21 Novembro 2011
"Como centro de poder geológico e mineral o continente africano deveria passar a ser visto com interesse redobrado pelas mineradoras brasileiras", defende o consultor José Mendo de Souza, presidente da J. Mendo Consultoria. "Mas o despertar da África, para nós brasileiros, depende em primeiro lugar de se compreender que esse continente é muito mais complexo do que parece à primeira vista e onde a maioria dos países é composta por uma elite altamente sofisticada no vértice e por tribos beligerantes na base."
A reportagem é de Juan Garrido e publicada pelo jornal Valor, 21-11-2011.
Mendo de Souza conta que em suas andanças profissionais pela África captou que há uma grande vantagem para os investidores que falam inglês ou francês, pelo fato de muitos países africanos terem sido colonizados tanto por Inglaterra e França, como por outras potências da Europa. "Os países de língua portuguesa não são os mais desenvolvidos da África e nem mesmo os que têm maior potencial geológico - com algumas pequenas exceções, como Angola, rica em diamantes."
Ele cita o modelo colonial dos ingleses, que sempre tiveram a competência de transformar seus inimigos internos - nas regiões que dominaram mundo afora - em membros da British Commonwealth. Com isso, ao acabar o período colonial, foi possível conservar o figurino inglês nas instituições locais. "Toda vez que uma empresa vai investir num país que não seja o seu próprio, o maior obstáculo a ser transposto é o arcabouço jurídico legal e, como os ingleses deixaram preservado o seu modelo depois da partida, os investidores de centros mais adiantados tiveram mais facilidade de atuar em tempos pós-coloniais." Segundo o consultor, o caso dos portugueses foi oposto: eles deixaram suas colônias africanas institucionalmente despedaçadas.
Além da Vale, que se internacionalizou a partir da privatização, e já atua com sucesso em vários países da África, Souza destaca que foi a experiência da Odebrecht em gestão territorial internacional e gestão de diversidade cultural, o que a levou a ser bem-sucedida em projetos angolanos, como o de Catoca, de mineração de diamantes. Nesse projeto, relata o consulor, o grande acionista é uma estatal angolana, a Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama), com participação de uma estatal russa, a Alrosa, na parte de tecnologia da produção, de um grupo israelense, a Daumonty Financing Company em comercialização, e da Odebrecht na área administrativa - aliança que combinou bem as especialidades de cada um.
Sobre os minerais mais indicados para o Brasil explorar na África, Souza afirma que, como há uma certa semelhança entre o ambiente geológico brasileiro e o africano, é interessante focar negócios em itens que os brasileiros produzem de forma abundante - casos do minério de ferro e da bauxita. Já em relação à cromita (utilizada na fabricação de material refratário e na obtenção de cromo metálico) e do cobalto, seria desejável que os brasileiros se tornassem mais ativos na exploração das jazidas africanas. "No Brasil não temos áreas de cromita como aquelas que os africanos já descobriram e exploram a plena carga", diz. O mesmo ocorre com o carvão coqueificado de Moçambique, que todos os estudos apontam como investimento promissor. Em relação ao diamante, o consultor lembra que o Brasil ainda não encontrou jazidas tão férteis como as que existem em Angola.
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Potencial geológico da África dobra interesse de mineradoras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU