22 Agosto 2017
“Dizer simplesmente que ‘o islã é paz’ ou que ‘não tem nada a ver com o Estado Islâmico ou com a Al-Qaeda’ é como dizer que as cruzadas não têm nada a ver com o cristianismo. Que sejam uma perversão da religião, não significa que não tenham nada a ver”, escreve o jesuíta Jaume Flaquer, em artigo publicado por Religión Digital, 21-08-2017. A tradução é do Cepat.
Infelizmente, sabíamos que um atentado em Barcelona poderia ocorrer. Sua grande atração turística a tornava um prato desejado demais. Las Ramblas, além disso, é um passeio que há tempo nós, barceloneses, abandonamos.
Antes de mais nada, devemos destacar que nem a religião (que dizem professar), nem a nacionalidade dos terroristas devem contribuir para estigmatizá-las. A Comunidade Islâmica da Espanha, como sempre faz quando há um atentado em nome do Islã, se apressou a condená-lo. Milhares de muçulmanos que estão entre nós vivem estes acontecimentos como o mesmo sentimento de horror que possuímos.
O uso do nome da própria religião para algo tão terrível deve criar um profundo sentimento de desolação. O Rei da Jordânia, em 2004, iniciou um processo de condenação pública do mundo islâmico contra a barbárie. O grande dirigente islâmico do Egito também quis liderar este processo em diversos congressos e declarações. Marrocos seguiu a mesma saga, ainda que não chegue aos ouvidos ocidentais.
Dito isto, é preciso que entre todos façamos uma análise profunda, mas também honesta de todas as causas que provocam o terrorismo. E temos de sublinhar o “todas”! Não só as diretas, mas também as indiretas. Há metodologias de base mais ou menos marxista (ainda que seja de maneira matizada ou evolucionista) que reduzem as causas a questões sociais, econômicas, políticas ou geoestratégicas, etc., sobre as quais se formam as ideologias, também religiosas; e há também metodologias contrárias, mais ou menos antirreligiosas (ou islamofóbicas), que reduzem as causas à própria religião.
O fenômeno terrorista é extremamente complexo, posto que não há nenhuma causa única que explique por si só este fenômeno. Há terroristas (muitos) de classe média ou média-alta, e gente extremamente rica que o financia. Muitos cursaram estudos universitários (mas isso, sim, quase sempre em carreiras técnicas ou científicas). Não é, pois, um problema de simples falta de formação. Sem dúvida, os problemas sociais, de integração ou de desenvolvimento da própria identidade potencializam o fenômeno porque geram as pessoas vulneráveis que entram nestas correntes ideológicas do terrorismo como quem entra em uma seita.
Mas, não pode se considerar como a única causa, porque os cristãos dos países de maioria islâmica vivem em situação de marginalidade (quando não de perseguição) e não geram movimentos terroristas. Muitos terroristas possuem elementos de patologias psicológicas, mas nem sempre as barbaridades são cometidas por doentes mentais. Não se pode pensar que todos os nazistas fossem doentes mentais...
É necessário abordar todas as causas. Há causas de política internacional: a invasão do Iraque e, antes, a luta contra a URSS no Afeganistão... O grupo “Estado Islâmico” ou Al-Qaeda nasceram aí. Ainda não ouvi nem Aznar e nem Bush pedir perdão por isso! O colonialismo europeu feriu também a consciência e o orgulho árabe (e de muitas outras culturas).
Há causas sociais: as enormes desigualdades econômicas, além de ser um escândalo ético são geradoras, muitas vezes, de raiva ou de desesperança. Se esta última pode levar ao suicídio, o terrorista consegue morrer, mas com sentido.
Há causas psicológicas: também vemos isto regularmente em ataques de ira em indivíduos dos Estados Unidos, que realizam carnificinas com a ajuda da facilidade de conseguir uma arma.
(Foto: Reprodução / Twitter)
Mas, também (sim, também) há causas religiosas, ainda que sejam para perverter a religião. Dizer simplesmente que “o islã é paz” ou que “não tem nada a ver com o Estado Islâmico ou com a Al-Qaeda” é como dizer que as cruzadas não têm nada a ver com o cristianismo. Que sejam uma perversão da religião, não significa que não tenham nada a ver. Muitos clérigos transmitem o ódio e a violência, sendo contrários a ela. Quantos imãs salafistas pregam a proibição de ter amigos cristãos e judeus!
Sem dúvida, é uma perversa interpretação de um versículo corânico, mas esta interpretação se faz a partir do islã propagado pela Arábia Saudita. A partir deste país, são escritos livros sobre jurisprudência islâmica que ditam a morte do homossexual, do apóstata e do adúltero. E estes livros são vendidos na Espanha, traduzidos ao castelhano! A Arábia Saudita e outros países do Golfo condenam o terrorismo, uma vez que eles também estão na mira do Estado Islâmico e da Al-Qaeda. Mas, seu islã os produz sem cessar.
Se se condena ao inferno judeus, cristãos e, é claro, politeístas e ateus, (e este elemento de fé não só é professado pelos salafistas, como também é extremamente comum), é possível dizer que se é completamente alheio a que uns loucos queiram antecipar esse inferno já na terra? Se Deus não consegue encontrar nenhuma pitada de bondade suficiente que mereça sua salvação, por que precisam encontrar nos seres humanos? Façamos todos uma autocrítica sincera para acabar com este mal do século XXI.
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Terrorismo. “Há causas econômicas, sociais, psicológicas, mas também religiosas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU