24 Julho 2018
É hora da Igreja enfrentar o abuso de poder por parte dos bispos.
“Eu não sei o que dizer. A podridão em abundância selou este “vulcão” durante muito tempo. Abuso de poder não tem nada, e ao mesmo tempo, tudo a ver com o Evangelho. Alguém precisa colocar em questão esses bispos que abusam das pessoas, ignorando as queixas e / ou atacando os que estão sob seu poder”, escreve Phyllis Zagano, pesquisadora sênior da Hofstra University em Hempstead, Nova York, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 23-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Phyllis Zagano já publicou, entre outros, os livros “Women Deacons: Past, Present, Future” (Mulheres Diaconisas: Passado, Presente, Futuro) e “Holy Saturday: An Argument for the Restoration of the Female Diaconate in the Catholic Church” (Sábado Santo: Um Argumento para a Restauração do Diaconato Feminino na Igreja Católica).
Podemos enfrentar fatos comoventes? Chegou a hora da campanha #MeToo na Igreja Católica. Há muito comportamento abusivo dos bispos católicos [ou ignorado por eles].
O ex-arcebispo de Washington, D.C., cardeal Theodore McCarrick foi finalmente punido por abusar de um menor, há 47 anos. Todo mundo sabia, porém ninguém fazia nada.
Uma mulher religiosa acusou o bispo Franco Mulakkal de Jalandhar de estupro. Possivelmente, há 18 outras irmãs com histórias semelhantes sobre Mulakkal e uma ação contra o cardeal que não respondeu às alegações.
Quem será o próximo?
É hora da Igreja enfrentar o abuso de poder por parte dos bispos. Não se pode focar apenas os abusos físicos e emocionais que são sussurrados nos seminários, nas chancelarias e nos bares gays. Nos Estados Unidos, o famoso caso da "Carta de Dallas", de 2002, é sobre padres, diáconos e menores. Os bispos não estão sob a jurisdição da carta. No entanto, a raiz deste problema está no topo, e não embaixo.
O problema é endêmico e real.
O site BishopAccountability.org lista cerca de 60 bispos seculares e religiosos, acusados de abuso sexual de menores e mais 28 por abuso de adultos. Todos eles são de diversos países ao redor do mundo. Alguns estão mortos, enquanto outros laicizados. Alguns podem até ser inocentes. Poucos estão ou passaram pela cadeia.
A pior parte? Não é só sobre abuso sexual.
Comece com padres e bispos. Faça o que o bispo diz, ou se perca. Seja gentil, faça sua vontade e, de repente, você será um monsenhor, dirigindo uma paróquia. Às vezes é por talento. Às vezes é por cooperar e ser um jogador de equipe. Às vezes é puro abuso de poder. Em muitos casos, a dinâmica sexual distorcida está em jogo.
Quando o sexo realmente está envolvido, o ‘escolhido’ do bispo se torna seu “secretário”, ou “mora na sua casa”. De alguma forma está sempre por perto. Estamos falando de bispos católicos.
No entanto, ninguém quer falar sobre isso porque temem o poder do bispo. E não são apenas os padres que têm os gritos abafados. São os funcionários leigos da chancelaria e as religiosas que precisam de seus empregos para sustentar famílias ou comunidades. Os bispos podem arruinar a vida de muitos. E reclamar, em muitas ocasiões, não adianta nada.
As pessoas que podem reclamar são as que não dependem da Igreja. Mesmo sendo muito detalhadas e acuradas as reclamações, acabam nas lixeiras da chancelaria. Logo, uma fusão paroquial - "devido à queda de membros" - faz o problema dispersar com a aposentadoria do bispo, financiada pela diocese.
Não é apenas uma questão de mau comportamento sexual. Os bispos, no mundo inteiro, supervisionam pastores e padres abusivos e ignoram a realidade das situações. Seja o alerta sobre um administrador que não faz nada, de um padre que perde a cabeça por qualquer motivo, ou um pastor esbanjador que está esvaziando a conta bancária, os bispos ignoram as reclamações, especialmente das mulheres.
Eu não sei o que dizer. A podridão em abundância selou este “vulcão” durante muito tempo. Abuso de poder não tem nada, e ao mesmo tempo, tudo a ver com o Evangelho. Alguém precisa colocar em questão esses bispos que abusam das pessoas, ignorando as queixas e / ou atacando os que estão sob seu poder.
Só então, todo o povo de Deus - leigos, padres e futuros padres - saberão que pertencem a uma Igreja saudável.
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