06 Junho 2016
Seguindo com a iniciativa de publicar quinzenalmente cartas públicas informativas, o Grupo de Padres na Opção pelos Pobres, divulgou um texto em que pede que o presidente Mauricio Macri explique o aumento "escandaloso" de seu patrimônio e ofereça transparência sobre seus depoimentos que expuseram a existência de contas bancárias no exterior. No mesmo documento, é denunciada a continuidade da prisão de Milagro Sala, a negligência do Estado sobre a população, o aumento dos restaurantes populares e advertência acerca da política de segurança do governo. Os padres também defendem o papa Francisco frente as críticas que lhe são dirigidas a partir do governo.
A reportagem é de Washington Uranga, publicada por Página/12, 04-06-2016. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
"Nos perguntamos - disse o Grupo - se o Congresso, como representante do povo, não deveria chamar o presidente para prestar contas, considerando as suas promessas de transparência e seus claros depoimentos juramentados?". E acrescentam: "Gostaríamos de saber se a situação não merece uma interpelação ao presidente e um possível julgamento político por violação da Lei de Ética Pública e enriquecimento ilícito."
Os padres católicos advertem que "os casos escandalosos de muitos membros do governo atual seguem impunes, liderados pelo presidente da nação, mencionados nos Panama Papers como participantes de empresas em paraísos fiscais", porque "nenhuma das explicações dadas consegue sequer remotamente ser satisfatória". E manifestam sua esperança de que "a Justiça que investiga o caso, mantenha as mãos livres para agir em conformidade."
Ao revisitar as notícias recentes, o Grupo de Padres denuncia que "o Estado não se importa com a população", e para demonstrar isso, recordam que "foi revogada a Direção de Doenças Imunopreveníveis" e que "a política de saúde é absolutamente ausente, tal como se manifesta na crise da epidemia de dengue (com 75.000 infectados) e também de gripe A".
O documento também afirma que "o desprezo por aqueles que estão fora do modelo predominante se revela no abandono sistemático da política universitária", uma vez que se "reduziu o orçamento em US$ 20.000.000." Mas eles acrescentam que "também é coerente a essa negligência com os pobres, o encerramento de programas culturais e educativos".
Quanto ao veto presidencial sobre a lei de emergência ocupacional, os padres afirmam que "resulta chamativa a convocação para 'construir uma onda popular', pelas três Confederações Gerais do Trabalho (CGTs), ao invés de liderar o protesto trabalhista para o qual foram eleitos como representantes, alguns deles mais preocupados com a situação da AFA (Associação Argentina de Futebol) do que a situação do desemprego e as 154.000 demissões registradas até o momento no governo de Macri".
Em relação aos recentes anúncios a favor dos aposentados, os Padres dizem que os governantes "escondem, atrás de um reconhecimento razoável dos direitos que nunca foram satisfeitos, uma armadilha, um 'Cavalo de Tróia': não apenas é proposta a lavagem de dinheiro que os autoriza a 'lavar as mãos' para a evasão de capitais (questões para as quais o Presidente da República não é alheio), mas também uma perigosa descapitalização do sistema previdenciário em nome da justiça".
Frente a tudo isso, dizem os sacerdotes que trabalham em meios populares, "começamos a testemunhar a crescente demanda por comida em nosso povo", enquanto "se multiplica a participação em restaurantes comunitários e escolares". Como exemplo eles argumentam que "a cena de um caminhão gaiola tombado e de vacas abatidas na área de Añatuya, em 25 de maio, nos recordam momentos tristes do nosso país em 2001-2002".
Há também uma preocupação com a segurança. "Uma polícia autogovernada permite que em alguns casos manifestem-se os piores embustes; a crescente onda de sequestros não parece ser alheia a isto, segundo afirmam vários especialistas no assunto. Igualmente rejeitamos a repressão na província da Terra do Fogo, por ventura da situação social crítica que já denunciamos", assinalam os Padres.
Eles acrescentam que "mais uma vez insistimos que 'este modelo não se encerra sem repressão' aos seus mentores" porque a "segurança sem controle democrático pode levar à violência institucional que repudiamos". Na mesma linha, se questiona a decisão do Executivo de remover "o controle civil necessário" sobre as forças armadas, que é "fundamental para o objetivo da ordem democrática", e vinculam esta decisão "com a suposta intenção de remontar um aparato repressivo frente ao crescente descontentamento social e responder aos acordos com os Estados Unidos, militarizando a segurança interna".
Em outra seção do texto, os Padres dizem que "as críticas ao Papa Francisco pelo governador de Jujuy, Gerardo Morales, e por jornalistas da imprensa hegemônica" expressam "sua raiva, provocada pela liberdade de Francisco em enviar um rosário à Milagro Sala e receber a querida Hebe Pastor de Bonafini".
Eles também enfatizam que "o longo tempo concedido à Hebe por Francisco e as imagens sorridentes de dito encontro, manifestam claramente que existem modelos, atitudes e compromissos muito mais coerentes com o Evangelho do que outros, mais além de divergências pessoais circunstanciais".
No entanto, criticam recentes declarações do bispo Jorge Casaretto, que disse que seriam os bispos argentinos, e "não Hebe de Bonafini, a mais autorizada a informar o Papa sobre a realidade argentina." Afirmam os Padres que "quando escutemos o episcopado denunciar claramente as injustiças, dar nome aos injustos e fazer da causa dos pobres, sua própria causa, nesse momento acreditaremos que as informações enviadas (pelos bispos) à Roma serão verdadeiras e críveis".
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Argentina. Pedido de Contas do Grupo de Padres na Opção pelos Pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU