02 Outubro 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Mateus 21,33-43, que corresponde ao 27° Domingo do ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto.
A parábola dos «viticultores homicidas» é tão dura que é difícil para nós, cristãos, pensar que esse aviso profético, dirigido por Jesus aos líderes religiosos de seu tempo, tem algo a ver conosco.
O relato fala de uns lavradores encarregados por um homem para trabalhar a sua vinha. Chegado o tempo da vindima ocorre algo surpreendente e inesperado. Os lavradores recusam-se a entregar a colheita. O senhor não colherá os frutos que tanto espera.
A sua ousadia é incrível. Um após o outro, vão matando os servos que o senhor lhes envia para recolher os frutos. Mais ainda. Quando lhes envia o seu próprio filho, atiram-no «para fora da vinha» e matam-no para ficarem como únicos donos de tudo.
Que pode fazer o senhor da vinha com esses lavradores? Os líderes religiosos, que escutam nervosos a parábola, chegam a uma conclusão terrível: fará com que morram e transferirá a vinha para outros lavradores «que lhe entreguem os frutos no devido tempo». Eles mesmos se estão condenando. Jesus diz-lhes na cara: «Por isso vos digo que o reino de Deus vos será retirado e entregue a um povo que produz os seus frutos».
Na «vinha de Deus» não há lugar para quem não dá frutos. No projeto do reino de Deus que Jesus anuncia e promove não podem continuar a ocupar lugar «lavradores» indignos que não reconheçam o senhorio do seu Filho, porque se sentem donos, senhores e amos do povo de Deus. Devem ser substituídos por «um povo que produza frutos».
Por vezes pensamos que esta parábola tão ameaçadora aplica-se ao povo do Antigo Testamento, mas não para nós, que somos o povo da Nova Aliança e temos já a garantia de que Cristo estará sempre conosco.
É um erro. A parábola também está a falar de nós. Deus não tem que abençoar um cristianismo estéril do qual não recebe os frutos que espera. Não tem de se identificar com as nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Também agora, Deus quer que os trabalhadores indignos de Sua vinha sejam substituídos por um povo que produza frutos dignos do reino de Deus.
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O risco de defraudar Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU