02 Julho 2012
Annabella Rosenberg, responsável pelas questões ambientais e da saúde no trabalho da Confederação Sindical Internacional, acompanhou os processos da Rio+20 e faz a sua avaliação.
A reportagem é de Sophie Chapelle, publicada na revista Témoignage Chrétien, 29-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O que os sindicatos foram fazer no Rio? Não é exatamente ali que se esperaria encontrá-los...
Há 20 anos, a Agenda 21 (o plano de ação adotado no Rio de Janeiro em 1992 por 173 chefes de Estado) reconheceu o papel do movimento sindical no desenvolvimento sustentável. A ideia era a de que nós devíamos contribuir para transformar a produção no plano do progresso social assim como no da proteção ambiental. Essa conscientização cresceu enormemente dentro do movimento sindical. Como, por exemplo, assegurar uma proteção social na África ou no Caribe, e com quais fundos, se esses países são permanentemente atingidos por catástrofes e têm que enfrentar a urgência? Se não mudarmos o modelo de desenvolvimento que hoje leva a tantas desigualdades e destruições ambientais, não seremos capazes de chegar a um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Esperávamos da Rio+20 um certo número de iniciativas no âmbito dos financiamentos, em particular um imposto sobre as transações financeiras que permitisse financiar postos de trabalho verdes e decentes, além de uma base de proteção social para todos, mas a ausência de engajamento é impressionante.
Nenhum dos seus pedidos foi levado em consideração?
A declaração final do Rio reconhece conceitualmente um certo número das nossas demandas, mas nos deixa com um sentimento de frustração profunda com relação à sua capacidade de aplicá-las. Pedíamos uma estratégia para "postos de trabalho verdes" e sustentáveis, relativos tanto aos postos de trabalho criados no quadro da eficiência energética, quanto nos setores altamente poluidores que devem ser transformados profundamente para responder aos desafios ambientais. Essa transformação do mundo do trabalho será longa, daí a importância de reconhecer a noção de "transição justa", onde são criados novos postos de trabalho, assegurando ao mesmo tempo que os trabalhadores sejam acompanhados nos processos de mudança. No estado atual, a declaração do Rio não nos permite nenhuma implementação dessa transição.
Essa ausência de compromissos é um sinal da falta de vontade política?
A capitulação dos chefes de Estado frente a um texto acordado pelos diplomatas irritou fortemente os sindicatos. Por que esses chefes de Estado vieram para, no fim das contas, não ter a coragem de reabrir esse texto a fim de torná-lo mais ambicioso? Na nossa reunião de avaliação, um sindicalista resumiu a situação observando os tempos diferentes que regem as dimensões econômica, social e ambiental. O econômico é o tempo do crescimento e do imediato; o social é o médio prazo, o tempo do progresso ambiental e da redistribuição da riqueza; e o ambiental é um tempo longo, é o tempo do planeta. Mas essas três dimensões são tratadas separadamente na declaração final. Ainda não se conseguiu integrar esses três tempos em uma decisão. Uma coisa é certa: não se criam postos de trabalho em um planeta morto. E não seremos capazes de vencer a pobreza sem resolver a questão ambiental.
Esse tipo de reuniões de cúpula muitas vezes dá a impressão de que estamos parados, ou até mesmo que damos marcha à ré. Como você explica isso?
Chegamos ao fim da vontade dos Estados de se regularem internacionalmente. Já estamos atrás do mais mínimo dos denominadores comuns. Mas não há solução para o mundo senão uma solução multilateral. O que levou os Estados a se moverem rumo ao multilateralismo e a maiores regulações mundiais nos anos 1950 foi o medo de que o conflito voltasse. Hoje, esse perigo ainda existe. Os refugiados climáticos e as guerras pelos recursos naturais são uma realidade. É diante dessa constatação de violências possíveis que os Estados se encontram novamente à mesa de negociação. Nós também temos uma responsabilidade como movimentos sociais para nos organizarmos mais fortemente sobre as ideias que queremos promover entre nós mesmos. Os objetivos do desenvolvimento sustentável são uma porta aberta por onde podemos tentar nos mobilizar. A Confederação Sindical Internacional (1) representa hoje uma minoria dos trabalhadores. Os trabalhadores informais, os migrantes, as mulheres, os trabalhadores precários, todas essas pessoas não têm hoje uma chance para se filiar a um sindicato. E se não conseguirmos convencê-las a se organizar para melhorar as suas condições imediatas e para construir uma visão do futuro que seja muito mais positiva e portadora de esperança, não poderemos esperar vencer as nossas lutas em nível internacional.
Nota:
1 – A CSI representa 175 milhões de trabalhadores em 308 organizações nacionais presentes em 153 países.
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''É impossível vencer a pobreza sem resolver a questão ambiental'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU