11 Outubro 2012
"Foi um esplêndido dia quando, no dia 11 de outubro de 1962, com o ingresso solene de mais de dois mil Padres conciliares na Basílica de São Pedro, em Roma, abriu-se o Concílio", escreve Joseph Ratzinger (na foto, ao lado de Karl Rahner), "jornalista" para o L'Osservatore Romano no caderno especial dedicado ao 50º aniversário do Vaticano II.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 10-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"O cristianismo deve estar no presente para poder dar forma ao futuro". Quarenta mil cópias em três línguas. As 20 mil em espanhol já esgotaram, depois 12 mil em italiano e 8 mil em inglês. Além disso, no site do jornal vaticano, o texto de Bento XVI está disponível em alemão, italiano, espanhol, inglês, francês, português, polonês. "Foi um momento de extraordinária expectativa. Grandes coisas deviam acontecer".
Ele estava ali, no grupo das mentes teológicas, como consultor do cardeal Joseph Frings, na "grande assembleia da Igreja", e agora oferece a exata interpretação do evento religioso mais importante do século XX. "Os Padres conciliares não podiam e não queriam criar uma Igreja nova, diferente. Não tinham nem o mandato, nem o encargo para fazê-lo", explica Bento XVI. "Eram Padres do Concílio com uma voz e com um direito de decisão somente como bispos, isto é, em virtude do sacramento e na Igreja sacramental".
Por isso, "não podiam e não queriam criar uma fé diferente ou uma Igreja nova, mas sim compreendê-las ambas de modo mais profundo" e, portanto, realmente "renová-las". Assim, uma "hermenêutica da ruptura é absurda, contrária ao espírito e à vontade dos Padres conciliares".
O tom da evocação é fresco e envolvente. "Foi impressionante ver entrar os bispos provenientes de todo o mundo, de todos os povos e raças: uma imagem da Igreja de Jesus Cristo que abraça todo o mundo, na qual os povos da terra sabem que estão unidos na sua paz". Os concílios anteriores, evidencia Bento XVI, quase sempre haviam sido convocados por uma questão concreta à qual deviam responder. "Desta vez não havia um problema particular a se resolver".
Mas justamente por isso pairava no ar uma sensação de expectativa geral: o cristianismo, que havia construído e moldado o mundo ocidental, parecia perder cada vez mais a sua força eficaz. Parecia ter se tornado cansado, e parecia que o futuro era determinado por outros poderes espirituais. A percepção dessa perda do presente pelo cristianismo e da tarefa que vinha com ele era bem resumida pela palavra "aggiornamento". Para que pudesse voltar a ser uma força que molda o amanhã, João XXIII convocara o Concílio sem lhe indicar problemas concretos ou programas: "Foi essa a grandeza e ao mesmo tempo a dificuldade da tarefa que se apresentava à assembleia eclesial".
"Os episcopados individuais, sem dúvida, se aproximaram do grande acontecimento com ideias diversas. Alguns chegaram mais com uma atitude de expectativa com relação ao programa que devia ser desenvolvido". Foi o episcopado da Europa Central (Bélgica, França e Alemanha) que teve "as ideias mais decisivas. No detalhe, a ênfase definitivamente era posta sobre aspectos diversos; mas havia algumas prioridades comuns. Um tema fundamental era a eclesiologia, que devia ser aprofundada do ponto de vista da história da salvação, trinitário e sacramental; a isso, somava-se a exigência de completar a doutrina do primado do Concílio Vaticano I através de uma reavaliação do ministério episcopal". Um tema importante para os episcopados da Europa Central, destaca Joseph Ratzinger, era a renovação litúrgica, que Pio XII já havia começado a realizar.
Outro foco central, especialmente para o episcopado alemão, era posto sobre o ecumenismo: "O fato de suportar juntos a perseguição do nazismo havia aproximado muito os cristãos protestantes e os católicos; agora isso devia ser compreendido e levado adiante também no nível de toda a Igreja. Somava-se a isso o ciclo temático Revelação-Escritura-Tradição-Magistério". Entre os franceses, "colocou-se cada vez mais em primeiro plano a questão da relação entre a Igreja e o mundo moderno".
Foi "certamente providencial" que, 13 anos depois da conclusão do Concílio, João Paulo II chegou de um país onde a liberdade religiosa era contestada pelo marxismo, isto é, por uma forma particular de filosofia estatal moderna. O papa provinha quase de uma situação que se assemelhava à do início da Igreja antiga, de modo que se tornou novamente visível o íntimo ordenamento da fé com relação ao tema da liberdade, sobretudo a liberdade religiosa e de culto.
Finalmente, uma nota pessoal: "No cardeal Frings, eu tive um 'pai' que viveu de modo exemplar esse espírito do Concílio. Ele era um homem de forte abertura e grandeza, mas também sabia que só a fé guia para se sair ao ar livre, para aqueles amplo horizonte que continua vedado ao espírito positivista. Era a essa fé que ele queria servir com o mandato recebido através do sacramento da ordenação episcopal".
Portanto, "eu só posso ser-lhe sempre grato por ter me levado (o mais jovem professor da Faculdade Teológica Católica da Universidade de Bonn) como seu consultor para a grande assembleia da Igreja, permitindo-me estar presente nessa escola e percorrer de dentro o caminho do Concílio".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Concílio segundo Bento XVI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU