoramento do Thoroughbred, o puro sangue inglês. Juntamente com o Barão do Rio Branco, assinou o Tratado de Petrópolis, que assegurou ao Brasil a posse do atual Estado do Acre. Neste estado foi criado, em sua homenagem, o município de Assis Brasil. (Nota da IHU On-Line)
[3] Augusto Comte (1798-1857): filósofo e pensador social francês. Fundou a escola filosófica conhecida como positivismo e criou um conceito de ciência social a que deu o nome de sociologia. O positivismo comtiano afirma que a verdade da ciência é indiscutível e demonstrável universalmente. (Nota da IHU On-Line)
[4] Castilhismo: nome dado à corrente política que tinha por referência Júlio Prates de Castilhos, surgida em 1882 com a fundação do Partido Republicano Rio-Grandense - PRR. O Castilhismo era uma corrente política de forte cunho conservador, ao mesmo tempo em que apostava na modernização econômica, por ter na burguesia industrial e urbana suas bases de apoio. Também sofreu forte influência do positivismo de Auguste Comte. O castilhismo tinha três princípios básicos: 1) Escolha dos governantes baseado na sua pureza moral e não na sua representatividade popular. 2) Na política devem ser eliminadas as disputas político-partidárias e valorizar só a virtude. 3) O governante deve regenerar a sociedade, e o Estado comandar a transformação e modernização da sociedade. Embora tenha origens ideológicas no pensamento de Venâncio Aires, o Castilhismo como alinhamento político surgiu junto com a ascensão pessoal de Castilhos e do Partido Republicano Rio-Grandense. Ele foi eleito pela primeira vez para o governo estadual em 1891. (Nota da IHU On-Line)
[5] Herbert Spencer (1820-1903): filósofo britânico que ficou conhecido por sua tentativa de elaborar um sistema filosófico baseado nas descobertas científicas de sua época, que pudesse ser aplicado a todos os assuntos. Foi o fundador da filosofia evolucionista. Em sua obra principal, Um sistema de filosofia sintética (1862-1896), aplicou a ideia da evolução à biologia, à psicologia, à sociologia e a outros campos do conhecimento. Em seu trabalho sobre biologia, Spencer traçou a evolução da vida desde sua forma menos reconhecível até o homem. Acreditava que a grande lei da natureza era a ação constante de forças que tendiam a mudar todas as formas do simples para o complexo. Spencer explicava que a mente do homem tinha se desenvolvido dessa mesma maneira, avançando das simples respostas automáticas dos animais inferiores aos processos de raciocínio do homem pensante. Escreveu também A classificação das ciências (1864), Os fatores da evolução orgânica (1887). (Nota da IHU On-Line)
[6] Conde de Saint-Simon, ou Claude Henri de Rouvroy (1760-1825): filósofo e economista francês, teórico do socialismo utópico. (Nota da IHU On-Line)
[7] Joseph L. Love: professor emérito do Departamento de História da Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign. Foi diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e do Caribe e do Instituto Lemann de Estudos Brasileiros. Também foi professor visitante na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio. Tornou-se conhecido do público brasileiro principalmente por seus livros O regionalismo gaúcho e as origens da Revolução de 30 (São Paulo: Perspectiva, 1975), A locomotiva: São Paulo na Federação brasileira, 1889-1937 (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982) e A construção do Terceiro Mundo: teorizando o subdesenvolvimento na Romênia e no Brasil (Rio de Janeiro: Paz e Terra,1998). (Nota da IHU On-Line)
[8] Borges de Medeiros (1863-1961): político gaúcho. Foi presidente do estado do Rio Grande do Sul, indicado por Júlio de Castilhos e procurou dar continuidade ao projeto político do castilhismo, do qual foi um dos maiores representantes e fiel executor do positivismo. Manteve-se no poder de 1898 até 1928 e sua única interrupção como governante ocorreu no quinquênio de 1908-1913. Sobre Borges de Medeiros, confira a edição 14 dos Cadernos IHU ideias, intitulado Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política no RS, de Gunter Axt, ano 2003. (Nota da IHU On-Line)
[9] Aliança Liberal: Coligação oposicionista de âmbito nacional formada no início de agosto de 1929 por iniciativa de líderes políticos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul com o objetivo de apoiar as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa, respectivamente, à presidência e vice-presidência da República nas eleições de 1º de março de 1930. (Nota da IHU On-Line)
[10] Crise de 1929 ou Grande Depressão: grande depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX. Este período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações, e em praticamente todo medidor de atividade econômica, em diversos países no mundo. O dia 24 de outubro de 1929 é considerado popularmente o início da Grande Depressão, mas a produção industrial americana já havia começado a cair a partir de julho do mesmo ano, causando um período de leve recessão econômica que se estendeu até 24 de outubro, quando valores de ações na bolsa de valores de Nova Iorque, a New York Stock Exchange, caíram drasticamente, desencadeando a Quinta-Feira Negra. Assim, milhares de acionistas perderam, literalmente da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que tinham. Essa quebra na bolsa de valores de Nova Iorque piorou drasticamente os efeitos da recessão já existente, causando grande deflação e queda nas taxas de venda de produtos, que por sua vez obrigaram o fechamento de inúmeras empresas comerciais e industriais, elevando assim drasticamente as taxas de desemprego. O colapso continuou na segunda-feira negra (o dia 28 de outubro) e terça-feira negra (o dia 29). (Nota da IHU On-Line)
[11] Nazismo: conhecido oficialmente na Alemanha como Nacional-Socialismo (em alemão: Nationalsozialismus), é a ideologia praticada pelo Partido Nazista da Alemanha, formulada por Adolf Hitler e adotada pelo governo da Alemanha de 1933 a 1945. Esse período ficou conhecido como Alemanha Nazista ou Terceiro Reich. É considerado um movimento essencialmente de extrema-direita. Os nazistas foram um dos vários grupos históricos que utilizaram o termo "nacional-socialismo" para descrever a si mesmos e, na década de 1920, tornaram-se o maior grupo da Alemanha. Os ideais do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista) são expressos no seu "Programa de 25 Pontos", proclamado em 1920. Entre os elementos-chave do nazismo, há o antiparlamentarismo, o pangermanismo, o racismo, o coletivismo, a eugenia, o antissemitismo/antijudaísmo, o anticomunismo, o totalitarismo e a oposição ao liberalismo econômico e político. (Nota da IHU On-Line)
[12] Segunda Guerra Mundial: conflito iniciado em 1939 e encerrado em 1945. Mais de 100 milhões de pessoas, entre militares e civis, morreram em decorrência de seus desdobramentos. Opôs os Aliados (Grã-Bretanha, Estados Unidos, China, França e União Soviética) às Potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O líder alemão Adolf Hitler pretendia criar uma "nova ordem" na Europa, baseada nos princípios nazistas da superioridade alemã, na exclusão - eliminação física incluída - de minorias étnicas e religiosas, como os judeus, ciganos e homossexuais, na supressão das liberdades e dos direitos individuais e na perseguição de ideologias liberais, socialistas e comunistas. Essa ideologia culminou com o Holocausto. (Nota da IHU On-Line)
[13] Guerra Fria: nome dado a um período histórico de disputas estratégicas e conflitos entre Estados Unidos e União Soviética, que gerou um clima de tensão que envolveu países de todo o mundo. Estendeu-se entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a queda da União Soviética (1991). (Nota da IHU On-Line)
[14] Benito Mussolini (1883-1945): jornalista e político italiano, governou a Itália com poderes ditatoriais entre 1922 e 1943, autodenominando-se Il Duce, que significa em italiano “o condutor”. Baseando-se numa filosofia política teoricamente socialista, conseguiu a adesão dos militares descontentes e de grande parte da população, alargou os quadros e a dimensão do partido. Após um período de grandes perturbações políticas e sociais, quando alcançou grande popularidade, guindou-se a chefe do partido, e em 1922 organizou a famosa marcha sobre Roma, um golpe de propaganda. Usando as suas milícias para instigar o terror e combater abertamente os socialistas, conseguiu que os poderes investidos o nomeassem para formar governo. Foi nomeado Primeiro Ministro pelo rei Vítor Manuel III, alcançando a maioria parlamentar e, consequentemente, poderes absolutos. (Nota da IHU On-Line)
[15] João Neves da Fontoura (1887-1963): um advogado, diplomata, jornalista, político e escritor brasileiro. Além disso, foi deputado federal, ministro das Relações Exteriores durante os governos de Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra, embaixador do Brasil em Portugal entre 1943 e 1945, membro da Academia Brasileira de Letras e membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Columbia e a Ordem do Congresso Nacional. Faleceu em 1963 no Rio de Janeiro, aos 75 anos de idade. (Nota da IHU On-Line)
[16] Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor (1890-1942): jornalista e político brasileiro. Seu neto, Fernando Collor de Mello, foi presidente do Brasil, de 1990 a 1992. Sua estreia na política se daria em 1921, quando foi eleito deputado estadual, ao lado de João Neves da Fontoura e Getúlio Dorneles Vargas integrou a Assembleia Legislativa gaúcha, onde foi relator da Comissão de Orçamento. A passagem de Collor pelo Ministério do Trabalho durou apenas 15 meses, de dezembro de 1930 a março de 1932, durante os quais redigiu toda a estrutura da nossa legislação social. Norteado por algumas das legislações trabalhistas europeias e, dentro de um esclarecido ecumenismo, pela Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII. Collor elaborou 12 decretos-leis acompanhados de Exposições de Motivos que apontam a sua oportunidade em face da evolução do pensamento de proteção ao operariado em todos os países mais adiantados do mundo. (Nota da IHU On-Line)
[17] Aliados: termo utilizado comumente, inclusive por historiadores, para se referir aos países que se aliaram com os Estados Unidos e Reino Unido, na Primeira e Segunda Guerra Mundial, contra a Alemanha e os países que a ela haviam se aliado. (Nota da IHU On-Line)
[18] Franklin Delano Roosevelt (1882-1945): 32º presidente dos Estados Unidos. Realizou quatro mandatos e morreu durante o último. Durante sua estadia na Casa Branca enfrentou o período da Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. (Nota da IHU On-Line)
[19] Eixo: também conhecidas como Aliança do Eixo, Nações do Eixo ou apenas Eixo, foram um dos adversários da Segunda Guerra Mundial. Seus inimigos eram as forças Aliadas. O Eixo dizia-se parte de um processo revolucionário que visava quebrar a hegemonia plutocrática-capitalista do Ocidente e defender a civilização do comunismo. (Nota da IHU On-Line)
[20] Juan Domingo Perón (1895-1974): militar e político argentino, presidente de seu país de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974. Foi líder do Movimento Nacional Justicialista. Genericamente, esse Movimento é chamado peronismo. Os ideais são baseados no pensamento de Perón. O Movimento Justicialista transformou-se, mais tarde em Partido Justicialista, que é a força política majoritária na Argentina. Os ideais do peronismo se encontram nos diversos escritos de Perón como "La Comunidad Organizada", "Conducción Política", "Modelo Argentino para un Proyecto Nacional", entre outros, onde estão expressos a filosofia e doutrina política que continuam orientando o pensamento acadêmico e a vida política da segunda maior nação sul-americana. (Nota da IHU On-Line)
[21] União Democrática Nacional – UDN: partido político brasileiro fundado em 7 de abril de 1945, frontalmente opositor às políticas e à figura de Getúlio Vargas e de orientação conservadora. O "udenismo" caracterizou-se pela defesa do liberalismo clássico e da moralidade, e pela forte oposição ao populismo. Além disso, algumas de suas bandeiras eram a abertura econômica para o capital estrangeiro e a valorização da educação pública. O partido detinha forte apoio das classes médias urbanas e de alguns setores da elite. Concorreu às eleições presidenciais de 1945, 1950, e de 1955 postulando o brigadeiro Eduardo Gomes nas duas primeiras e o general Juarez Távora na última, perdendo nas três ocasiões. Em 1960, apoiou Jânio Quadros (que não era filiado à UDN), obtendo assim uma vitória histórica. (Nota da IHU On-Line)
[22] Leonel de Moura Brizola (1922-2004): político brasileiro, nascido em Carazinho, no Rio Grande do Sul. Foi prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul, deputado federal pelo extinto estado da Guanabara e duas vezes governador do Rio de Janeiro. Sua influência política no Brasil durou aproximadamente 50 anos, inclusive enquanto exilado pelo Golpe de 1964, contra o qual foi um dos líderes da resistência. Por várias vezes foi candidato a presidente do Brasil, sem sucesso, e fundou um partido político, o PDT. Sobre Brizola, confira a primeira edição dos Cadernos IHU em formação intitulado Populismo e trabalho. Getúlio Vargas e Leonel Brizola. Leia também a IHU On-Line intitulada Leonel de Moura Brizola 1922-2004. (Nota da IHU On-Line)
[23] Cepal - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (português brasileiro) ou Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas (português europeu): criada em 1948 pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas com o objetivo de incentivar a cooperação econômica entre os seus membros. Ela é uma das cinco comissões econômicas da Organização das Nações Unidas (ONU) e possui 44 estados e oito territórios não independentes como membros. Além dos países da América Latina e Caribe, fazem parte da CEPAL o Canadá, França, Japão, Países Baixos, Portugal, Espanha, Reino Unido, Itália e Estados Unidos da América. A atual secretária-executiva da CEPAL é a economista mexicana Alicia Bárcena. (Nota da IHU On-Line)
[24] Antônio Delfim Netto (1928): economista, professor universitário e político brasileiro. Foi membro da Equipe de Planejamento do Governo Paulista de Carlos Alberto de Carvalho Pinto em 1959, Membro do Conselho Consultivo de Planejamento (CONSPLAN), órgão de assessoria à Política Econômica do Governo Castelo Branco em 1965 e do Conselho Nacional de Economia no mesmo ano. Foi secretário de Fazenda do Governo Paulista de Laudo Natel nos anos de 1966 e 1967, nomeado Ministro da Fazenda nos anos de 1967 a 1974 e Embaixador do Brasil na França entre 1974 e 1978, nomeado Ministro da Agricultura em 1979 e do Planejamento de 1979 a 1985. Deputado Constituinte por São Paulo de 1987 a 1988 e Deputado Federal por São Paulo desde 1988. Em junho de 2016, foi intimado pela Polícia Federal, pela delegada da Operação Lava Jato, para prestar esclarecimentos aos investigadores sobre por que recebeu, segundo seu sobrinho, R$ 240 mil em dinheiro vivo entregues pelo "departamento de propina" da maior empreiteira do país em 22 de outubro de 2014 no escritório do advogado e sobrinho do ex-ministro Luiz Appolonio Neto, na capital paulista. (Nota da IHU On-Line)
[25] Junho de 2013: os protestos no Brasil em 2013, também conhecidos como Manifestações dos 20 centavos, Manifestações de Junho ou Jornadas de Junho, foram várias manifestações populares por todo o país que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, sobretudo nas principais capitais. São as maiores mobilizações no país desde as manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992, e chegaram a contar com até 84% de simpatia da população. Inicialmente restrito a pouco milhares de participantes, os atos pela redução das passagens nos transportes públicos ganharam grande apoio popular em meados de junho, em especial após a forte repressão policial contra os manifestantes, cujo ápice se deu no protesto do dia 13 em São Paulo. Quatro dias depois, um grande número de populares tomou parte das manifestações nas ruas em novos diversos protestos por várias cidades brasileiras e até do exterior. Em seu ápice, milhões de brasileiros estavam nas ruas protestando não apenas pela redução das tarifas e a violência policial, mas também por uma grande variedade de temas como os gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má qualidade dos serviços públicos e a indignação com a corrupção política em geral. Os protestos geraram grande repercussão nacional e internacional. Sobre o tema, confira a edição 193 dos Cadernos IHU ideias, intitulada #VEMpraRUA: Outono Brasileiro? Leituras. (Nota da IHU On-Line)
Entre a oligarquia e o populismo
Vargas e o ideal de conciliação política. Revista IHU On-Line, Nº. 451
As anotações de Getúlio Vargas na véspera do suicídio
No dia do suicídio de Vargas, ato defende petróleo 100% público
De Vargas a Lula, documentário discute a industrialização
Era Lula e Era Vargas: algo a ver? Entrevista especial com René E. Gertz
A reinvenção da Era Vargas e o desenvolvimento nacional. Entrevista especial com Carlos Lessa
Populismo e trabalhismo. Getúlio Vargas e Leonel Brizola. Cadernos IHU em Formação, Nº. 1
"A outra Era Vargas", por Wanderley Guilherme
Um retorno ao passado para entender o futuro. Entrevista especial com Gunter Axt
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Getúlio e Lula: aproximações, distanciamentos, ganhos e limites de duas Eras. Entrevista especial com Maria Izabel Noll - Instituto Humanitas Unisinos - IHU