12 Julho 2017
Em pouco mais de um mês, Francisco oficializou duas nomeações destinadas a pesar sobre o futuro da Igreja italiana: o novo vigário da capital e o arcebispo da metrópole da Lombardia. Pensando, acima de tudo, nas necessidades das dioceses.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 11-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nos dias 26 de maio e 7 de julho passados, foram publicadas as nomeações de dois novos pastores diocesanos, destinado a pesar muito sobre o futuro da Igreja italiana. Com a designação de Angelo De Donatis como novo vigário de Roma, Francisco escolheu um ex-pároco por ele nomeado bispo auxiliar, que, pelos cargos assumidos, foi figura central na relação com os sacerdotes da diocese.
No dia 7 de julho, acelerando os tempos da sucessão ao cardeal Angelo Scola, a pedido explícito deste último, o Papa Bergoglio nomeou o seu sucessor à frente da maior e mais importante diocese da Europa e uma das mais importantes do mundo, Dom Mario Delpini, até então vigário geral, ex-colaborador próximo dos últimos três arcebispos ambrosianos.
Alguns viram nessas escolhas, internas e de perfis menos bombásticos, uma mudança de ritmo em relação com o que aconteceu nos anos anteriores, por exemplo, com as significativas nomeações dos bispos de Pádua, Bolonha e Palermo, caracterizadas por escolhas mais marcadas por forasteiros. De acordo com essa interpretação, nos casos de Roma e Milão, o pontífice teria optado por soluções mais comuns: quase um recuo. Em particular, justamente a escolha de Milão pareceu decepcionar alguns auto-denominados “bergoglianos”, que pediam uma nomeação de ruptura com o passado para marcar melhor a sintonia com a “Igreja de Francisco”, como se realmente fosse possível existir uma “Igreja de Francisco”, em vez da única Igreja de Cristo. E decepcionou também alguns pequenos grupos internos ao clero milanês, que desejavam um “papa estrangeiro”, isto é, alguém que viesse de fora para mergulhar ex novo na complexa realidade de uma diocese gigantesca. E também ficaram surpresos aqueles que indicaram nomes improváveis, na recôndita esperança de ver os seus amigos nomeados.
Na sexta-feira, 7 de julho, no momento da oficialização da sua nomeação como sucessor de Scola, o novo arcebispo de Milão, Mario Delpini, apresentou-se como um “bom homem”, mas “medíocre”, não o “santo”, o “gênio”, nem o “carismático arrastador”, que serviria para um papel tão importante. No entanto, justamente essa atitude simples e humilde, não desprovida de pontas de ironia, marcou uma significativa mudança de ritmo e indicou uma peculiaridade do novo pastor. Homem ascético, pobre (foi justamente Scola que, ao apresentá-lo, indicou a característica da sua “grande pobreza”), de oração, capaz de diálogo. Especialista em patrologia, mas também autor de livros de histórias infantis, acostumado a pregar com pequenos exemplos da vida cotidiana e da sua experiência familiar. Consciente de ser, de algum modo, “esmagado” pelo calibre e pela bibliografia dos seus antecessores imediatos.
No entanto, justamente esse sincero sentimento de inadequação poderia fazer surgir ainda mais e melhor do que no passado um fato fundamental: Jesus Cristo é a rocha, é Ele que guia a sua Igreja (“Ecclesiam suam”, e não deste ou daquele papa, muito menos deste ou daquele arcebispo). Da mesma forma, também em Roma, com a escolha de De Donatis, esta também interna, Francisco mostrou preferir uma liderança mais pastoral e ligada à cotidianidade da vida eclesial. Com a característica comum, tanto no caso de Roma, quanto de Milão, de uma atenção particular à relação com os padres.
O que mudou, então, em relação às nomeações dos últimos dois anos? Houve realmente uma mudança, talvez em uma direção mais prudente? Na realidade, esse modo de argumentar corre o risco de ignorar um elemento crucial. Não existe um perfil específico de bispo apto para cada diocese. É fundamental na escolha do pastor – e isto vale também para a escolha do bispo de Roma, como demonstram as discussões pré-conclave – compreender quais são as prioridades e as maiores necessidades da diocese. Prioridades e necessidades específicas, que não são as mesmas em todos os tempos e em todos os lugares.
É até mesmo óbvio observar que, em geral e em todas as latitudes, espera-se de um bispo que ele creia em Jesus Cristo, que seja um homem de oração, que não seja um carreirista, que saiba pregar fazendo-se entender pelo seu povo, que esteja perto do seu povo e não viva como um príncipe, isolando-se no seu palácio. Mas, dito isso, no processo que contribui para a escolha, é fundamental, acima de tudo, compreender o que é mais urgente para a Igreja local a ser confiada à liderança do novo bispo.
Nessa perspectiva, em vez de focalizar a porcentagem de fatores extraordinários da escolha, é mais útil se perguntar a quais prioridades respondem nomeações como as de De Donatis e de Delpini. No caso de Milão, por exemplo, é evidente, de um lado, a escolha não de ruptura – o novo arcebispo foi nomeado reitor-mor de Venegono por Carlo Maria Martini, auxiliar de Dionigi Tettamanzi, vigário geral encarregado da formação do clero por Scola –, mas, ao mesmo tempo, também de originalidade: Delpini não pode ser relacionado com grupos ou partidos eclesiásticos, viveu na pobreza e simplicidade como padre e como bispo, antes da chegada de Francisco e, portanto, é pastor “com cheiro de ovelhas”, que não precisa mudar o currículo com algumas correções, adequando-se às novas palavras de ordem “bergoglianas”.
Com a sua escolha, o papa parece querer indicar para a grande diocese ambrosiana o caminho de uma menor preocupação pelas estruturas, pela organização perfeita e, em alguns casos, não alheia à complacência, pelas relações institucionais. E, ao mesmo tempo, o caminho de uma maior ênfase sobre a importância da vida comum da Igreja, feita de oração, liturgia, caridade.
Aquele Igreja de povo que ainda existe na diocese ambrosiana, como bem sublinhou o cardeal Scola, ao término da visita pastoral, recolhendo as indicações que surgiram na visita do papa a Milão. Uma Igreja menos encurvada sobre si mesma, sobre o lamento diante daquilo que está errado na sociedade. Uma Igreja mais capaz de ser portadora de alegria, indo ao encontro de todos, sem nunca renunciar ao único verdadeiro motivo pelo qual está no mundo: “Eu gostaria de dizer que sou um padre. Portanto, a mensagem que posso dar à cidade – disse Delpini – é o de se recordar de Deus”.
Por fim, não é de se subestimar o elemento da proximidade e do conhecimento do clero, que reúne o novo vigário de Roma e o novo arcebispo ambrosiano. O cuidado da relação com os padres é a prova de fogo, o desafio sobre o qual se joga todo episcopado, porque, se é verdade que o bispo deve ser acessível a todos, capaz de mostrar proximidade às pessoas, é igualmente verdade que o primeiro passo dessa proximidade se concretiza com a sua paternidade em relação aos seus padres. E paternidade significa paciência, disponibilidade para ouvir, assumir os problemas sabendo ser próximo de quem está mais em dificuldade.
Também a partir dessa perspectiva, as nomeações de Roma e de Milão não marcam uma mudança de direção em relação ao passado recente, mas representam uma indicação para o futuro das duas dioceses.
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Nomeações episcopais em Roma e Milão: a indicação de um método - Instituto Humanitas Unisinos - IHU