"O evangelista Mateus, ao tratar da origem de Jesus, poderia remeter a Gn 1-2, a história da origem de tudo, para mostrar uma nova criação em Jesus. É maravilhoso pensar que, com Jesus, há um tempo novo, uma nova vida, uma nova criação irrompendo. É vida que brota da vida, da esperança, do compromisso e do encontro com a novidade de Deus."
A reflexão é de Celia Soares de Sousa, graduada em teologia pela Faculdade de Teologia N. Sra. Assunção, SP (1999), mestre (2013) e doutoranda em teologia pela Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. Tem experiência na formação de leigos e leigas.
Primeira Leitura: Is 7,10-14
Segunda Leitura: Rm 1,1-7
Salmo: 24,1-3,3-4,5-6 (R 7c,10b)
Evangelho: Mt 1,18-24
Caminhamos como povo de Deus ao mistério mais profundo de Amor, do encontro de Deus com a humanidade: a encarnação de Jesus, nosso irmão e Salvador.
Na liturgia de hoje são destacadas duas mulheres. O profeta Isaías fala de uma virgem, mas não cita seu nome, era uma jovem. A versão grega dos Setenta utilizou o termo parthénos (virgem) para traduzir o hebraico almah (jovem). Mateus chama Maria pelo nome, e reflete sobre sua maternidade divina.
As mulheres são protagonistas no reinado de Deus, desde a antiga a nova aliança. A participação, coragem e disponibilidade a Deus e ao seu projeto, com as quais se dedicam, precisam ser evidenciadas desde os tempos antigos a atualidade.
Maria, mãe de Jesus participa na História da Salvação. Ela é a mulher que resgata as profetizas do Antigo Testamento e, por meio dela, com a sua adesão ao reinado de Deus, ela contempla com seu ser feminino a ação de Deus na vida do povo que esperava o Messias.
O salmista canta que “ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra com os seres que a povoam (...) (Sl 23(34), 1). Confiar no Senhor é essencial para que cada cristão se comprometa com a Palavra de Deus e seu projeto de vida para todas e todos.
É com esse jeito de se relacionar com Deus que o profeta Isaías segue alimentando a esperança do povo. O trecho de Isaías 7, 10-14 está em um contexto em que o rei Acaz, rei de Judá (733 a. C.), havia se rendido a submissão ao rei da Assíria, fato que traria inseguranças para o rei Acaz. A situação se complicou ainda mais quando o Rei de Israel Pecah tenta formar uma coligação anti Assíria.
Isaías, na sua teimosia profética acredita na presença e na força libertadora de Deus. O profeta não concordou com o rei Acaz em pedir ajuda da Assíria, e pede a Deus um sinal para que seja feita à vontade d’Ele sobre a vida do Seu povo. O autossuficiente rei Acaz acredita mais no exército estrangeiro do que na ação de Deus.
Deus não abandona o Seu povo e ouve o pedido do profeta. O próprio Senhor vos dará um sinal. Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel (Deus Conosco). A esperança é garantir a linhagem de Davi, pois Aquele que vem para cuidar do Seu povo, ainda será manifestado por Deus. Teimosamente, o povo espera com sua fé ativa e profética.
A postura de Acaz representa o movimento de colocar o reinado de Deus no último lugar, substituindo-o por projetos de violência e morte, de perseguição e preconceitos. Atualmente representam as violências de gênero tais como feminicídio, racismo, estupro, violência contra a população LGBT+, abuso infantil, violência no campo entre outras. A saber, toda violência é contra a justiça de Deus.
É no caminho que Deus continua nos revelando seu Mistério. Ele nos faz compreender seu imenso cuidado para com toda a Criação.
O evangelista Mateus, ao tratar da origem de Jesus, poderia remeter a Gn 1-2, a história da origem de tudo, para mostrar uma nova criação em Jesus. É maravilhoso pensar que, com Jesus, há um tempo novo, uma nova vida, uma nova criação irrompendo. É vida que brota da vida, da esperança, do compromisso e do encontro com a novidade de Deus.
Mateus traz uma catequese sobre Jesus: que Ele vem de Deus, que sua origem é divina (Mateus quer relatar o caráter excepcional da gravidez de Maria, que concebeu sem participação humana, sendo obra de Deus, por meio do Espírito Santo), qual será a missão de Jesus e que ele é o Messias esperado.
Maria, a jovem de Nazaré, prometida em casamento a José, permanecia fiel na Aliança com seu Deus. Ela é mulher que acredita, sua fé é ativa, ela é terra fértil onde Deus irá brotar em seu seio, a semente da justiça, da libertação contra todo tipo de opressão, medo e violência. De Maria nascerá o Salvador, para nos mostrar que a obra de Deus vai além das expectativas humanas.
José, esposo de Maria, era justo (Mt 1, 19). A justiça de José vai além da Lei, ele defende a vida, enquanto a Lei exige que a mulher encontrada grávida antes do casamento seja apedrejada até a morte. A ele é revelado o sonho de Deus, do Menino que irá nascer e receberá o nome de Jesus, de raiz hebraica que significa “O Senhor é salvação”, ele o Emanuel que significa “Deus conosco” ou “que Deus esteja conosco”. Seu nome caracteriza sua missão de renovar a aliança entre Deus e seu povo.
- E hoje, como povo de Deus, nos sentimos comprometidas/os com o projeto de Jesus que veio anunciar a libertação aos pobres?
- Somos profetas e profetizas denunciando as mentiras e todo tipo de violência?
- Somos testemunhas da alegria do Evangelho, construtoras e construtores da paz e da justiça que vem de Deus?
- Reconhecemos o protagonismo e a efetiva participação das mulheres como sujeitos eclesiais, na Igreja e na sociedade?
Continuemos a caminhar e que a vinda do Senhor reanime a fé e a esperança dos que O procuram.