10 Agosto 2017
Um jovem jesuíta que morreu protegendo seus estudantes da explosão de uma granada está agora no caminho rumo à santidade, seguindo a recente declaração do Papa Francisco de que aqueles que deram as suas vidas pelos outros em situações de morte certa podem ser levados em consideração para a canonização.
A reportagem é de Colleen Dulle, publicada por revista America, 07-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O escolástico jesuíta filipino Richie Fernando trabalhava como missionário no Camboja, em Banteay Prieb, o centro de formação vocacional jesuíta para sobreviventes de minas terrestres e poliomielite e para pessoas com dificuldades de aprendizagem.
Em outubro de 1996, um estudante emocionalmente perturbado trouxe uma granada para a escola. Quando se aproximou de uma sala cheia de alunos, com a granada na mão, o Ir. Fernando o agarrou por trás. O estudante, Sarom, deixou a granada cair, e a explosão matou o jovem jesuíta. Seu corpo protegeu Sarom e os outros estudantes da explosão.
Richie Fernando, SJ posa com seu amigo Totet Banaynal, SJ. Os dois trocaram centenas de cartas antes da morte do Ir. Fernando, em 1996 (Foto: Missão dos Jesuítas no Camboja)
O Ir. Fernando havia escrito a um amigo sobre seus estudantes meses antes da morte: “De repente, eu me vejo sentindo muito amor por eles. Se ao menos eu pudesse seguir os caminhos de Cristo. Se ao menos eu pudesse ajudar todos eles como Deus os ajudaria... Espero poder oferecer a minha vida a eles ao máximo”.
Totet Banaynal, SJ foi o melhor amigo do Ir. Fernando. Ele descreveu o Ir. Fernando como um homem comum, disponível e inteligente, que gostava de jogar basquete, nadar e correr. Em suas cartas ao Pe. Banaynal, o Ir. Fernando mostra-se também um piadista: ele conta várias histórias sobre pessoas que o confundem com um guarda, motorista ou alguém que não fala inglês, e ele desempenha esses papéis até surpreendê-las no fim.
O Pe. Banaynal e o Ir. Fernando trocaram centenas de cartas, a última das quais o Ir. Fernando escreveu quatro dias antes da sua morte dele. O Pe. Banaynal a recebeu uma semana depois do funeral do Ir. Fernando.
Nessa carta, o Ir. Fernando escreve sobre suas lutas e esperanças junto aos estudantes:
“Você sabe, Tet, para ser sincero, eu não quero parar. Sinceramente, eu me sinto inspirado a enfrentar os problemas, as pessoas, a verdade, embora seja difícil e doloroso... Em outras palavras, Tet... Eu sei onde meu coração está... Ele está com Jesus Cristo... Jesus que deu tudo pelos pobres, pelos doentes, pelos órfãos etc... Estou confiante de que Deus nunca esquece o seu povo... os nossos irmãos e irmãs deficientes. E fico feliz que Deus tenha me usado para fazer com que nossos irmãos e irmãs conheçam esse fato...”
“Eu acredito honestamente que morrer pelos nossos amigos pobres aqui será o maior presente que Deus pode nos dar. E eu continuamente rezo por essa graça todos os dias.”
Quando o Pe. Banaynal soube da morte do Ir. Fernando, ele imediatamente escreveu no quadro da comunidade jesuíta: “Por favor, rezem pela alma do Ir. Richie Fernando, que morreu no Camboja nesta manhã”.
“De todos os muitos anúncios que eu escrevi naquele mesmo mural, esse foi o anúncio mais doloroso de todos”, disse o Pe. Banaynal. “Eu não chorei, mas as lágrimas estavam brilhando nos meus olhos. Havia raiva no meu coração... Depois, lentamente, ao longo do dia, vieram os detalhes da morte de Richie... E, quando eu vi como ele deu a sua vida, eu senti uma certa tranquilidade e uma sutil consolação.”
“Desde a sua morte, várias expressões de devoção a Richie surgiram e continuaram, não apenas nas Filipinas e no Camboja, mas também em outros lugares”, escreveu o Pe. Moreno. “Considerando a vida de Richie e as respostas inspiradas na fé que a sua morte evocou, a Província explorou a viabilidade de considerar a sua causa como uma inspiração para os jovens dos nossos tempos.”
De acordo com o Pe. Banaynal, algumas dessas respostas à morte do Ir. Fernando incluem um vídeo inspirador sobre a sua vida, que é mostrado aos jovens, uma história da sua vida em um livro escolar público e seminaristas que citam o Ir. Fernando como inspiração para as suas vocações.
O superior-geral dos jesuítas, Arturo Sosa, SJ (à esquerda), visita a sala de aula onde Richie Fernando, SJ foi morto. Pode-ser ver o buraco no chão provocado pela explosão da granada (Foto: Missão dos Jesuítas no Camboja)
O Pe. Banaynal não esteve envolvido nos esforços para promover a causa de canonização do Ir. Fernando. No entanto, “como jesuíta e católico, é meu dever e responsabilidade testemunhar sobre Richie Fernando e sobre como, apesar das suas limitações como pessoa humana, ele sempre se dedicou a Deus e ao serviço dos outros”.
A decisão dos jesuítas de dar continuidade à causa veio depois que o Papa Francisco anunciou um novo caminho para a canonização, em 11 de julho, para pessoas que fizeram a “oferta livre e voluntária da vida e a aceitação heroica de uma morte certa”.
Para ser beatificado nesse novo caminho, deve-se constatar que o Ir. Fernando ofereceu a sua vida livremente, por caridade, em uma situação de morte certa e prematura; praticou as virtudes cristãs; tem uma reputação de santidade, pelo menos após a morte; e tem um milagre atribuído à sua intercessão.
Os processos de beatificação e canonização, então, prosseguiriam de acordo com as normas do Papa João Paulo II estipuladas em 1983.
O Pe. Moreno escreveu que o superior-geral dos jesuítas, Pe. Arturo Sosa, apoia a causa da canonização do Ir. Fernando. O postulador-geral dos jesuítas representará a causa em Roma, e o Pe. Moreno recomendará um vice-postulador para tratar a causa localmente.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Jovem jesuíta morto no Camboja rumo à canonização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU