08 Abril 2011
Religioso suíço-alemão de 51 anos, o padre Stephan Rothlin (na foto, à esquerda) é secretário-geral do Center for International Business Ethics - Cibe da University of International Business and Economics de Pequim. Nesse papel, ele se encontra na condição de lecionar Ética dos Negócios para a nova geração de dirigentes da ascendente economia chinesa.
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada na revista italiana Jesus, nº.2 , de fevereiro de 2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como domar os espíritos selvagens do capitalismo chinês? É uma pergunta que os governantes de Pequim se fazem frequentemente, principalmente depois que a crise financeira mundial jogou luz sobre todos os riscos de uma economia "superaquecida", que cresce vertiginosamente no impulso de uma bolha especulativa fora de controle.
Para encontrar uma resposta, quatro séculos depois da morte de Matteo Ricci, o Império do Meio se voltou mais uma vez aos jesuítas. É assim que, em 2004, nasceu o Center for International Business Ethics - Cibe da University of International Business and Economics de Pequim, um centro especializado na difusão e na promoção, na China, da ética nos negócios e na administração.
O secretário-geral do Cibe, Stephan Rothlin, é um suíço-alemão de 51 anos. Dificilmente, se reconheceria o jesuíta no homem de terno e gravata perfeitamente confortável em uma sala de conferências, enquanto faz uma apresentação com os slides que correm às suas costas.
"O meu papel aqui – explica – não tem nada a ver com o meu ministério na Igreja". Mas, acrescenta, "as pessoas sempre são muito atentas se alguém vive segundo os seus princípios e mantêm suas próprias promessas".
Seguindo aqui também um caminho já traçado por Ricci, Rothlin busca também fundir as técnicas de meditação zen com alguns métodos de oração do cristianismo oriental, como a "Oração de Jesus", nos cursos para empresários que ele ministra três vezes por ano, intitulados "Contemplação em ação".
Ensinar os princípios da ética aos empresários e aos administradores da rugente economia chinesa não é uma tarefa fácil. "Certamente, não há uma grande fome de ética na maior parte dos homens de negócios. Mas são sempre mais aqueles que se dão conta, depois do choque da crise financeira global, que uma economia isenta de um marco de referência moral pode facilmente sair fora do controle".
O governo está consciente desse problema há anos e, por isso, defendeu o nascimento do Cibe: "Eles entenderam que havia muito a ser melhorado no campo da administração e da economia e é por isso que deram a sua aprovação à proposta de enviar jesuítas para gerir um programa de ética dos negócios".
O trabalho do centro é desenvolvido em três campos: em primeiro lugar, a formação dos empresários e do pessoal das empresas, por exemplo com a promoção do Corporate Social Responsability Reporting, com o qual as sociedades aprender a informar regularmente seus acionistas não só sobre o andamento econômico e financeiro, mas também sobre o compromisso social e ambiental, sobre as boas práticas adotadas em nível de gestão e assim por diante, como já acontece no Ocidente.
Existe depois a pesquisa de tipo acadêmico, com a tradução em chinês dos textos fundamentais de ética dos negócios e a promoção, por exemplo, de um concurso para as melhores ideias para um desenvolvimento urbano sustentável. Por fim, há o compromisso social direto, por meio de uma fundação para crianças autistas e a promoção de melhores escolas elementares. Tudo, naturalmente, apoiando-se na rede de ricos empresários e empresas que entram em contato com as atividades do Cibe.
Para Rothlin, no plano da ética dos negócios, também é importante que o Ocidente não se coloque diante da China com uma atitude de superioridade. "As críticas dirigidas às empresas chinesas" – porque poluem muito ou não respeitam os diritos dos trabalhadores – são percebidas como "hipócritas", principalmente se vêm de países cujas empresas estão dotadas, sim, de códigos de ética altissonantes, mas depois deslocam o seu "trabalho sujo" justamente para a China.
Nesse campo, há grandes possibilidades para a doutrina social da Igreja. Ainda em 1988, um outro jesuíta, László Ladányi, havia previsto que seria justamente o magistério social que daria à Igreja na China a sua "necessária orientação". A Caritas in Veritate, de Bento XVI, "oferece análises completas e sugestões úteis sobre como gerir a economia e estimular uma empresa de modo que sejam muitos os que dela tirem proveito", e não apenas o seu proprietário.
A sua união de "subsidiariedade e justiça", diz Rothlin, "é relevante em todos os lugares, mas é particularmente importante em uma economia chinesa que tem necessidade de se tornar mais humana, mais atenta ao meio ambiente e à segurança das condições de trabalho".
Aqui também, porém, pesam os limites postos pelo governo chinês à ação da Igreja. A partir de uma análise conduzida pelo próprio Rothlin, a maior parte dos intelectuais católicos comprometidos confessou que não conhecia bem os conteúdos da encíclica. Taiwan teve melhores resultados, onde, até entre os professores universitários, se destaca a necessidade de dar maior visibilidade, dentro e fora da Igreja, aos temas do magistério social. O trabalho a ser feito, enfim, é ainda longo.
Rothlin sabe que a sua vocação o levou a lugares que ele jamais esperaria, mas, acrescenta, a China e a ética aplicada são desde sempre as suas paixões. "Sempre fui interessado pela China", conta. "Ainda quando criança, fiquei fascinado com a história de um missionário suíço que havia sido expulso do país".
Nesses mesmos anos, sua vocação germinou e, depois do primeiro contato com a Companhia de Jesus ("principalmente com os Exercícios Espirituais de Santo Inácio"), "entendi que aquele poderia ser o meu caminho".
Posteriormente, a descoberta do trabalho dos jesuítas no Japão só contribuiu para confirmar a sua escolha. Rothlin se especializou em ética aplicada, tornando-se professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de Zurique. Assim surgiu, em 1996, o "dom inesperado" do convite para ir à Ásia, para ensinar em várias faculdades de Hong Kong, Singapura e Pequim, até a abertura do Cibe em 2004.
Para o futuro, Rothlin está certo de que a China se tornará sempre mais central para a Igreja. "Estou convencido de que todas as denominações cristãs, dentre as quais naturalmente também o catolicismo, têm um futuro luminoso aqui. Há uma grande fome de alimento espiritual sólido e de rigorosa formação teológica, algo que a Igreja seguramente é capaz de oferecer".
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O jesuíta que ensina a moral aos empresários chineses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU