12 Julho 2019
Um especialista em leis se levantou, e, para tentar Jesus, perguntou: «Mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna?» Jesus lhe disse: «O que é que está escrito na Lei? Como você lê?».
Ele então respondeu: «Ame o Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo». Jesus lhe disse: «Você respondeu certo. Faça isso, e viverá!».
Mas o especialista em leis, querendo se justificar, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus respondeu: «Um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Depois foram embora, e o deixaram quase morto. Por acaso um sacerdote estava descendo por aquele caminho; quando viu o homem, passou adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu, e passou adiante, pelo outro lado.
Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e teve compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata, e as entregou ao dono da pensão, recomendando: ‘Tome conta dele. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais’.»
E Jesus perguntou: «Na sua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?»
O especialista em leis respondeu: «Aquele que praticou misericórdia para com ele».
Então Jesus lhe disse: «Vá, e faça a mesma coisa».
Leitura do Evangelho de Lucas 10, 25-37 (Correspondente ao 15º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Neste domingo, continua-se a leitura do Capítulo 10 do Evangelho de Lucas. A narrativa que hoje nos é apresentada é uma das parábolas mais conhecidas dos Evangelhos. É um texto que aparece somente no evangelho de Lucas. Inicia-se com uma pergunta que fez um especialista em leis a Jesus. O evangelista deixa claro que sua intenção é para “tentar Jesus”. Lucas deixa claro que não é uma pergunta realizada por uma pessoa do povo em geral, mas de um especialista em leis que sem dúvida já sabia qual era a resposta. Continuamente os que se consideram os peritos e conhecedores das leis procuram tentar Jesus para obter uma resposta que o comprometa. Na sua resposta, Jesus aproveita para colocar o centro da sua proposta de vida.
Jesus não entra numa discussão com o mestre da lei, mas conduz seu interlocutor desde seus conhecimentos, ou seja, desde o coração da Lei mosaica expressado claramente no capítulo 6 do livro do Deuteronômio quando disse: “Amar ao Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo”.
Na primeira leitura foram lidas palavras tranquilizadoras por meio das quais é possível apreciar que Deus não exige além daquilo que possa ser realizado por toda pessoa humana. Suas palavras não contêm uma obrigação ou até imposição sobre-humana. Ele disse: “Este mandamento que hoje lhe ordeno não é muito difícil, nem está fora do seu alcance”. "Ele não está no céu, para que você fique perguntando: ‘Quem subirá por nós até o céu para trazê-lo a nós, a fim de que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática?’ Também não está no além-mar, para que você fique perguntando: ‘Quem atravessará por nós o mar, para trazer esse mandamento a nós, a fim de que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática?’ Como ele mesmo conclui, é uma palavra que “está ao seu alcance: está na sua boca e no seu coração, para que você a coloque em prática”.
Numa tentativa de justificar-se, o especialista nas leis pergunta a Jesus: “quem é meu próximo?”. Lembre-se de que para os judeus o próximo é o israelita. O título de irmão está reservado só para os israelitas. Jesus não oferece uma descrição intelectual sobre quem é o próximo, mas um amor que é universal, que não fica restrito a algumas pessoas que pertencem a um ambiente determinado, mas um amor que abarca toda pessoa humana, seja qual for sua origem ou que pertença a um determinado grupo religioso, cultural, social. É um amor global e ilimitado, que compreende todas as pessoas.
Na parábola descreve-se que um homem descia de Jerusalém a Jericó “e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram”. Ele fica quase morto! Em seguida o texto descreve as diferentes atitudes de dois tipos de pessoas. Num primeiro momento um sacerdote que “estava descendo por aquele caminho”. Ele viu o homem e passou adiante pelo outro lado. A mesma descrição é usada para um levita: “chegou ao lugar, viu, e passou adiante, pelo outro lado”. Mas a parábola narra o agir de outra pessoa, um samaritano que “chegou perto dele, viu, e teve compaixão”. A seguir disse que este homem “aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas”. Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou dele”.
Para o samaritano é mais importante a vida humana que sua preocupação de ficar impuro pelo fato de tocar uma pessoa quase morta. Ele “teve compaixão” e atuou segundo essa compaixão e sensibilidade diante de toda pessoa humana. Sua religião não fica fechada para um determinado grupo de pessoas especialmente escolhidas, senão pelo contrário. É uma religião de portas abertas, onde nada está acima da pessoa humana.
Neste momento podemos perguntar-nos quantas pessoas podemos colocar nessa situação hoje em dia, que sofrem diferentes violências! Somos chamados e chamadas a ter ousadia suficiente para dar nome a esse “homem”. Somos sensíveis diante das variadas realidades que se nos presentam no dia a dia ou vivemos “protegidos” por grandes muros que impedem que esses clamores cheguem até nós?
Enquanto “ele” está caído à beira do caminho, várias pessoas passam ao seu lado. São pessoas que o veem, mas continuam seu caminho sem fazer nada por ele. Os grandes muros que há no seu redor impedem que os gritos dos maltratados, dos sofridos e de todas as pessoas que estão na beira da sua vida cheguem até elas. Somente assim podem continuar sua vida cômoda e aparentemente tranquila.
E que comum é em nossos dias esse tipo de cegueira, à qual podemos chamar de indiferença, individualismo, “cada um na sua”..., os nomes podem variar, mas a consequência é a mesma: solidão, abandono, morte.
Aparece então no mesmo caminho o samaritano, que para os judeus é considerado um pagão. Assim como os outros, vê o homem à beira do caminho, mas a grande diferença é que ele é movido pela compaixão, se aproxima e cuida dele ternamente. Deus teve compaixão de nossa situação a ponto de se aproximar fazendo-se um de nós e descendo até as profundezas do sofrimento e do limite humano para desde ali curá-lo e libertá-lo.
Desta maneira o bom samaritano é aquele que “atua” como Deus, seguindo o exemplo de Jesus de Nazaré, aquele que sente o sofrimento dos homens aos quais se faz próximo para aliviar sua dor, curá-los, defendê-los, dar-lhes vida. As pessoas estão ao nosso redor, depende de nossa atitude que elas se convertam em nossos próximos! O serão se, assim como o samaritano, agimos
movidos pela compaixão, nos aproximamos delas e praticamos a misericórdia.
E Lucas termina o relato com um “imperativo” de Jesus a todos/as nós: “Vá, e faça a mesma coisa”. Ou seja, vá e torna-te imitador de Deus, próximo de todos/as os/as necessitados/as, porque só é possível encontrar a vida, defendendo-a, cuidando-a naqueles na qual está ameaçada. Terás já a vida eterna, porque desde já estarás vivendo a vida de Deus mesmo.
As Bem-aventuranças
Felizes são pobres com espírito
E aqueles que compartem com os pobres
Os riscos e a esperança,
Porque eles têm o Reino em suas vidas!
Contrariamente a toda propaganda
De produtos que dão felicidade,
Felizes os aflitos,
Porque eles sentirão em suas cruzes
A ternura de Deus, que é Pai e Mãe!
Felizes os que têm misericórdia
E não deixam passar um sofrimento
Sem achegar-se dele
E nele derramar-se, no óleo e no vinho:
Eles encontrarão misericórdia!
Pedro Casaldáliga
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