06 Outubro 2017
Dada por morta mil vezes, a paróquia ainda está ai. Como disse o Papa Francisco: "A paróquia não é uma estrutura caduca; precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir formas muito diferentes "(EG 28). Relatos, ironias, abordagens acadêmicas e sérias, testemunhos, etc.: foram utilizados todos os tipos de registros. Um dos mais eficazes é considerar no microcosmo da paróquia os elementos únicos, entre os mais comuns e os mais óbvios, mas capazes de esclarecer o todo.
É o que Davide Caldirola e Antonio Torresin, responsáveis pelo clero milanês, estão perseguindo há anos, com uma série de volumes, todos nascidos da colaboração com Settimana antes, e agora com Settimananews.it. Primeiro, sobre a figura do padre (I sentimenti del prete, I verbi del prete, I sogni del prete, já traduzidos em várias línguas), agora, sobre a dimensão paroquial: Un giorno in parrocchia. Storia de una comunità come tante altre, EDB, pp. 208).
O artigo é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 23-09-2017. A tradução é de Ramiro Mincato.
Capaz de ensaios mais amplos e volumes mais especializados, os dois autores abordam o tema porque são paroquianos, estão convencidos da prioridade das comunidades territoriais, e porque se divertem. Imagino-os na poltrona, após o almoço, com o cachimbo e um bom copo. Enquanto decidem o tema a ser abordado. Se explode uma risada, o tema está certo. A alegria abre a mente e o coração, e chega até a oração.
Eles escrevem juntos. Nunca entendi a diferença de estilos. Estamos acostumados com as assinaturas duplas: das televisivas Garinei-Giovannini, aos romancistas Fruttero-Lucentini, aos teólogos Flick-Alszeghy, aos cômicos Ficarra-Picone. Nossos dois autores viveram em conjunto com outros padres, trabalhando na formação de jovens presbíteros, antes de assumir a responsabilidade paroquial.
A paróquia é "um experimento profético: o de reunir uma humanidade variada e improvável que, exatamente porque não é homogênea, tem apenas o Evangelho como centro de gravidade". Parece chata e repetitiva, mas quando as pessoas se afastam por algum tempo, e voltam, repetem com Giovanna: "Uma das coisas que mais senti falta foi minha paróquia". A paróquia está imersa nos "não-lugares" da vida da cidade, e seus limites parecem efêmeros, mas garante "um enraizamento indispensável no território, o que significa um vínculo indispensável com a vida comum". "Uma paróquia pode fazer muitas ou muito poucas coisas, mas seu sentido não depende da sua utilidade. Há uma única coisa que certamente pode e deve fazer hoje: rezar. Ou melhor: interceder".
Pode acontecer de tudo: o bar por onde "passa a vida", as chaves regularmente perdidas (meu velho pároco as perdia todos os dias e se colocava em frente à estátua de Santo Antônio e, com tom ameaçador, dizia: "Se não me fazes encontrar as chaves, te viro para o outro lado" e o molho sempre aparecia), as controvérsias entre os coros (na minha paróquia um desses recebeu o nome "vamos nos machucar"), os pequenos ressentimentos entre os voluntários, a desagradável experiência dos ladrões, novas figuras das cuidadoras e dos estrangeiros. Os imprescindíveis jogos de futebol: "Às quatro horas da tarde, havia o jogo de retorno da semifinal do torneio de futebol da terceira e quarta série. Fui convidado explicitamente, talvez por motivos supersticiosos. O treinador me disse que, ao contrário das freiras, os padres trazem boa sorte. Felizmente, ganhamos".
Sobre as doenças paroquiais haveria muito que dizer. Em sua recente carta pastoral, Mons. Erio Castellucci, bispo de Modena, as enumera assim: difamação grave, lamentação crônica, hemiparesia paroquial ("sempre se fez assim"), perfeccionismo paranoico, calculismo comunitário (conta os resultados numéricos), ativismo ansioso, miopia pastoral e assim por diante. Mas há também generosidade extraordinária e profundidades espirituais surpreendentes: do silêncio da oração e da dor ao relato do Evangelho ("percebi que estava, devagarinho, começando a gostar"); da confissão ("gostaria de ter um pequeno frigobar no confessionário. Mais de 15 anos de distância da última confissão, dever-se-ia abrir uma boa garrafa de espumante e fazer festa") ao cuidado dos moribundos (como no caso de Guglielmina, cercada por uma cura não-invasiva e sóbria, uma bela humanidade preocupada em acompanhar até o fim, sem excesso e sem querer prolongar, a qualquer custo, o curso de uma vida que chegou ao seu fim. Parece-me que aqui o Evangelho é de casa"); dos casos complicados (o filho homossexual que justifica perguntas desconfortáveis, "como e quando falamos sobre isso entre os padres?", "que tipo de recepção eles podem encontrar em nossas paróquias?") ao velho sacerdote (não me sinto jogado fora, "nunca estive tão bem como desde que renunciei de ser pároco).
Além do Evangelho, não há uma única citação de peso, mas, em um ponto, entre parênteses, escapam algumas referências valiosas: Bonhoeffer, von Balthasar, De Foucauld, Vanier, Barsotti, Bianchi, Thévenot, Chergé. Mas os nomes mais apreciados são dois, pouco citados e muito presentes: Martini e Papa Francisco.
Nota:
TORRESIN A; CALDIROLA D. Un giorno in parrocchia: Storie di una comunità come tante altre. EDB, pp. 208, € 18,00.
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Um brinde à paróquia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU