03 Setembro 2016
"Existe uma diferença antropológico-cultural, criada por milênios de marginalização das mulheres na esfera privada, mas que aperfeiçoou características certamente não desprezíveis, mas que, ao contrário, constituem um importante valor social e espiritual."
A opinião é da historiadora italiana Lucetta Scaraffia, membro do Comitê Italiano de Bioética e professora da Universidade de Roma "La Sapienza". O artigo foi publicado no caderno "Donne Chiesa Mondo" do jornal L'Osservatore Romano, 01-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Antes de abordar aquele que é um novo e urgente tema atual – ou seja, qual pode ser hoje o lugar da mulher na sociedade, na família, na Igreja – é necessário se perguntar em que consiste a especificidade feminina.
Nos últimos dois números do nosso caderno mensal, fizemos isso aprofundando a maternidade nas suas acepções sociais, não só biológicas, isto é, como capacidade de cuidado e como força de reconciliação.
Com este número, perguntamo-nos em que consiste a diferença feminina, realidade na qual nós acreditamos e que defendemos de ideologias que consideram que é possível obter a liberdade apenas negando toda diferença.
Existe uma diferença antropológico-cultural, criada por milênios de marginalização das mulheres na esfera privada, mas que aperfeiçoou características certamente não desprezíveis, mas que, ao contrário, constituem um importante valor social e espiritual.
A filósofa francesa Camille Froidevaux-Metterie propõe um feminismo que não apague essas especificidades, mas que, ao contrário, as valorize e as torne desejáveis e praticáveis também para a parte masculina da humanidade. Isto é, ela acha que as mulheres não devem percorrer o caminho da igualdade tornando-se "homens como os outros", mas que podem enriquecer as características femininas com as qualidades até agora consideradas masculinas, mas também se espera que o mesmo aconteça para os homens. Ou seja, ela vê a igualdade não como uma mutilação, mas como um enriquecimento.
A nova e radical leitura dos Evangelhos que é proposta por Maria dell'Orto reporta à origem da revolução das mulheres, isto é, à atitude que Jesus mostrou em relação a eles, às palavras que lhes dirigiu: uma imagem diante dos olhos de todos, mas que, por séculos, não se quis ver em sociedades fortemente patriarcais. Sociedades que, também do ponto de vista científico, sempre leram a diferença como uma confirmação da inferioridade feminina e que até tempos muito recentes pensaram também a medicina e a farmacologia apenas em função dos homens.
E pensar que, ainda no Antigo Testamento, no livro de Rute, uma genealogia no feminino inverteu séculos de poder patriarcal.
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A mulher existe? Artigo de Lucetta Scaraffia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU