27 Setembro 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lc 16,19-31, que corresponde ao 26° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Segundo Lucas, quando Jesus gritou: “não se pode servir a Deus e ao dinheiro”, alguns fariseus que o ouviam e eram amigos do dinheiro “riram-se dele”. Jesus não recua. De imediato, conta uma parábola comovente para que aqueles que vivem escravos da riqueza possam abrir os olhos.
Jesus descreve em poucas palavras uma situação dramática. Um homem rico e um pobre mendigo que vivem perto um do outro estão separados pelo abismo que há entre a vida de opulência insultante do rico e a miséria extrema do pobre.
A história descreve os dois personagens, enfatizando fortemente o contraste entre os dois. O homem rico está vestido de púrpura e linho fino, o corpo do pobre está coberto de feridas. O rico banqueteia-se esplendidamente não apenas nos dias de festa, mas diariamente; o pobre está deitado à porta do rico, incapaz de levar à boca o que cai da mesa do homem rico. Apenas os cachorros que procuram algo no lixo vêm lamber suas feridas.
Não se fala em nenhum momento que o homem rico tenha explorado o pobre ou que o tenha maltratado ou desprezado. Pode-se dizer que não fez nada de mal. No entanto, toda a sua vida é desumana, pois só vive para seu próprio bem-estar. O seu coração é de pedra. Ignora totalmente o pobre. Tem-no à sua frente, mas não o vê. Está ali mesmo, doente, faminto e abandonado, mas não consegue atravessar a porta para tomar conta dele.
Não nos enganemos. Jesus não está denunciando apenas a situação da Galileia dos anos trinta. Está tentando sacudir a consciência daqueles que se acostumaram a viver na abundância, enquanto morando próximo à nossa porta, apenas a algumas horas de distância, há povos inteiros vivendo e morrendo na mais absoluta miséria.
É desumano nos fecharmos na nossa “sociedade do bem-estar”, ignorando totalmente essa outra “sociedade do mal-estar”. É cruel continuar a alimentar essa “secreta ilusão de inocência” que nos permite viver com a consciência tranquila, pensando que a culpa é de todos e de ninguém.
A nossa primeira tarefa é quebrar a indiferença. Resistirmos a continuar desfrutando de um bem-estar vazio de compaixão. Não continuar a nos isolarmos mentalmente para deslocar a miséria e a fome que há no mundo em direção a um afastamento abstrato, para poder assim viver sem ouvir nenhum clamor, gemido ou choro.
O Evangelho pode ajudar-nos a viver vigilantes, sem nos tornarmos cada vez mais insensíveis aos sofrimentos dos abandonados, sem perder o sentido da responsabilidade fraterna e sem permanecer passivos quando podemos agir.
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Quebrar a indiferença - Instituto Humanitas Unisinos - IHU