Paglia: “Sem Francisco, seria impossível pensar que Romero será canonizado”

Papa Francisco na Praça de São Pedro, para missa de canonização de Dom Oscar Romero, Paulo VI, Francisco Spinelli (nas tapeçarias expostas) e outros quatro novos santos. Foto: Mazur | Catholic News UK

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13 Outubro 2018

O postulador da causa de Oscar Romero, Vincenzo Paglia, salientou o papel “fundamental” de Jorge Bergoglio no impulso para a sua canonização e reconheceu “ameaças recebidas de cardeais” por promover a figura do futuro santo.

A reportagem é de Hernán Reyes, publicada por Religión Digital, 13-10-2018. A tradução é de André Langer.

Paglia, promotor da causa daquele que ele denomina de “o primeiro mártir do Concílio Vaticano II”, disse em conversa com Religión Digital que “antes da eleição de Jorge Bergoglio como Papa Francisco, em 13 de março de 2013, teria sido impossível pensar que Romero se tornaria santo”.

“Eu tive o primeiro sinal no próprio dia da sua entronização, no dia 19 de março desse mesmo ano. Nós conversamos e eu notei sua decisão de avançar com a causa de Romero”, acrescentou Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida do Vaticano, horas antes de Jorge Bergoglio presidir a missa de canonização de Óscar Arnulfo Romero, no domingo, às 10h15 (horário local).

O arcebispo Oscar Romero, muito popular na América Latina e chamado de a “voz dos sem voz” por sua dedicação aos mais desfavorecidos, foi assassinado no dia 24 de março de 1980 por um comando da extrema direita no início da guerra civil em El Salvador.

“Os obstáculos para a canonização de Monsenhor Romero foram muitos, mas os mais fortes vieram de dentro da própria Igreja e da cúria romana. Cheguei, inclusive, a receber ameaças de cardeais para que abandonasse a sua causa”, acrescentou.

“Muitas vozes da Igreja defendiam que Romero tinha sido assassinado por suas ideias políticas e não pela fé. Mas o que aconteceu com ele foi uma clara pressão contra a Igreja dessa época”, disse Paglia, lembrando que Romero foi beatificado após ser declarado mártir pelo Papa Francisco, que considerou que o salvadorenho foi assassinado ‘in odium fidei’ (por ódio à fé).

“A Igreja abandonou Romero durante muitos anos. Esse foi seu primeiro martírio. Já em 1981, João Paulo II me disse que teríamos que reivindicar Romero, que tinha sido apropriado pela esquerda latino-americana”, disse Paglia antes da histórica canonização, na qual também será elevado aos altares Paulo VI.

Nesse sentido, destacou a linha que há entre esse gesto do agora santo polonês, a decisão do Papa Emérito Bento XVI de “desbloquear a causa” em 2012 e a decisiva convicção de Francisco para promover sua canonização, prevista “depois de anos e anos de luta” para este domingo às 10 em Roma, na Praça São Pedro, no contexto do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens.

Romero foi o primeiro mártir do Concílio Vaticano II. Ele queria uma Igreja por e para os pobres. E seu assassinato tinha como verdadeiro objetivo atacar mortalmente o desenvolvimento dessa visão na América Latina. Era frear uma Igreja do povo que se mostrava como oposição a um regime oligárquico”, denunciou Paglia.

Neste contexto, o bispo italiano disse que a canonização do arcebispo salvadorenho acontece conjuntamente com a canonização do Papa Paulo VI: “Isso ressalta as linhas que uniram a ambos. Paulo VI celebrou o Concílio Vaticano II, Romero o viveu e o colocou em prática”, disse.

Os nomes dos dois próximos santos estão ligados há mais de 40 anos: Romero foi nomeado arcebispo de San Salvador pelo Papa Paulo VI em 1977.

Romero (Ciudad Barrios, 15 de agosto de 1917 – San Salvador, 24 de março de 1980) foi beatificado em seu país natal em 23 de maio de 2015, em uma cerimônia que reuniu milhares de fiéis, presidida pelo cardeal Angelo Amato, delegado do Papa.

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