23 Mai 2014
O tratamento dado pelo Papa Bergoglio contra a lavagem de dinheiro dentro da Cidade do Vaticano produz os seus primeiros efeitos: aumentaram exponencialmente as indicações de transações suspeitas à AIF, a autoridade contra a lavagem de dinheiro vaticana. Na última segunda-feira, 19, foi apresentado pelo diretor da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano, o suíço René Bruelhart, o relatório anual de 2013.
A reportagem é de Marco Lillo, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 20-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A "indicações de transações suspeitas" eram seis em 2012. Em 2013, foram nada menos do que 202, graças à melhoria, explicou Bruelhart, do "desempenho das instituições sujeitas ao controle". Na prática, o IOR, o banco vaticano, realizou uma atenta verificação das contas dos seus clientes junto com a empresa norte-americana Promontory e descobriu e assinalou centenas de situações suspeitas.
A AIF também aumentou a sua atividade em nível internacional. Os pedidos de informações apresentadas pelas autoridades estrangeiras subiu de três em 2012 para 53 em 2013. Em janeiro de 2014 também começou a primeira inspeção "ordinaria in situ" sobre o IOR para verificar a conformidade com a nova normativa contra a lavagem de dinheiro introduzida pelo Papa Francisco em outubro de 2013.
Durante a inspeção, a AIF apresentou ao IOR o problema das chamadas "contas mistas" abertas junto aos bancos italianos, que permitem proteger os titulares reais dos fundos. A verdadeira novidade da coletiva de imprensa dessa segunda-feira, no entanto, diz respeito aos correntistas não alinhados com as novas políticas do IOR do Papa Francisco. Essas contas não foram fechadas unilateralmente, como havia sido escrito há seis meses. Esqueçam as manchetes de dezembro passado sobre o "fechamento de 1.200 contas" não alinhadas com as regras do novo curso.
O jornal Corriere della Sera também tinha publicado a carta enviada pelo presidente do IOR, Ernst von Freyburg, aos correntistas que tinham sido postos para a rua. Depois das decisões tomadas no dia 4 de julho de 2013, que tinham mudado as políticas internas do banco vaticano, escrevia von Freyburg, "o relatório referido ao senhor não seria novamente incluído entre aqueles que possuem características que satisfaçam os requisitos supracitados. Por tais razões, notificamos por meio desta o corte por parte do Instituto da relação mantida com o senhor, assim como todo serviço a ela relacionado, a partir do dia 30 novembro de 2013, com o consequente fechamento de toda posição".
A seis meses da recepção das 1.200 cartas, muitos correntistas indesejados não deixaram o banco mais desejado por quem quer manter o sigilo das suas finanças. Descobriu-se agora que uma parte importante dos clientes indesejados nunca fechou a conta.
Ninguém sabe os nomes dos correntistas com a mala nas mãos. Por exemplo, antigamente, sob a proteção de uma fundação, um dos correntistas era Giulio Andreotti, que tinha feito passar pelo banco o dinheiro da pasta Enimont.
O ex-ministro dos Transportes, o democrata-cristão Prandini, sob o nome de Mons. Corrado Balducci, também tinha escondido os seus bilhões da mira da magistratura, que o tinha preso nos anos 1990. Não se sabe se os gentis-homens de Sua Santidade, como Gianni Letta, aproveitaram o direito de serem correntistas. Certamente, Angelo Balducci, processado por corrupção no caso da "corja dos grandes eventos", tinha uma conta no IOR.
Nenhum desses sujeitos poderia hoje ter uma conta no banco vaticano com base nas novas regras. Porém, descobriu-se nessa segunda-feira que o processo de despejo é mais lento do que o esperado.
Nessa segunda-feira, o diretor da AIF, René Bruelhart, explicou: "Não foram fechadas todas as contas dos clientes que receberam as cartas. Esse é só um anúncio. Nem todas as contas foram fechadas, porque depois da carta começa um processo que exige um certo tempo".
Os 1.200 correntistas puderam responder à carta do presidente do IOR e, de acordo com Bruelhart, "só ao término desse processo é que se decidirá o que fazer com a conta em questão. Se for preciso fazer uma indicação de transação suspeita, por exemplo, não se pode fechar a conta".
Assim, as contas sobre as quais pairam suspeitas mais pesadas e que foram relatadas pelo próprio IOR à AIF não podem ser fechadas e permanecem congeladas até o término das verificações efetuadas pela autoridade dirigida por Bruelhart.
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O IOR e as contas que ninguém fechou - Instituto Humanitas Unisinos - IHU