11 Novembro 2016
O cardeal estadunidense Raymond Leo Burke, desde 2014, é patrono da Soberana Ordem Militar de Malta. No dia 26 de setembro de 2015, o Papa Francisco o nomeou membro da Congregação para as Causas dos Santos.
A reportagem é de Fabio Marchese Ragona, publicada no jornal Il Giornale, 10-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Cardeal, como o senhor lê o resultado das eleições estadunidenses com a vitória de Donald Trump?
Bem, eu acho que é um resultado expressivo de uma longa crise que o país enfrenta há diversos anos, com uma campanha eleitoral que aqueceu os ânimos e demonstrou a vontade de grande mudança procurada pelo povo estadunidense. Certamente, a crise influenciou muito no resultado. Agora, a esperança é de que os Estados Unidos, com este novo presidente, possam reencontrar um bom caminho a percorrer.
Na sua opinião, o resultado eleitoral foi influenciado apenas pela crise ou também pelo medo dos estadunidenses em relação ao terrorismo de matriz islâmica?
Seguramente, é um momento de grande medo não só para os Estados Unidos, mas também para todo o mundo. Sempre ouvimos as notícias que chegam e são dramáticas. Estou convencido de que esse resultado também tem um componente de medo de quem espera que as coisas agora possam se ajeitar.
O senhor acredita que Donald Trump vai levar em conta aqueles valores que são tão caros à Igreja Católica?
Pelo que eu ouvi na campanha eleitoral, parece-me que o novo presidente entende bem quais são os bens fundamentais e importantes para nós. Em primeiro lugar, estou convencido de que, como ele disse, ele trará no coração a defesa da vida humana desde a sua concepção e colocará em campo todas as ações possíveis para combater o aborto. E também acredito que ele tem muito claro o bem insubstituível da liberdade religiosa. Por fim, certamente, ele vai prestar atenção à saúde estadunidense, tema que, por enquanto, não vai muito bem nos Estados Unidos.
Se, de um lado, Trump também vai se ocupar dos temas caros à Igreja, de outro, no entanto, ele diz que quer construir um muro contra os imigrantes na fronteira com o México ("Será um muro impenetrável, alto, imponente e bonito. E o México é quem vai pagá-lo"), barreira que o Papa Francisco sempre criticou, dizendo: "É preciso construir pontes de paz e não muros de ódio"...
Eu não acho que o novo presidente se inspirará no ódio para o tratamento da questão da imigração, uma questão de prudência, que requer o conhecimento de quem são os imigrantes, das razões que os levam a emigrar e da capacidade das comunidades locais de acolhê-los. A caridade sempre deve ser inteligente e, por isso, formada por um profundo conhecimento da situação, tanto por parte de quem quer imigrar, quanto de quem deve receber essas pessoas.
Além disso, o grande medo é de que, no tema da política externa, Trump possa fazer alguma ação imprudente, tendo à disposição um infindável arsenal nuclear...
Eu não tenho medo disso. Acho que Donald Trump seguirá a longa tradição dos presidentes estadunidenses anteriores de cooperação e comunicação com as potências internacionais e duvido fortemente que ele possa fazer qualquer ação unilateral que ponha o mundo em perigo. Estou convencido de que ele vai debater com os outros países sobre os mais variados temas de política externa.
Quanto à Rússia, Trump disse que Putin poderá ser um bom parceiro na luta contra o terrorismo islâmico...
É verdade, ele disse isso. Esperamos que sempre haja boas relações entre os nossos dois países.
Portanto, qual é o seu desejo para o novo presidente dos Estados Unidos da América?
Espero que Trump possa seguir os princípios e os ditames de nossa Declaração de Independência e da Constituição, que seja certamente um bom presidente, que possa se ocupar com as divisões no país (de fato, ele disse a Clinton que é o momento de não se dividir) e que haja, portanto, a compreensão incondicional e também a união entre todos os cidadãos estadunidenses.
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"Como presidente, Trump vai defender os valores da Igreja." Entrevista com o cardeal Raymond Burke - Instituto Humanitas Unisinos - IHU