23 Julho 2014
Desde que Jesus designou Judas para cuidar do dinheiro, a Igreja tem tido problemas com as finanças. A Igreja pode ter sido fundada por Jesus, mas ela é administrada por homens. Será que as recentes reformas do banco vaticano acabarão com esses problemas? Provavelmente não, mas isso não significa que o Vaticano vai continuar os negócios como de costume.
A análise é do padre jesuíta Thomas Reese, jornalista, publicada no National Catholic Reporter, 18-07-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Tal como acontece com muitos problemas na Igreja, os problemas com o banco vaticano encontram suas raízes no clericalismo e no sigilo.
Ninguém entra no seminário com o desejo de um dia ser encarregado das finanças da Igreja. Em vez disso, os seminaristas querem se tornar pastores. Seminários também não fazem um bom trabalho de formação de seus alunos para lidar com as finanças da Igreja. Sacerdotes que desenvolvem conhecimentos em finanças da Igreja o fazem com a experência nessa tarefa. É extremamente raro encontrar um padre que fez um curso de contabilidade, muito menos aquele que têm um MBA.
Como resultado, a maioria dos padres não entende como funcionam as práticas financeiras básicas. Eles não sabem as perguntas certas e muito menos as respostas certas. Ao mesmo tempo, o clericalismo significa que eles têm que ser responsável por tudo. Mesmo que eles queiram delegar essas responsabilidades financeiras para os leigos, eles não sabem o suficiente para nomear pessoas competentes. A tentação é a de nomear alguém que seja reverente ou pareça piedoso e de confiança.
Dada a sua ignorância no ramo financeiro, não é nenhuma surpresa que os padres não fazem um bom trabalho no gerenciamento das finanças da Igreja.
A segunda fonte de problemas é o sigilo. O temor é que, se as finanças forem públicas, as pessoas podem tentar adivinhar as decisões ou exercer pressão com relação ao dinheiro. Quanto menos pessoas de fora souberem, menos perguntas poderão ser levantadas. Se surgirem problemas, eles podem ser tratados sem causar escândalo.
O clericalismo e o sigilo foram as causas da maioria dos problemas nas finanças do Vaticano. Por exemplo, a mais alta autoridade para o banco vaticano era um conselho de cardeais sem nenhuma experiência em finanças e muito menos nas atividades bancárias. Eles não sabiam como supervisionar um banco. Embora a pessoa nomeada como presidente do banco fosse um leigo, ele exercia a atividade em tempo parcial e não tinha experiência bancária. E, é claro, até recentemente, tudo sobre o banco era secreto.
As reformas para o banco vaticano implementadas pelo Papa Francisco atacam esses problemas de frente.
No passado, "a reforma financeira", no Vaticano, era feita por comitês de cardeais e resultava em poucas mudanças. As reformas de Francisco são abrangentes e têm sido feitas por especialistas leigos que estão criando um sistema de controles que não dependem apenas de algumas pessoas honestas e competentes.
Será que isso vai proteger a Igreja de futuros escândalos? Não. Na verdade, o futuro imediato deve produzir mais escândalos já que esses novos procedimentos estão pegando os bandidos. Os auditores deixaram claro que o seu trabalho não é o de punir os criminosos. Em vez disso, eles repassam tudo o que sabem para as autoridades competentes, no Vaticano, de efetuarem o processo criminal.
Será que o Papa Francisco dará a luz verde para os processos criminais de funcionários do Vaticano, incluindo clérigos e prelados? Sendo um papa que salienta compaixão e misericórdia, pode ser difícil para ele punir os infratores. Por outro lado, punir os transgressores agiria como uma dissuasão a crimes futuros e mostraria que o Vaticano está levando a sério a reforma financeira.
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Passado, presente e futuro do ''Banco do Vaticano'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU