09 Setembro 2016
“O segundo paradigma que Lucas quebra o encontramos nos protagonistas que Jesus usa nas suas parábolas para descrever a ação misericordiosa de Deus: um pastor e uma mulher pobre”.
O comentário do Evangelho, correspondente ao 24º Domingo do Tempo Comum (11-09-2016), é elaborado por Maria Cristina Giani, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Evangelho de Lucas 15, 1-10
Todos os cobradores de impostose pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: «Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!»
Então Jesus contou-lhes esta parábola: «Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, com muita alegria a coloca nos ombros. Chegando em casa, reúne amigos e vizinhos, para dizer: ‘Alegrem-se comigo! Eu encontrei a minha ovelha que estava perdida’. E eu lhes declaro: assim, haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão.»
«Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontrar a moeda? Quando a encontra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: ‘Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdido’. E eu lhes declaro: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte.»
Na narração do evangelho de hoje, Lucas vai inverter ou quebrar alguns paradigmas do povo judeu e tomara que também os nossos.
Em primeiro lugar situa ao redor de Jesus dois grupos de pessoas: por um lado estão os publicanos e pecadores e por outro os fariseus e mestres da lei. Mas a irônica novidade lucana está no que fazem estes grupos: os primeiros estão ali para escutar a Jesus e os segundos para criticá-lo. Sendo que a base da fé judaica que tanto os fariseus como os mestres da Lei devem conhecer bem é escutar, “Shema Israel, teu Deus vai te falar!”.
Desta maneira os que pareciam ser os ignorantes, os excluídos, são os sábios, os novos amigos de Jesus que estão junto a ele acolhendo cada uma de suas palavras.
Antes de continuar refletindo sobre o evangelho, cabe-nos perguntar: em que grupo eu me situo?
Estou com aqueles e aquelas que querem escutar a Palavra, os irmãos, os acontecimentos para neles deixar-se achar pela Sabedoria de Deus: “A Sabedoria é resplandecente, não murcha, mostra-se facilmente para aqueles que a amam. Ela se deixa encontrar por aqueles que a buscam. Ela se antecipa, revelando-se espontaneamente aos que a desejam. Quem por ela madruga, não terá grande trabalho, pois a encontrará sentada junto à porta da sua casa” (Sab 6,12-14). Ou somos do grupo que está sempre pronto para julgar e criticar, fechados a qualquer novidade ou surpresa do Espírito?
O segundo paradigma que Lucas quebra o encontramos nos protagonistas que Jesus usa nas suas parábolas para descrever a ação misericordiosa de Deus: um pastor e uma mulher pobre. Ambos são pessoas do povo, não ilustradas e dentro da sociedade judaica quase que desqualificadas e sem valor.
Porém é delas que Jesus se vale para explicar aos seus ouvintes como seu Deus atua e quais são os frutos da sua Misericórdia na vida das pessoas. E esta ousadia de Jesus manifesta a lógica de Deus a partir de onde Ele se manifesta, se revela; o lugar de sua Palavra é na simplicidade e austeridade da vida de um pastor, na cotidianidade de uma dona de casa; e finalmente para melhor descrever a ação de Deus, precisamos tanto dos rasgos masculinos como femininos.
Se comparamos as duas parábolas, achamos verbos que se repetem: perder, buscar, encontrar, reunir e celebrar com os amigos. Eles de alguma maneira nos ajudam a conhecer os sentimentos do coração de Deus diante das ações de seus filhos e filhas queridos.
Nosso Deus Pai e Mãe sente, sofre quando nos perdemos por diferentes situações, seja no barulho de nossos sentimentos e pensamentos, seja em ações que nos ferem e ferem aos outros.
Nas parábolas não se disse qual é a causa da perda da ovelha, nem da moeda, parece que isso não importa nesse momento, o que Jesus quer deixar claro é que Deus se dá conta de que “não estamos ali” e sai rapidamente em nossa busca, se preocupa conosco.
O que impera é o amor, e um amor em saída que vai atrás do amado, da amada até encontrá-lo/a! Não se descreve o encontro, mas sim um dos frutos do mesmo: uma alegria expansiva!
Tanto o pastor como a mulher “reúne amigos/as e vizinhos/as para dizer: “Alegrem-se comigo! Eu encontrei a minha ovelha que estava perdida/a moeda que tinha perdido!”.
O encontro se converte em festa comunitária, a alegria transborda aos amigos e vizinhos para que eles também participem da mesma e juntos celebrem que o amor é mais forte, que a Misericórdia nos faz e re-faz família de Deus!
Ao rezar o seguinte problema peçamos a Jesus que nos conceda sabedoria para descobrir a manifestação de Deus no cotidiano, simples e desconcertante da vida.
Podemos apertar
milhares de mãos,
e ficar sozinhos,
cheios de sensações
à flor da pele.
Uma só mão,
e sentir nela
o calor do absoluto.
Podemos percorrer
muitos caminhos,
e ficar sem futuro
cheios de metros
na planta dos pés.
Podemos dar
um só passo,
e antecipar nele
o gozo da meta.
Podemos olhar
muitas paisagens,
e ficar vazios
cheios de imagens
na superfície da cor.
Podemos contemplar
um só horizonte,
e ver aparecer nele
a plenitude do infinito.
Benjamin Gonzalez Buelta
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