08 Janeiro 2018
O Pe. Moreno protestando em 2016 contra a construção de uma cabine de pedágio perto de El Progreso, em Honduras. O local vem sendo o palco de protestos há mais de um ano. (Foto: Radio Progreso)
A Conferência de Provinciais Jesuítas da América Latina e Caribe lançaram uma carta aberta à comunidade internacional defendendo o jesuíta Ismael Moreno, comumente conhecido como “Padre Melo”, contra “graves ameaças”, dizendo que consideram “o presidente hondurenho “Juan Orlando Hernández e seus aliados como os responsáveis pela segurança e bem-estar físico e moral” do Pe. Moreno e oito lideranças regionais.
Um panfleto anônimo está circulando nas mídias sociais acusando Moreno e outros líderes de ter laços com organizações criminosas e cartéis e drogas, além de incitar a violência e destruição entre os hondurenhos.
A reportagem é de Zac Davis, publicada por America, 02-01-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Moreno é o diretor da Radio Progreso, estação de rádio jesuíta destacada no documentário “La Voz del Pueblo”, da revista America e da Equipe de Reflexão, Investigação e Comunicação – ERIC, centro jesuíta de análise e ação social.
“Estou convencido de que [este panfleto] é uma campanha de estigmatização e criminalização contra os que defendem os direitos humanos e contra a oposição que se origina nos círculos do próprio governo”, diz Moreno em nota à America. “No meu caso, esta tentativa de me implicar nos cartéis de droga ocorre há pelo menos um ano, e tem o propósito de provocar uma ação criminosa contra mim”.
As ameaças e a carta vieram na esteira de uma eleição presidencial contenciosa em Honduras. O incumbente, Juan Orlando Hernández, foi declarado vitoriso, apesar dos pedidos por novas eleições feitos pela Organização dos Estados Americanos.
A Radio Progreso, com um alcance de mais de 1.5 milhão de ouvintes, vem criticando fortemente a eleição e a resposta violenta aos manifestantes civis. Na manhã do dia 10 de dezembro, a Radio Progreso percebeu que uma de suas antenas tinha caído. Após inicialmente suspeitar de que tinha sido o mau tempo o responsável pela queda, um técnico descobriu que os parafusos foram soltos. Moreno culpou o presidente Hernández e seus aliados pela destruição.
A carta, assinada por Roberto Jaramillo, SJ, compara o folheto ao graffiti “Be a patriot—kill a priest” [Seja um patriota: assassine um padre], comum nos dias antes do assassinato do jesuíta Rutilio Grande em El Salvador.
Material que acusa o Pe. Moreno e oito líderes regionais de terem laços com organizações criminosas e cartéis de droga, além de incitar a violência e destruição entre os hondurenhos.
Embora o panfleto atual não conte com um chamado claro a assassinar pessoas, Matt Ippel, SJ, escolástico jesuíta americano que estuda filosofia em Lima e amigo próximo do Pe. Moreno, acredita que o material faz parte de um padrão conhecido de supressão em Honduras.
“Começa ignorando [as vozes opositoras], então passa à deslegitimização, que é onde este panfleto se encaixa”, disse Ippel. “Em seguida, a criminalização, depois o assassinato”. Ippel diz que um exemplo recente deste padrão vê-se no caso de Berta Cáceres, ativista ambiental e amiga de Moreno, assassinada em março de 2016.
Ainda que esta não seja a primeira ameaça feita contra Moreno ou funcionários da Radio Progreso/ERIC, o Pe. Jaramillo diz que o nível a que chegou é destacadamente alto por três motivos.
Primeiro, foi lançado perto dos feriados de fim de ano, quando assassinatos podem ser ignorados mais facilmente. Segundo, alimenta um ambiente de ódio entre a sociedade hondurenha e incentiva criminosos potenciais. Por fim, “está claro que Melo e todos os colaboradores da Radio Progreso/ERIC se tornaram uma ‘pedra no sapato’ de Juan Orlando Hernández em seu objetivo de controlar tudo em Honduras”, escreveu Jaramillo a America.
Na Véspera de Ano Novo, Moreno postou no Twitter e no Facebook que “estou recebendo acusações que põem minha vida em risco”.
[Tradução: Estou recebendo acusações que põem minha vida em risco. É este o diálogo aberto de que fala o presidente, com o respaldo da Embaixada dos EUA? É este o diálogo sustentado pelos meios corporativos, algumas igrejas e setores da chamada “sociedade civil oficialista”?]
“Não é somente Melo, mas todas as pessoas que trabalham na ERIC e a equipe da Radio Progreso, mais de 30 colaboradores que participam do nosso corpo apostólico”, contou Jaramillo. “São mães, pais de famílias, pessoas realmente comprometidas em trabalhar pela justiça, democracia e participação”.
Dois empregados da Radio Progreso/ERIC foram mortos recentemente: Carlos Mejía em 2014 e Nery Jeremías Orellada em 2011. Desde 2009, ameaças são feitas contra 16 funcionários, segundo informou Ippel em agosto ao site The Jesuit Post.
Moreno permanece um crítico feroz, apesar das ameaças recebidas. Desde 2 de janeiro, ele convida todos os hondurenhos a manterem-se fortes, convidando-os a ações constantes de desobediência civil para “impedir que se instaure um governo ilegal, ilegítimo e usurpador da vontade soberana do povo”.
Na Véspera de Ano Novo, Moreno postou no Twitter e no Facebook que “estou recebendo acusações que põem minha vida em risco”.
[Tradução: Com base em minha consciência cidadã, ética e cristã, convido a meus compatriotas a iniciar, a partir de 2 de janeiro, ações nacionais fortes e constantes de desobediência civil para impedir que se instaure um governo ilegal, ilegítimo e usurpador da vontade soberana do povo.]
Jaramillo espera que a carta não somente ajude a manter em segurança o Pe. Moreno e seus colegas, mas também que promova as causas pelas quais eles têm arriscado suas vidas.
“Como Conferência de Provinciais Jesuítas da América Latina, devemos ficar do lado deles não só para defender os nossos companheiros jesuítas e leigos que trabalham em nome da Companhia, mas especialmente para defender e promover as causas pelas quais eles lutam”.
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Jesuítas publicam carta aberta denunciando “graves ameaças” contra padre de Honduras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU