12 Novembro 2014
Como presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos (USCCB), em seu primeiro discurso dirigido aos bispos norte-americanos em sua reunião anual de outono, o arcebispo Joseph Kurtz (foto), de Louisville, elogiou o tom e o estilo do Papa Francisco, mas evitou mencionar especificamente as questões culturais polêmicas que agitaram o Sínodo dos bispos reunidos no Vaticano no mês passado.
A reportagem é de Michael O'Loughlin, publicada por Crux, 10-11-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Kurtz defendeu a emergente "cultura de encontro" do papa com sua ênfase na misericórdia sobre o julgamento, abraçando aqueles que não vivem de acordo com o ensinamento da Igreja e, mais diretamente, ajudando os pobres e desfavorecidos. Ele comparou a filosofia de Francisco às suas próprias visitas às casas dos paroquianos quando ele era padre diocesano.
"Quando eu chegava à casa de alguém, eu não começava lhes dizendo como eu achava que eles deveriam reorganizar o seu mobiliário. Da mesma forma, eu não começaria lhes dando uma lista de regras a seguir", disse Kurtz aos cerca de 400 bispos reunidos em Baltimore.
Durante o Sínodo no mês passado, em Roma, os bispos conservadores e liberais lutaram, às vezes publicamente, sobre como a Igreja deve promover os seus ensinamentos, por vezes, controversos. Católicos liberais têm elogiado aquilo que eles dizem ser um tom mais aberto e acolhedor de Francisco, enquanto os conservadores temem que o papa não esteja colocando ênfase suficiente na oposição a questões como o aborto e o casamento homossexual.
Kurtz defendeu a abordagem de Francisco durante a sua palestra de 15 minutos na segunda-feira.
"Eu, então, os convidaria a seguir a Cristo e me ofereceria para acompanhá-los e, juntos, seguir o convite do Evangelho a abandonar o pecado e caminhar em frente", disse ele. "Tal abordagem não está em oposição aos ensinamentos da Igreja; é uma afirmação deles".
Kurtz foi precedido pelo embaixador do papa nos Estados Unidos, o arcebispo Carlo Viganò, que disse que os bispos devem "continuamente aprender a ouvir" e "não ter medo de trabalhar com o nosso Santo Padre".
Kurtz concordou. A Igreja "deve sobretudo procurar aqueles que sofrem sob o peso das dificuldades enfrentadas pelas famílias hoje, lembrando-se de ver a pessoa em primeiro lugar, caminhando com ela e apontando o caminho em direção a Deus", disse ele.
O discurso dado por Kurtz, seu primeiro desde que foi eleito para um mandato de três anos na reunião de outono do ano passado, tocou fortemente na promoção daquela que ele chamou de "notável visão de João Paulo II do matrimônio e da vida familiar como desenvolvida em sua teologia do corpo".
Especialmente ausente do discurso esteve uma condenação direta do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou até mesmo das ameaças ao casamento, discussão que se tornou um dos pilares do grupo quando seu predecessor era presidente da Conferência Episcopal, o cardeal de Nova York, Timothy Dolan.
O outro tema quente durante o Sínodo foi o divórcio. Vários cardeais e bispos circulavam propostas de um processo de anulação mais fácil a fim de permitir a comunhão para os divorciados que voltaram a casar.
Kurtz não abordou essas propostas explicitamente, mas disse: "Nós sabemos que casamentos fiéis, frutíferos e por toda a vida estão bem dentro do alcance e levam a uma vida abundante; vemos isso todos os dias entre as famílias a que servimos".
Após o Sínodo, o Papa Francisco instruiu os bispos a discutirem os temas e as questões abordadas em Roma em suas próprias dioceses antes da segunda reunião do Sínodo em outubro próximo. Kurtz disse que isso irá acontecer através de conversas com os católicos.
"Eu também antecipo que cada um de nós terá a oportunidade de ouvir e dialogar com as famílias que procuram se aproximar de Cristo", disse ele.
Referindo-se ao mês de outubro, tradicionalmente dedicado pela Igreja como o mês de respeito à vida, Kurtz agradeceu "aos líderes pró-vida, aos centros de recursos para a gravidez e às agências de caridade católicas", aparentemente em uma referência para os que creem na missão "pró-vida" da Igreja e que esta deve se estender para além do aborto.
Ele reiterou a oposição dos bispos a algumas partes do Obamacare, prometendo que os bispos vão "continuar defendendo a liberdade religiosa contra as ações do governo, como o mandato HHS, a fim de proteger a nossa capacidade de testemunhar totalmente o Evangelho".
Ele agradeceu ao cardeal Dolan por trazer à tona a questão da liberdade religiosa internacional durante o último ano de sua presidência e disse que os bispos vão continuar nessa frente também.
Os bispos estão reunidos na cidade de Baltimore, que está comemorando o seu 225º aniversário. Foi ali que se estabeleceu a primeira diocese católica nos Estados Unidos, e os bispos realizarão uma missa especial na Basílica da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria na próxima segunda-feira à tarde.
Na próxima semana, a arquidiocese de Chicago terá um novo líder quando o arcebispo Blase Cupich substituirá o enfermo cardeal Francis George, ex-presidente da USCCB. Kurtz disse aos bispos que o Papa Francisco mencionou duas vezes que estava rezando por George.
"Eu estava ansioso para contar ao cardeal sobre a preocupação do nosso Santo Padre, então eu peguei o telefone e liguei para o cardeal George imediatamente", disse ele. "Eu não me dei conta que eu estava ligando antes das 7h30 da manhã, no horário de Chicago. É claro que ele respondeu graciosamente e ficou encantado ao receber a notícia".
Isso foi recebido com muitos aplausos e uma ovação de pé dos bispos reunidos no salão de festas do Hotel Marriott Waterfront.
Kurtz começou sua palestra com uma história sobre o encontro que teve com um homem com necessidades especiais, enquanto estava em Roma, no mês passado. Kurtz falou no passado sobre seu irmão Georgie, que tinha síndrome de Down e viveu com Kurtz em uma casa paroquial em Knoxville, até sua morte em 2002.
Ele disse que o irmão do homem estava preocupado com quem iria cuidar de Giovanni quando ele não fosse mais capaz de fazê-lo.
"Eu me lembro que esse era o mesmo temor que eu tinha", disse ele. "Como pastores, nós acompanhamos tantas famílias que enfrentam seus próprios medos e preocupações, e que anseiam experimentar o amor de Jesus na sua família amorosa, a Igreja".
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Arcebispo Kurtz define a visão da Conferência dos Bispos dos EUA em preparação para o Sínodo de 2015 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU